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Ano de 2024: França ao ritmo da instabilidade política e da euforia olímpica
12/21/2024
Fazemos o resumo dos momentos que marcaram este ano em França. 2024 foi um ano em que os franceses assistiram à dissolução do Parlamento, a França acolheu os Jogos Olímpicos e Paralímpicos e tornou-se o único país do mundo a incluir o direito ao aborto na Constituição.
A 9 de Junho, dia das eleições europeias, o partido de extrema-direita francês, representado principalmente pela União Nacional, registou um crescimento expressivo, consolidando a sua posição e ganhando mais representação no Parlamento Europeu.
"Este escrutínio em sistema de listas é proporcional, valoriza sistematicamente a extrema-direita. Enquanto o sistema das legislativas é um escrutínio em duas voltas que exige uma maioria, isso não favorece efectivamente os partidos que têm representações muito fortes em certas partes do território, mas não a nível nacional. Portanto, esta situação [dos resultados das europeias] era previsível", descreve o docente em ciências políticas da Universidade de La Rochelle, Eric Monteiro
Os resultados das europeias levaram o Presidente francês a dissolver o Parlamento. Emmanuel Macron convocou eleições antecipadas, numa tentativa de resolver a crise política e as tensões internas.
Seguiu-se uma instabilidade política e a França mergulhou num período de incerteza, com protestos e tensões sociais. A falta de uma maioria estável no Parlamento conduziu o país a um impasse político e à dificuldade de o governo aprovar leis.
"A Constituição não prevê, de nenhuma forma, que se possa destituir um Presidente porque ele é impopular. A única solução será a demissão do Presidente porque o calendário judicial da líder da extrema-direita está em curso e que ela corre o risco de ser inelegível. Portanto, se o Presidente se demitisse amanhã, ela poderia ser candidata e seria provavelmente eleita. No contexto actual, daqui a seis meses, a Justiça terá dado primeiras respostas ao julgamento por desvio de dinheiro europeu da União Nacional. Ela tem essa necessidade de acelerar o processo para que a população tenha consciência que é necessário que o Presidente se demita. Mas ele já disse que não o faria", lembra o analista político.
Gisèle Pelicot, um símbolo da luta contra a violência sexual
No dia 2 de Setembro, Gisèle Pelicot chegou ao tribunal de Avignon anónima. Durante três meses e meio, o processo Mazan ganhou uma dimensão internacional e na quinta-feira,19 de Dezembro, Gisèle Pelicot saiu desse mesmo tribunal como um símbolo da luta contra a violência sexual.
Ex-marido de Pelicot foi condenado à pena máxima de 20 anos de cadeia, por violação agravada, bem como todos os outros 50 arguidos foram condenados. "Este processo foi extremamente difícil e neste momento penso nos meus três filhos, mas também nos meus netos porque eles representam o futuro. Foi por eles que enfrentei este combate", declarou Gisèle Pelicot à saída do tribunal de Avignon.
"O que é excepcional neste processo é a quantidade de homens que foram encontrados e acusado. Estes processos levantam a questão da responsabilidade de alguns homens e também sobre o consentimento", defende a advogada em Nice, Catarina Barros.
O sucesso dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024
Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024 foram um sucesso: Foram vendidos um recorde de 12 milhões de bilhetes. Alguns dos locais mais emblemáticos da capital francesa serviram de cenário para as provas, foi o caso da Torre Eiffel, do rio Sena ou ainda do palácio de Versalhes.
"Começamos com uma abertura que foi excepcional, que elevou o ambiente dos Jogos a um patamar alto. As pessoas aderiram desde a cerimónia", lembra Bruno Pereira, um dos 45 mil voluntários dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris.
Os Jogos Paralímpicos de Paris ficaram marcados pelo espírito de inclusão e superação, com a participação de milhares de atletas com deficiência. "Alguns voluntários foram convidados ao evento que o governo francês criou depois dos Jogos Paralímpícos em que todos desfilaram nos...
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Macau a meio caminho na transição plena para soberania chinesa
12/20/2024
Macau assinalava nesta sexta-feira metade do processo de transição de Portugal para a China, 25 anos, de um total de 50, no âmbito de uma região administrativa especial chinesa, como negociado entre Lisboa e Pequim.
E isto na semana em que uma lei foi votada em Macau contemplando o despedimento de funcionários públicos caso sejam tidos como desleais para com o território ou com a China.
Para fazer um diagnóstico falámos com Paulo Rêgo, director do semanário Plataforma.
Este admite haver pressões no território para que se adopte um registo que não belisque a China, à luz do que Pequim implementou na vizinha Hong Kong, após a repressão dos protestos pró democracia de 2019 e 2020, mas relativiza o peso da nova legislação.
Há um juramento e uma declaração de fidelidade à função pública, bem como hà em Portugal, ou como decorre dos próprios contratos de privada. Se um funcionário do Plataforma, do meu jornal, não for fiel ao meu projecto, eu despeço-o. E, portanto, é verdade que há e tem havido, nomeadamente nos anos do COVID e do pós COVID, um recrudescimento claro e visível do discurso securitário e do discurso patriótico.
Isso esteve ligado ao que aconteceu em Hong Kong, nomeadamente ?
Tudo o que aconteceu em Hong Kong teve uma consequência e efeitos directos do que passou a acontecer em Macau, nomeadamente no discurso securitário e naquilo que aqui hoje se repete em cada esquina que é "Macau, governado pelas suas gentes", desde que sejam patriotas e tenham amor à Pátria.
O Gabinete dos Assuntos para Macau e Hong Kong, em Pequim, já diz tudo no seu nome. O grupo de pessoas que toma decisões sobre as Regiões autónomas especiais toma decisões sobre as duas.
E, portanto, o que aconteceu em Macau, onde não há sentimento anti-nacionalista, onde não há protestos anti-Pequim, que é uma pequena cidade que vive completamente dependente de Pequim decidir que pode ter dinheiro. Não é porque se Pequim não deixar virem os jogadores para Macau, Macau vai à falência.
Portanto estamos no regime de "Um país, dois sistemas". Diz-me que, ao fim ao cabo, não havia problemas em Macau. Eu lembro-me, porém, que no passado chegou a haver protestos para assinalar a repressão em Tiananmen. Estes protestos agora já não existem !
Não há protestos de Tiananmen, eles foram proibidos com um parecer jurídico do presidente do Tribunal de última instância, que toma posse como chefe do Executivo. Como aquilo que aconteceu em Hong Kong com os deputados que foram proibidos de se candidatarem, não é?
Os chamados dissidentes ou independentistas, aqueles que a China decidiu que não cumpriam os critérios de amor à mãe pátria. Isso também aconteceu em Macau. Também houve deputados nas últimas eleições que foram proibidos de concorrer. Portanto, isso aconteceu. É uma mão dura de Pequim sobre qualquer movimento político dissidente ou contestatário. Mas a minha leitura enquanto jornalista e enquanto cidadão é que para aí. Eu convido qualquer ouvinte vosso a ir à www.Plataforma de Macau, ler os editoriais que eu escrevo sobre a China e sobre Macau, para perceberem que tem o mesmo tom e o mesmo grau de liberdade daqueles que você pode escrever sobre o presidente francês.
Não há uma censura óbvia e uma submissão a Pequim ?
Há uma pressão, uma pressão óbvia dos poderes nacionais para que toda a gente concorde com eles. Penso que em França também percebemos como é que isso se faz, não é? A questão é quando nós recebemos pressões, o que é que fazemos? Se resistirmos a elas e continuarmos a praticar jornalismo... O meu jornal tem dez anos, ainda cá está e 80% dos seus anunciantes são públicos. Portanto, não posso, eria desonesto da minha parte dizer que não é possível exercer a liberdade de opinião. Há pressões para que a nossa opinião seja concordante como o "mindset" nacional chinês, há !
Falou de Sam Hou Fai que tomou posse como novo líder do executivo macaense. Pelo menos a parte lusófona enfatiza o facto de, pela primeira vez, ser um chefe do executivo que...
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Conflito e reorganização geopolítica do Médio Oriente marcam 2024
12/19/2024
Após décadas de conflito mais ou menos activo, desde 7 de Outubro de 2023, data em que o Hamas levou a cabo uma série de ataques em Israel onde morreram 1.200 pessoas, que o Médio Oriente está em ebulição, com o conflito a alargar-se em 2024 para o Líbano, assim como o Irão e ainda a Síria.
Vitor Ramon Fernandes, Professor Auxiliar na Universidade Lusíada de Lisboa e professor adjunto da Sciences Po Aix en Provence, fala-nos deste momento de reconfiguração do Médio Oriente.
"2024 é um ano de reorganização e de mudança com contornos ainda pouco conhecidos daquilo que vai ser o panorama, digamos assim, genérico, do Médio Oriente, que já não estava estável, que tinha um conjunto de problemas importantes por resolver e alguns deles, porventura até insolúveis, mas que claramente agora toma uma nova dinâmica com a problemática síria, que ainda tem muita incerteza associada. Portanto, claramente é um ano de viragem e de instabilidade", disse o académico.
A generalização do conflito na região começou no início do ano, quando em Abril Israel atacou a embaixada do Irão em Damasco, matando diplomatas iranianos. Seguiram-se ataques de drones e falhanços sucessivos por parte de Israel para recuperar reféns, com cerca de 100 pessoas ainda estarem detidas pelo Hamas.
Em Setembro, num dos volte-faces mais espetaculares do conflito e já depois de fogo trocado com o Hezbollah no Líbano, Israel fez explodir uma rede de pagers que seriam como sistema de comunicação aos membros do Hezbollah, mostrando que apesar do falhanço para prevenir o ataque de 7 de Outubro de 2023, os serviços de inteligência israelitas continuam a tentar enfraquecer os seus inimigos.
Israel tem também apostado em decapitar estes movimentos, tendo matado em Julho o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, no Irão e alguns meses mais tarde, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. No entanto, estas mortes não são o fim destes movimentos.
Em Outubro, o Irão lançou um ataque de 200 drones contra Israel de forma a responder à morte do líder do Hezbollah e a uma possível ofensiva terrestre no Líbano. Um momento tenso, em que se chegou a temer uma guerra aberta entre Israel e Irão. Ainda por resolver, está a situação do nuclear iraniano, um ponto de tensão segundo Vitor Ramon Fernandes.
O capítulo mais recente desta transformação do Médio Oriente é o fim do regime de Bachar Al-Assad na Síria, uma consequência indirecta do conflito entre Israel e a Faixa de Gaza. No início do mês de Dezembro, uma ofensiva relâmpago de vários grupos de rebeldes sírios conseguiu acabar em poucos dias com este regime que já durava há mais de cinco décadas. Os sírios vivem agora entre a esperança do fim da ditadura e a apreensão entre os extratos mais moderados da sociedade sobre o futuro do país.
"Tenho uma posição bastante negativa e preocupada sobre a questão da Síria e com aquilo que está a acontecer com a queda do regime de Bashar al-Assad. Nós temos aqui, digamos, alguns vencedores mais evidentes. Eu diria que Israel, a Turquia e, de alguma forma, os Estados Unidos também na linha de frente. A situação veio trazer aqui um enfraquecimento, ou perdedores, que são claramente a Rússia, o Irão e o Hezbollah. Na Síria temos no momento uma situação muito complexa e confusa, porque nós temos basicamente três grandes grupos que são uma coligação que se opôs ao regime de Bashar Al Assad, o Hayat Tahrir al-Sham, que é um grupo basicamente sunita radical, que teve ligações ou que ainda tem Al-Qaida e cujo propósito de alguma forma, é da criação de um Estado Islâmico. Eu sei que o líder da coligação argumenta que se tornou um homem mais moderado, dialogante. Estamos para ver. Temos um segundo grande grupo que são as forças democráticas sírias. Estas forças basicamente são milícias curdas apoiados pelos Estados Unidos, enfim, que querem basicamente militar para a criação do Estado curdo. E temos um terceiro grupo que é e que tem alguma ligação ao PKK, que é um grupo considerado terrorista na Turquia. E temos...
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Câmaras térmicas, análises de ar e aspersores: o plano de segurança anti-incêndio em Notre Dame
12/10/2024
O incêndio na Catedral de Notre Dame, em Paris, escreveu um novo capítulo na prevenção e combate aos incêndios em locais históricos em França e no Mundo. Em entrevista à RFI, Alain Chevallier, o conselheiro de segurança de incêndio do Património no Ministério da Cultura francês, detalhou como se protege agora esta Igreja-mãe renascida das cinzas.
Mais de cinco anos depois, não se conhece a causa do incêndio da Catedral de Notre Dame. Isso, segundo o conselheiro de segurança de incêndio do Património no Ministério da Cultura francês, Alain Chevallier, é um assunto que pertence à justiça, já que o inquérito continua para apurar as causas e levar à barra dos tribunais os responsáveis. No entanto, coube a este antigo bombeiro de Paris e especialista no combate aos riscos de incêndio, assegurar que o que aconteceu em 2019 não se voltará a passar. E Alain Chevallier recorreu a todas as tecnicas desde câmaras térmicas a mecanismo de análises de ar para assegurar que Notre Dame não voltará a arder.
No início da entrevista a RFI perguntou a este especialista se havia novidades no inquérito judicial quanto às causa do incêncio de há cinco anos.
RFI: Sabemos o que aconteceu de certeza há cinco anos?
Alain Chevallier: Não é possível responder a esta pergunta porque está a decorrer uma investigação judicial, portanto não posso comentar sobre o inquérito. Mas mesmo com o Ministério Público a investigar, tivemos do nosso lado de efectuar uma análise de risco para podermos trabalhar na reconstrução da Catedral de forma a decidirmos quais os elementos estruturais que iríamos introduzir para reconstruir este edifício de forma idêntica e tivemos de partir de alguns dados adquiridos. Assim, trabalhámos com o INERIS, o Instituto Nacional de Ambiente Industrial e de Riscos, e baseámo-nos no cenário principal possível para o início do incêndio em Notre Dame: a possibilidade que tenha tido início no quadro electrico junto à estrutura em madeira no alto da Catedral. Não quer dizer que tenha sido isso que aconteceu, mas pareceu-nos ser o cenário mais provável e, por isso, a primeira medida foi retirar os quadros eléctricos de lá.
Mas sabemos onde começou o incêndio.
Sabemos que o incêndio começou perto do pináculo, mas depois disso, mais uma vez, cabe aos peritos judiciais investigar. No entanto para tomarmos decisões sobre o futuro da segurança incêndio da Catedral tivemos de assumir que o quadro eléctrico foi uma fonte de problemas.
Como é que se leva a cabo esta investigação e quais são as grandes dificuldades?
De acordo com a minha experiência, depois de tudo ter ardido, porque toda a secção superior da Catedral ardeu, é muito complicado provar como é que o incêndio teve realmente início. Dada a importância internacional deste incêndio e repercurssão que teve, torna-se ainda mais difícil provar onde é que ele iniciou. Não estou a ver como é que um juiz pode dizer alguma coisa sem ter provas materiais irrefutáveis.
Quais são as medidas tomadas para evitar um novo incêndio nesta Catedral renovada?
É preciso ter em conta que trabalhamos com vários riscos, uma situação que enfrento em todas as catedrais em que trabalho, uma vez que sou conselheiro de segurança do património e responsável por 45 catedrais em França, incluindo Notre Dame. Começamos sempre por aquilo a que chamamos o risco de eclosão, ou seja, o que podemos fazer para evitar o início de um incêndio. A primeira coisa que fizemos para evitar um incêndio foi remover todos os painéis eléctricos numa área que não é acessível, que não é de fácil acesso e que não recebe muitas visitas. Na melhor das hipóteses, eram necessários 5 a 10 minutos para chegar ao suposto local de um incêndio na estrutura do tecto de Neotre Dame. No entanto, isso não nos protege de erros humanos que possam ocorrer daqui a 30, 40 ou 50 anos durante um período em que haja obras na Catedral. Mas vamos assumir que, mesmo assim, sem painéis eléctricos, o fogo começa. Vamos então prevenir o risco de deflagração,...
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Terminou a “era de mais de 50 anos de família al-Assad no poder” na Síria
12/9/2024
A Síria vive um momento histórico com a queda de Bashar al-Assad, o homem que governou com mão de ferro durante 24 anos, depois de ter herdado o poder do pai, Hafez al-Assad, que tinha tomado o poder em 1970. O regime autocrático foi declarado oficialmente derrubado, após uma ofensiva das forças da oposição, que tomaram o controlo de Damasco nas primeiras horas de domingo. Ivo Sobral, coordenador de mestrado em Relações Internacionais na Universidade de Abu Dabi, falou-nos sobre os cenários em cima da mesa, as esperanças e os desafios do país perante o fim "de mais de 50 anos de família al-Assad no poder”.
RFI: A queda de Bashar al-Assad ocorreu menos de duas semanas depois do início da ofensiva da oposição. Ficou surpreendido? O que é que fez com que a sua queda acontecesse agora?
Ivo Sobral, coordenador de mestrado em Relações Internacionais na Universidade de Abu Dabi, nos Emirados Árabes Unidos: De facto, foi um avanço surpreendente, super rápido, que ninguém esperava. Movimentações militares nos últimos três, quatro dias, muitas pessoas de exércitos do Médio Oriente a deslocarem-se para a Jordânia, a deslocarem-se até para Israel para observarem o que é que estava a acontecer para fazer os relatórios de volta para os seus países. Toda a gente ficou surpreendida com esta rápida expansão das forças populares da Síria.
O que aconteceu foi que, de facto, o regime de Bashar al-Assad estava minado logisticamente por dentro, foi uma batalha de atrito, uma batalha que durou muitos anos e que parecia eterna, mas afinal não, porque os relatórios recentes falam de um exército ao lado de Bashar al-Assad muito fraco, muito debilitado, muito dependente de mercenários e de forças externas, como o próprio Hezbollah libanês que estava quase terminalmente enfraquecido com os ataques de Israel e também as forças do Irão, assim como as forças proxys iranianas que são originárias do Iraque.
Ou seja, de certa forma, foi a própria fragilização do Hezbollah e do Irão que teria levado a que isto pudesse acontecer agora?
Exactamente. É essa a parte decisiva desta mudança enorme no Médio Oriente. As forças russas eram à volta de mil soldados, no máximo, portanto, nada de transcendental, alguns meios aéreos, mas que não poderiam fazer absolutamente nada quanto a esta ofensiva que foi super rápida. O próprio exército de Bashar al Assad, apesar de ter à volta de 20.000 homens, pelo menos até Damasco, também não teria recebido nem sequer os seus salários nos últimos meses, havia falta crónica de munições, falta de comida para as forças de Bashar al-Assad, uma situação que estava já a descer bastante em termos de apoio para Bashar al-Assad. Ele já não era popular na Síria, o problema agora é que as suas próprias forças mais fiéis estavam já a abandonar as posições, como aconteceu em Homs, quase no início.
A queda de Bashar al Assad simboliza o quê? É o fim de uma era de opressão e de violência, mas também poderá ser o início de uma fase de incertezas? Qual é o principal cenário neste momento em cima da mesa?
É difícil falar de um cenário. Podemos falar de vários cenários. É uma era que se acaba, uma era de mais de 50 anos de família al-Assad no poder. A Síria dominou o Médio Oriente e foi um bastião de alguma estabilidade com mais de 50 anos e que agora desaparece. Quando desaparece qualquer coisa - isto não é de hoje, já vimos o que aconteceu no Iraque - um vácuo do poder transforma-se sempre numa situação extremamente perigosa. Isso é o apanágio de qualquer revolução, mas no Médio Oriente ainda é pior, em particular numa zona tão volátil como onde está a Síria e o Iraque. A Síria é particularmente complexa a situação porque temos não só os jogadores internacionais todos presentes, como existe uma multitude de forças internas da Síria, que tornam todos os cálculos cada vez mais difíceis.
O vazio de poder ocorre normalmente após a queda de regimes autoritários e pode ser explorado por grupos extremistas, como aconteceu no Iraque e na Líbia....
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Reconstrução de Notre Dame é "a obra mais importante da nossa vida"
12/6/2024
Chamam à reconstrução de Notre Dame de Paris a obra do século. Uma obra que demorou cinco anos e devolveu o esplendor a uma das catedrais mais emblemáticas do Mundo. Para este esforço de restauro contribuiu a CentralPose, uma empresa liderada pelo franco-português, Arthur Machado, que refez o adro deste monumento. Para este empresário, trata-se da obra da sua vida.
Este fim de semana, a Catedral de Notre Dame reabre ao público, após cinco anos de obras de fundo para recuperar este monumento histórico devastado por um incêndio em 2019. Mais de 2 mil pessoas trabalharam dia e noite para restaurar esta igreja emblemática, desde a estrutura de madeira onde se apoia o telhado ao pináculo, passando pela limpeza do órgão e dos vitrais até ao à reconstrução do adro.
A entrada da Catedral foi restaurada pela empresa CentralPose, dirigida pelo franco-português Arthur Machado. Com décadas de experiência no sector dos pavimentos, Arthur Machado disse em entrevista à RFI que esta foi a obra mais importante da sua vida.
"Foi um concurso público no qual participámos e que ganhámos. Somos uma das principais empresas em França de assentamento de paralelos e já temos algumas obras míticas, como a Praça da República, que tinha sido uma praça para nós muito importante. E agora vem Notre Dame, que é a do século XXI. Toda a gente que trabalhou nesta obra fica com ela gravada na memória para toda a sua vida", declarou este empresário das obras públicas em França.
A pedra utilizada no adro da Catedral veio da região da Borgonha e foram assentados cerca de 5 mil metros de pavimento, um projecto concebido também por um engenheiro português e calceteiros portugueses que trabalharam nesta obra cerca de um ano. De forma a trabalharem nesta obra e devido à presença de chumbo no antigo pavimento, os trabalhadores foram submetidos a regras restritas de trabalho, incluindo análises antes e depois desta empreitada.
Ao saber que participaria neste projecto de reconstrução após um incêndio "chocante", Arthur Machado já tinha a noção da importância deste projecto.
"Nós concorremos e tínhamos 90% de certeza que este projecto viria para a CentralPose porque temos referências, temos a capacidade humana e temos o saber fazer. Começámos a preparar-nos com engenheiro, calceteiros. E quando tivemos a confirmação, sabíamos que seria a obra mais importante que fizemos em toda a nossa vida", indicou.
Arthur Machado marcou presença há uma semana na cerimónia de inauguração e agradecimento do Presidente da República Emmanuel Macron a todas as empresas e trabalhadores que participaram na reconstrução e o empresário congratula-se que toda a gente que entre nesta Catedral tenha de passar pelo pavimento que ajudou a colocar.
"O sentimento quando se está agora na Catedral é de tranquilidade. E depois, claro, o sentimento de ver aquelas pessoas andarem por cima daquele chão que nós fizemos e toda a gente olhar. É maravilhoso. E eu acho que agora, no dia oito, que é a inauguração oficial oficial, teremos presidentes do Mundo inteiro que vão lá estar", concluiu.
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Investigadores publicam “Portugueses em França: uma imigração invisível?”
10/31/2024
Em Outubro, foi lançado, em França, o livro “Les Portugais en France: une immigration invisible?” [“Os Portugueses em França: uma imigração invisível?”], editado pelas investigadoras Sónia Ferreira e Irene dos Santos. A obra reúne estudos de vários especialistas da emigração portuguesa e questiona o conceito de “imigração invisível” associado à comunidade portuguesa em França.
RFI: Como descreve, em poucas palavras, a obra “Les Portugais en France: une immigration invisible?”
Sónia Ferreira, Co-editora da obra “Les Portugais en France: une immigration invisible?”. É uma obra académica que reúne um conjunto de capítulos que são feitos por investigadores na área da antropologia, da sociologia, da história, e que são investigadores que têm trabalhado ao longo das últimas décadas sobre esta questão da imigração portuguesa em França. Mas também é um livro que visa ir para além da comunidade académica, ou seja, é um livro que também gostaria de chegar a um público mais alargado, precisamente para não se centrar apenas na discussão interna académica, mas para suscitar conversas e discussões sobre a imigração portuguesa em França, que vá para além desses círculos mais restritos.
Por isso, é uma publicação que é feita através de uma editora que tem a divulgação também de obras com outro tipo de características, mas com uma parceria com uma instituição académica. Portanto, tem esta dupla pertença, digamos assim.
Uma das perguntas que está no título é “imigração invisível?”. O sociólogo português Albano Cordeiro foi pioneiro nesse conceito, creio eu. O que significa essa noção?
Albano Cordeiro - a quem nós, aliás, dedicámos o livro devido ao seu falecimento recente e que foi uma pessoa muito importante a pensar a temática da migração portuguesa em França e foi pioneiro em muitos dos seus trabalhos sobre essa temática - tinha esse conceito do “paratonnerre maghrébin”, essa ideia de que muitas vezes os migrantes portugueses eram vistos como os bons migrantes, por oposição, à migração pós-colonial francesa, nomeadamente à migração magrebina, e portanto, havia essa ideia dos portugueses como católicos, como brancos, que estariam ao abrigo de muitas discussões sobre as questões religiosas, sobre as questões de racialização, em França.
Nós questionamos um pouco essa ideia, tentando mostrar que ela não é verdadeira e, portanto, de alguma forma há processos de invisibilização, mas também não é isso que faz com que os portugueses não tenham também, por exemplo, sofrido de processos discriminatórios no seu processo de instalação em França.
Ou seja, afinal não é uma imigração invisível como até agora se tem sustentado?
É uma imigração invisível nalguns aspectos ou uma emigração que ficou nalguns aspectos da sociedade francesa invisibilizada, mas, como sabemos, é uma imigração que tem um papel de visibilidade e destaque em muitas áreas da sociedade francesa. Muitas vezes essa questão do visível e invisível tem a ver até com aspectos negativos ou menos agradáveis e, portanto, é isso que nós questionamos. Ou seja, há processos de invisibilização da imigração portuguesa, mas até que ponto eles não devem ser também discutidos e questionados? E que repercussões é que isso tem para os próprios portugueses em França?
Todos estes processos que levam ao seu posicionamento na sociedade francesa e, portanto, há que questionar a sociedade francesa como um todo e não apenas olhar para os portugueses como um grupo isolado, mas pensar os portugueses na sua interacção com os outros grupos imigrantes em França, desde os europeus que chegam muito antes dos portugueses, como é o caso dos espanhóis ou dos italianos ou dos polacos, etc, às migrações pós-coloniais em França, principalmente aquelas que se dão nos processos de descolonização, que é quando a maior vaga de portugueses chega a França a partir dos anos 70.
Esta noção de bons imigrantes, de mão-de-obra dócil e silenciosa, não contribuiu até hoje para a instrumentalização desta imigração portuguesa...
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Sensibilização da sociedade civil é essencial para travar declínio da biodiversidade
10/28/2024
No início do mês de Outubro, a WWF lançou um relatório em que dá conta de uma perda global de 73% da biodiversidade no Mundo, com a perda a ser ainda maior em África. A EcoAngola, uma organização não governamental, tenta travar este declínio de biodiversidade através de acções e projectos em que o foco é dirigido às populações e às autoridades.
Angola é o segundo país africano com maior número de bioregiões, 15, logo a seguir à África do Sul. Isto faz com que seja um dos países do Mundo com maior riqueza e diversidade de ambientes, com uma fauna e flora muito ricas que variam consoante as diferentes regiões. Esta riqueza natural está ameaçada como constata o relatório da WWF e faz com que a EcoAngola queira mais esforço por parte das autoridades para a conservação do meio-ambiente.
"Existe a necessidade de ter um esforço muito maior. Porque nós podemos ter algumas políticas, elas existem, mas precisamos de uma maior monitorização e capacitação pessoas que são responsáveis, por exemplo, pelos parques naturais de forma a exercerem o seu trabalho de protecção e conservação das espécies deste flora fauna", indicou Diana Lima, directora executiva da EcoAngola em entrevista à RFI.
Angola possui actualmente 14 parques nacionais, com 12,9% do território terrestre do país a ser protegido. A EcoAngola e outras organizações não governamentais ajudam no esforço de protecção, nomeadamente em articulação com o Instituto Nacional de Biodiversidade, de Conservação, mas vêm-se a braços com problemas como desflorestação, caça ou queimadas.
"Nós sabemos que um dos maiores problemas, tem a ver com a caça. Ao mesmo tempo, compreendemos que estas são as opções que existem para certas comunidades a nível económico, portanto as multas não chegam e sabemos que no terreno há uma uma cedência por parte de quem está a fazer esse controlo", explicou.
De forma a preservar as espécies, Angola precisa de maior incentivo à pesquisa científica - com Diana Lima a mencionar a descoberta de novas espécies de reptéis em certos parques naturais, mas também a própria organização administrativa do país que mudou recentemente e algo essencial é a sensibilização da sociedade civil.
"Acho que a primeira coisa a fazer para a conservação da biodiversidade seria sensibilizar a sociedade civil sobre a importância da biodiversidade. Para essa conservação, precisávamos de dados mais concretos da realidade da biodiversidade, para além de nós sabermos a realidade dos ecossistemas degradados", concluiu Diana Lima.
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Visita do Papa Francisco é "confirmação da independência" de Timor-Leste
9/11/2024
O Papa Francisco terminou hoje a visita a Timor-Leste, deixando palavras de encorajamento aos timorenses para manterem a sua liberdade e individualidade face a "crocodilos" que se querem apoderar da sua cultura. Timorenses viveram momento de "união" que vieram reforçar as celebrações dos 25 anos do referendo que levou à independência do país.
O Papa Francisco encerrou hoje a visita de três dias a Timor-Leste, mobilizando quase metade do país que o seguiu até à capital, Díli. Em entrevista à RFI, a a irmã Luciana, religiosa timorense da congregação Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus, considerou que não há palavras para definir estes últimos dias em Timor-Leste.
"Esta visita para mim foi enorme satisfação em termos de ser como irmã, como também timorense. Sinto uma alegria enorme em participar aqui. Eu já participei nas Jornadas Mundiais em Portugal, mas é diferente viver uma visita do Santo Padre aqui em Timor. Sentir que aqui é mais uma confirmação de que a minha fé e também a fé católica aqui em Timor. Precisamos sobretudo este apoio cada vez mais do nosso líder. Sentimos esta emoção que não dá para descrever, não dá para falar, não dá para contar com em palavras", indicou.
A visita do Papa Francisco teve início na segunda-feira com uma cerimónia de boas-vindas na Presidência timorense e encontros com as autoridades, na terça-feira realizo uma grande missa em Tasi Tolu perante quase metade da população do país e hoje encontrou-se com a juventude antes de partir para Singurapura, última paragem deste périplo aisático.
Esta visita decorreu poucos dias depois de Timor ter celebrado os 25 anos do referendo que levou à indendência do país e para a irmã Luciana esta visita veio coroar estas celebrações, reforçando a singularidade deste país onde 99,6% da população é católica.
"É um coroar e uma confirmação da própria identidade da nossa, que é cristã. Essa visita tão importante, para nós é a confirmação da nossa identidade timorense. Não só como nação. É sobretudo aquilo que o Papa Francisco falou de que a riqueza ou tesouro de uma sociedade não são as suas riquezas naturais. Digamos aqui em Timor, que é o caso do petróleo e gás natural e outras coisas, mas sobretudo o povo em si, o povo e as pessoas em si que vivem nesta nação. E para nós, sobretudo, é uma confirmação da independência", disse esta religiosa.
A irmã Luciana viveu ainda sob o domínio da Indonésia e lembrou o "medo" dos timorenses face às autoridades que os impediam de se exprimir em português e de manterem as suas tradições.
"Quando os indonésios estiveram cá, estávamos a viver debaixo do domínio dos indonésios e estávamos com medo. Eu ainda senti aquele medo em que expressava a nossa fé de uma forma muito tímida e também, sobretudo a palavra medo em si quase que cobre todo toda a religião católica. Aqui em Timor, quando viviam os indonésios, porque nós não podíamos rezar em português nem nada disso. Mas agora eu sinto essa liberdade de expressar a nossa fé de uma forma alegre e de uma forma convicta. Sentimo-nos unidos esses dias e eu estive fora de Timor durante 21 anos e sinto que Timor está muito avançado em termos de muitas coisas", concluiu.
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Jogos Paralímpicos em Paris bateram recordes desportivos, de audiências e de emoção
9/9/2024
A cerimónia de encerramento dos Jogos Paralímpicos 2024 colocou um ponto final dos Jogos de Paris 2024. Nesta emissão especial ouvimos os protagonistas, ou seja, os atletas paralímpicos, mas também a análise de Marco Martins, enviado especial da RFI que acompanhou tanto os Jogos Olímpicos como os Paralímpicos no último mês e meio, sobre as prestações dos atletas lusófonos e o que podemos esperar para o futuro do desporto paralímpico.
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Design “Made in Portugal” na rota da Semana do Design de Paris
9/5/2024
Em França, arrancou esta quinta-feira a Semana do Design de Paris que conta com uma exposição dedicada ao design português. Chama-se “Made in Portugal naturally” e é uma vitrina da produção artística do sector. Neste programa, visitamos a exposição com a curadora e arquitecta de interiores Margarida Moura Simão.
Há uma “casa portuguesa” na “Paris Design Week”, que arrancou a 5 de Setembro e decorre até dia 14. Nesta "casa", situada na Galerie Joseph, no bairro do Marais, há cerca de 60 peças que mostram o que é o design português de hoje, entre inovação e tradição, entre o clássico e o contemporâneo.
O “showroom” chama-se “Made in Portugal naturally” e foi concebido como um apartamento, por onde se deambula entre as peças expostas. A curadora é a arquitecta de interiores Margarida Moura Simão, que nos fez uma visita guiada pelas diferentes salas e obras, desenhando um “Portugal cosmopolita” que produz “um design autoral, irreverente e sofisticado”, com um “savoir-faire” que alia tradição e tecnologia. Na conversa que pode ouvir neste programa, fomos tentar perceber o que é que têm de tão “naturalmente” português as peças de mobiliário, de iluminação, de têxtil e outros objectos decorativos ali em destaque.
A Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) organizou a iniciativa para promover o design português, nomeadamente a qualidade do produto e do material, a sustentabilidade e o “savoir-faire” português, como explicou Mariana Vieira da Luz, gestora da fileira casa na AICEP.
O objectivo desta exposição é promover o design português e colocá-lo num patamar de relevância comparativo com grandes marcas e com a qualidade de outros grandes países nesta área do design de mobiliário, de iluminação, têxteis-lar e porque os nossos produtos têm muita qualidade. Nesta exposição temos cerca de 55 empresas e que foram todas escolhidas pela arquitecta Margarida Moura Simão e o que pretendemos promover é a qualidade do produto e do material que também é feito em Portugal, em conjunto com o design e a sustentabilidade. E daí vem o nome "Made in Portugal naturally" que faz justiça tanto à área da sustentabilidade que está muito em voga, mas também à parte do 'savoir-faire' português e da tradição.
De 5 a 9 de Setembro, o Parque de Exposições de Villepinte, nos arredores de Paris, também acolhe a feira internacional de mobiliário e decoração Maison&Objet, na qual Portugal também participa.
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Eurídice Zaituna Kala descontrói Nova Iorque em exposição em Paris
9/2/2024
A artista moçambicana Eurídice Zaituna Kala desconstrói a imagem de Nova Iorque e até do “sonho americano” numa exposição patente na Galeria Anne Barrault, em Paris. As fotografias montadas em estruturas de vidro e metal mostram ausências, desigualdades, relações de poder entre os homens e entre estes e a natureza. Eurídice Zaituna Kala mostra como a arquitectura é mais uma ferramenta de implementação de disparidades sociais e como a cidade vai tapando as camadas do seu próprio passado.
A exposição "En quelques gestes : as if two suns were setting", patente até 5 de Outubro, é constituída por obras realizadas durante uma residência em Nova Iorque e questiona o peso que a arquitectura urbana tem sobre a natureza e sobre as próprias pessoas.
“Quando propus um projecto de pesquisa para ir a Nova Iorque, era para olhar para a arquitectura. Para olhar como a arquitectura, de uma forma violenta, ocupa o espaço natural e cria uma sensação de betão (...) Eu queria desconstruir essa noção e, ao mesmo tempo, olhar para os arquivos: como é que a cidade foi ocupada na época pré-colonial, no pós-guerra, no pós-Segunda Guerra Mundial, que tipos de arquitectura chegaram. E como eu tenho, na materialidade do meu trabalho, materiais como o metal e o vidro, era claro que eu queria entrar também nessa noção de como esses materiais interagem com a cidade. Quais são as janelas que esses materiais criam? Quais são os ecrãs que eles criam? Como é que esses objectos obstruem a possibilidade de comunicar uns com os outros? Em Nova Iorque, tu passas em frente a um prédio e tens a sensação que não podes interagir com as pessoas que estão no interior. Quer dizer, a interioridade é completamente coberta, submersa, a partir desses materiais”, descreve a artista.
Continuando as suas pesquisas em torno dos arquivos, a artista moçambicana estudou as raízes da cidade, originalmente habitada pelo povo autóctone Lenapes e desenhada com várias colinas e rios, hoje substituídos por arranha-céus. “Havia uma natureza, uma fauna ou uma flora que esteve lá antes de uma colonização violenta que mudou completamente a topografia da cidade”, recorda. Por outro lado, ela interessou-se pela relação entre Nova Iorque e a água, um elemento que outrora dominava a paisagem e que passou a ser dominado pelas ambições arquitectónicas.
“Chegar a Nova Iorque e falar em água é quase impossível. Nós imaginamos sempre uma cidade de betão, tudo coberto, tudo numa submersão, socialmente falando, uma submersão humana, densa. Mas a história topográfica de Nova Iorque é completamente oposta a essas paisagens que nós temos do nosso imaginário. Nessa oposição, tem a água que foi coberta pela arquitectura num plano de urbanização do Robert Moses, que veio obstruir essas fontes de água que atravessavam Manhattan, Brooklyn, Bronx para criar espaços de construção”, acrescenta.
Eurídice Zaituna Kala também explorou o conceito da arquitectura contemporânea como “soft power”, em que os arranha-céus luxuosos olham de cima para os prédios sociais, os quais são reservados aos pobres e sujeitos à subida das águas durante as inundações.
“Isso foi também um dos contextos que me interessava muito compreender. Eu tive a oportunidade de subir ao andar 86 de uma torre e de viver essa experiência. Foi super estranho porque são espaços que são vendidos muito caros e que representam um contexto de arquitectura, mas, ao mesmo tempo, representam um contexto de consumo espacial, um contexto de movimento, de liquidez de espaço. Quis compreender o que quer dizer essa disparidade entre esses prédios que hoje em dia são vendidos muito caros e os prédios sociais porque Nova Iorque é uma cidade de prédios, sempre teve uma relação com a verticalidade. Os prédios sociais que foram construídos para as famílias menos ricas são também arranha-céus, mas criaram uma completa desconexão entre gerações de famílias que não puderam entrar em relação, que causaram questões sociais complexas, criminalidade, uso de drogas, etc,...
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Portugal com prata no ciclismo e decepção na canoagem
8/9/2024
Portugal teve ontem uma medalha muito esperada para o ciclismo, com prata para Iuri Leitão na prova de ciclismo de pista. Foi uma prova emocionante até ao final e Maroc Martins esteve presente no Velodrome de Saint Quentin d’Yvelines. Já hoje, na canoagem, João Ribeiro e Messias Baptista, na categoria de K2 500 de canoagem, tiveram uma decepção chegando em sexto lugar. Toda a actualidade dos Jogos Olímpicos com Marco Martins.
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Canoagem e triplo salto marcam jornada olímpica dos lusófonos em Paris
8/7/2024
Nos jogos Olímpicos de Paris, as provas sucedem-se. Na canoagem, três atletas lusofonos estiveram hoje na competição. Dois apuraram-se para as meias-finais, a portuguesa Teresa Portela e o português Fernando Pimenta, enquanto o angolano Benilson Sanda caiu para a final B. Já o triplo salto, com o atleta português Pedro Pichardo, está a causar polémica entre atletas cubanos. Oiça o resumo do dia olímpico com Marco Martins.
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França pode ir ao ouro no futebol, já medalha de bronze vai ser discutida entre África do Norte
8/6/2024
A França vai defrontar a Espanha na final olímpica de futebol. Já a medalha de bronze será disputada entre Marrocos e Egipto. Ainda hoje nos 400 metros barreiras, a portuguesa Fatoumata Diallo vai correr as semi-finais às 20h locais. Marco Martins, que está a acompanhar os Jogos Olímpicos em diferentes pontos de Paris e arredores, faz o resumo deste dia olímpico.
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David de Pina aspira chegar à final para lutar pela medalha de ouro
8/4/2024
Neste nono dia de competição dos Jogos Olímpicos de Paris, o pugilista cabo-verdiano, David de Pina, está nas meias-finais e procura a primeira medalhar para Cabo Verde.
O pugilista cabo-verdiano, David de Pina, está nas meias-finais e procura a primeira medalhar para Cabo Verde?
Marco: Cabo Verde já garantiu pelo menos uma medalha de bronze com David de Pina, mas o pugilista cabo-verdiano quer mais e tem pela frente o segundo cabeça de série, o atleta do Uzbequistão, Hasanboy Dusmatov. O encontro vai decorrer na Arena Norte, em Villepinte, no norte de Paris.
Nesta meia-final tudo é possível e resta saber em que metal vai ser a medalha, será bronze em caso de derrota, ou então prata ou ouro se David de Pina conseguir vencer o atleta do Uzbequistão.
Este domingo, 4 de Agosto, decorre a prova dos 158 quilómetros de bicicleta, feminino, em Paris, com muitas ruas cortadas na capital francesa. Temia-se o caos durante este Jogos olímpicos, mas esta primeira semana de provas olímpicas provou o contrário e em Paris "reina" uma calma pouco habitual.
Marco: Sim, muitos parisienses decidiram ir de férias, visto que foram as indicações dadas pelas autoridades francesas. O Estado francês pediu para que os parisienses fossem de férias se não quisessem viver no caos dos Jogos Olímpicos. Muitos optaram por ficar e aperceberam-se que depois da cerimónia de abertura, durante a qual houve muitas restrições, sobretudo perto do rio Sena, foram levantadas as restrições. Desde então, há zonas com mais controlo são as que se situam perto dos estádios, das arenas, onde decorrem competições. Mas à parte isso, a vida está mais ou menos tranquila para os parisienses. Eu até diria que por um lado há coisas melhores: os transportes estão melhores do que ao longo do ano. Por exemplo, ao sábado e o domingo, em que podia se esperar mais de dez minutos, desta vez não é o caso, visto que há competições em várias partes de Paris e basta esperar três, quatro ou cinco minutos no máximo para ter um transporte público. Algo inacreditável para uma cidade como Paris.
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David de Pina faz história em Paris e garante primeira medalha para Cabo Verde
8/3/2024
Ao sétimo dia de competição dos Jogos Olímpicos de Paris, Cabo Verde conquistou a primeira medalha olímpica. No boxe, os semi-finalistas asseguram uma medalha de bronze e David de Pina conquista a primeira medalha da história de Cabo Verde em Jogos Olímpicos.
Esta Sexta-feira, 2 de Agosto, foi um dia histórico para Cabo Verde que garantiu a primeira medalha olímpica?
Marco Martins: Ontem foi um dia histórico para Cabo Verde que se vai juntar a Moçambique como um dos únicos países da África lusófona a conseguir alcançar uma medalha. Por enquanto, Cabo Verde alcança no mínimo uma medalha de bronze, uma vez que na modalidade de boxe quando se alcançam as meias-finais garante-se uma medalha de bronze, um terceiro lugar.
David de Pina vai amanhã, 4 de Agosto, defrontar o seu adversário do Uzbequistão, Hasanboy Dumatov, nas meias-finais, se conseguir passar à final lutará pelo ouro ou prata e se perder para o atleta do Uzbequistão será então, no mínimo, a medalha de bronze. De qualquer modo, o que está a acontecer é histórico porque Cabo Verde nunca conseguiu alcançar uma medalha nos Jogos Olímpicos. A medalha será conquistada por David de Pina na categoria de -51 quilos.
A França também viveu um dia histórico, os franceses conquistaram nove medalhas num só dia. Léon Marchand na natação, Teddy Riner no Judo e Joris Daudet no BMX. Os três atletas conquistaram medalhas de ouro?
Sim, é verdade, foi também um dia histórico para a França. Léon Marchand conquistou a quarta medalha de ouro, algo que nunca nenhum atleta francês tinha alcançado; vencer vários títulos nos mesmos Jogos Olímpicos. Os franceses quase não conheciam o nome de Léon Marchand, hoje toda a gente fala dele porque é um atleta que está a pisar os calcanhares do norte-americano Michael Phelps, que conseguiu várias medalhas de ouro, 23 no total, veremos se Léon Marchand, 22 anos, se vai conseguir aproximar deste feito. O que é certo é que já tem quatro medalhas de ouro em quatro provas de natação nas quais participou.
Para o judoca Teddy Riner foi também um dia histórico, uma vez que soma três medalhas de ouro, uma de prata e outra de bronze, em cinco participações nos Jogos Olímpicos. O judoca francês vai competir este sábado na categoria equipas mistas para tentar arrecadar mais uma medalha com a selecção francesa, igual para Léon Marchand na natação, que ainda tem duas provas pela frente.
No BMX, para além do título alcançado pelo ciclista é sobretudo, o facto de a França ter conseguido algo inédito: primeiro, segundo e terceiro lugar na mesma prova. Algo que raramente foi visto nos Jogos Olímpicos e já há mais de 100 anos que não se via um tal facto. Pela primeira vez no BMX isso aconteceu com a França que viu quando houve a cerimónia protocolar se viu erguer três bandeiras francesas.
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Patrícia Sampaio conquista medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Paris
8/1/2024
A judoca portuguesa Patrícia Sampaio conquistou esta quinta-feira, 1 de Agosto, a medalha de bronze em -78 kg frente à japonesa Rika Takayama, na Arena Champ-de-Mars. Esta é a primeira medalha para Portugal nestes Jogos Olímpicos de Paris 2024 e a 29.ª medalha olímpica do desporto português.
RFI: Portugal soma uma primeira medalha destes Jogos Olímpicos de Paris e este dia passa a ser inesquecível para Patrícia Sampaio?
Marco Martins: Um dia incrível com a primeira medalha nestes Jogos Olímpicos em Paris para Patrícia Sampaio, que teve um percurso complicadíssimo, começou desde logo de manhã, pelas 10h00 frente a uma atleta queniana, conseguiu passar. Depois tinha a francesa Madeleine Malonga e em casa, a francesa acabou por perder frente à portuguesa.
Depois veio uma atleta chinesa, sempre fortíssimas, estas atletas asiáticas e também se conseguiu apurar se só apenas nas meias-finais e que foi parada pela italiana antes de vencer mais um encontro frente a japonesa para conseguir arrecadar esta primeira medalha de bronze. É a terceira medalha de bronze na modalidade para Portugal, mas a primeira nestes Jogos Olímpicos de 2024.
No andebol marca França venceu Angola por 38-24. A França jogou em casa e por isso foi um encontro mais difícil para as angolanas?
A França é a campeã olímpica em título. É claro que era um jogo complicado, mas a Angola ainda tem uma hipótese de passar esta primeira fase. Está no quarto lugar e frente ao Brasil, na última jornada, terá que vencer ou até pode empatar, mas sabemos que é complicado empatar no andebol, mas pelo menos uma vitória garante um lugar nos quartos-de-final para Angola, se conseguirem vencer a selecção brasileira, será um duelo 100% lusófono para um lugar nos quartos-de-final.
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E no quinto dia dos Jogos Olímpicos... os atletas nadaram no Sena
7/31/2024
Tiro, triatlo e natação marcam este quinto dia dos Jogos Olímpicos que fica para a história com mergulhos para o Sena e a possibilidade de um atleta, o nadador francês Léon Marchand, ganhar duas medalhas de ouro na mesma noite. Uma conversa com o enviado especial da RFI, Marco Martins, ao coração dos Jogos Olímpicos de Paris.
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Saiba o que se passou no quarto dia dos Jogos Olímpicos de Paris
7/30/2024
A judoca Clarisse Agbégnénou, bicampeã olímpica francesa e a estrela da ginástica norte-americana Simone Biles marcam o calendário desta terça-feira, 30 de Julho, mas também as angolanas no andebol feminino.
O repórter Marco Martins está a acompanhar as provas deste 4º dia dos Jogos Olímpicos de Paris. Quais são as provas em destaque desta terça-feira?
As atenções estiveram todas centradas na equipa de andebol feminino. Angola perdeu o primeiro jogo frente aos Países Baixos por apenas três golos, mas conseguiu vencer a Espanha por 26 a 21. Hoje à frente a Hungria e uma vitória poderia aproximar cada vez mais as angolanas do sonho de seguir em frente. Nesta prova é preciso terminar nos primeiros quarto lugares para seguir em frente e tentar chegar aos quartos-de-final dos Jogos Olímpicos. As atenções estiveram viradas para Angola, mas também para Portugal para dupla Nuno Borges Francisco Cabral, que no ténis de pares tentaram derrotar a dupla germânica para tentar chegar à terceira ronda do ténis. De referir que já houve más notícias para Portugal no Judo; Bárbara Timo e João Fernando foram eliminados na primeira ronda, enquanto no ténis de mesa Fu Yu foi eliminada na segunda ronda da vertente feminina. Diogo Ribeiro na natação também não foi além das séries do lado igualmente de Portugal.
Até esta terça-feira tinham sido atribuídas 137 medalhas olímpicas. Nos países lusófonos apenas o Brasil soma três medalhas: uma em skateboard e duas em Judo. O que está a acontecer aos nossos atletas da lusofonia?
Acho que neste momento há uma certa decepção, porque, por exemplo, no skateboard a Raissa Leal tinha boas hipóteses de conseguir ainda melhor, visto que há três anos atrás tinha alcançado a medalha de prata. Desta vez ficaram pela medalha de bronze. Até no Judo, as expectativas estavam mais altas. Por enquanto não se tem traduzido em medalhas de ouro.
Do lado de Portugal havia hipóteses com Catarina Costa no judo e Gustavo Ribeiro no Skateboard e os dois acabaram por falhar, por não conseguir chegar às finais e alcançar medalhas. Talvez seja a pressão, talvez seja o facto de este evento ser planetário e estarem apenas aqui os melhores de todas estas modalidades. O que é certo é que ainda há alguns dias para que a lusofonia, tanto o Brasil, Portugal e porque não os nossos países da África lusófona também alcancem alguma medalha? Como disseste o andebol será complicado, mas já vimos outras surpresas nestes jogos Olímpicos.
Até domingo, 11 de Agosto vão ser atribuídas 1 041 medalhas nos Jogos Olímpicos de Paris.
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