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Ciencia - A ciencia a dar cartas em lingua portuguesa

RFI

Uma vez por semana, os temas que marcam a actualidade científica são aqui descodificados.

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Paris, France

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RFI

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Language:

Portuguese


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5/6 Portugal quer posicionar Constelação do Atlântico como ferramenta estratégica

8/5/2025
A Constelação do Atlântico é um conceito estratégico de cooperação internacional na área espacial, inicialmente desenvolvido por Portugal e Espanha, que visa criar uma rede de satélites interoperáveis e híbridos, com capacidades para servir objectivos civis, científicos, ambientais, de defesa e segurança. Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, afirma que Portugal está a tentar posicionar a Constelação do Atlântico como uma ferramenta estratégica dentro da Europa. A Constelação do Atlântico é uma iniciativa de cooperação espacial- Portugal e Espanha- com liderança portuguesa, que pretende usar uma rede partilhada de satélites para responder a desafios de sustentabilidade, segurança e desenvolvimento económico, dentro e fora da Europa. Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, explica que a Constelação do Atlântico surgiu para dar resposta a necessidades de inteligência, segurança e defesa, num contexto de guerra na Ucrânia. “Fala-se muito da Constelação Atlântica, mas é importante perceber que, antes de mais, se trata de um conceito, não de um conjunto físico fechado de satélites. O nome surgiu porque, na sua génese, estavam dois países- Portugal e Espanha - que partilham o Atlântico. Isso não significa que os satélites estejam posicionados exclusivamente sobre o oceano. A constelação representa sobretudo uma ideia de interoperabilidade, dualidade e operação conjunta. A origem mais recente deste conceito prende-se com a guerra na Ucrânia e a necessidade urgente de resiliência europeia. Percebeu-se que havia falta de imagens e dados em tempo real para dar resposta a necessidades de inteligência, segurança e defesa. No entanto, a sua génese remonta a preocupações com a sustentabilidade dos territórios - e esse continua a ser um eixo fundamental. Os satélites servem tanto para gerir o território em termos ambientais e de recursos como para garantir segurança e soberania”. Ricardo Conde refere que Portugal está a tentar posicionar a Constelação do Atlântico como uma ferramenta estratégica dentro da Europa. "Hoje, Portugal está a tentar posicionar a Constelação Atlântica como uma ferramenta estratégica dentro da Europa. Apesar da colaboração com Espanha, o conceito tem uma matriz fortemente portuguesa. O objetivo é que esta constelação integre programas europeus, nomeadamente os que serão discutidos no próximo Conselho Ministerial da ESA”. A constelação do Atlântico está aberta a outros parceiros, como Angola, Brasil, Grécia ou Finlândia, numa lógica de expansão global. O presidente da Agência Espacial Portuguesa garante que o objectivo é criar uma federação de capacidades. Há também uma componente comercial e internacional em crescimento. A ambição é alargar a constelação a outros países - Angola, Brasil, Grécia, Finlândia, entre outros. Já existe um protocolo com Angola, e estão a decorrer conversações com outros parceiros. A ideia é criar uma federação de capacidades: cada país contribui com recursos e beneficia de um sistema mais amplo, respeitando sempre a autonomia de cada Estado. Ricardo Conde garante que há planos para futuros lançamentos sub-orbitais a partir da ilha de Santa Maria, nos Açores, porém prefere não adiantar datas. “Há planos para usar a ilha de Santa Maria, nos Açores, mas é importante ter expectativas realistas: só serão possíveis lançamentos de pequenos satélites, até 150 ou 200 kg. Dependerá da evolução dos lançadores e das tecnologias desenvolvidas. O objetivo é responder rapidamente com cargas pequenas - o chamado fast response. Ainda não há uma data exata. Foram pedidas licenças e estamos a poucas semanas de as emitir. Muito dependerá da capacidade de resposta da indústria. Há quem fale em voos orbitais em breve, mas parece mais sensato avançar por etapas (step by step), garantindo segurança e aprendendo com cada fase”. O presidente da Agência Espacial Portuguesa fala ainda dos recentes lançamentos falhados, reiterando que fazem parte do processo de...

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São Tomé e Príncipe pode ser primeiro país no Mundo a ter mosquito que visa erradicar a malária

7/31/2025
A Universidade da Califórnia Irving em parceria com o Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa e a Universidade de São Tomé e Príncipe têm vindo a estudar nos últimos anos a possibilidade de libertar um mosquito geneticamente modificado cujo organismo elimina a malária. Os estudos prévios estão quase concluídos e só falta agora as autoridades do país autorizarem a libertação deste mosquito na natureza para verificar a eficácia na erradicação do paludismo. Só em 2024 foram detectados mais de 263 milhões de casos de malária no Mundo que levaram a 597 mil mortes, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. Dessas mortes, estimam-se que 95% tenham acontecido em África o que torna a malária, uma doença sem vacina mas que pode ser tratada com os medicamentos adequados, uma das doenças mais preocupantes no continente. Os investigadores da Universidade da Califórnia Irving pensam ter descoberto uma solução, modificando geneticamente o mosquito Anopheles, que transmite a malária. O organismo deste insecto geneticamente modificado passa a eliminar sozinho o parasita que transmitido aos humanos causa o paludismo e essa característica torna-se um gene dominante, fazendo com que toda a população de mosquitos de um determinado local deixe de propagar esta doença. "Este mosquito é um mosquito em tudo idêntico ao mosquito que já existe aqui em São Tomé e Príncipe, mas com uma diferença notável: ele tem dois genes benéficos e sintéticos que são introduzidos no mosquito através de um mecanismo de engenharia genética que se designa por 'gene drive'. O 'gene drive' vai transportar os genes benéficos e integrá-los no genoma do mosquito com precisão, ou seja, nós sabemos exactamente onde é que ele vai ser integrado, mas o drive tem um papel dual, não só a integração dos genes benéficos dentro do mosquito, mas também à dispersão destes genes na população", explicou João Pinto, professor auxiliar e chefe da unidade de Entomologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa. João Pinto lidera as operações de campo nas ilhas de São Tomé e Príncipe, selando assim a parceria com a Universidade Nova de Lisboa e também a Universidade de São Tomé e Príncipe onde este projecto, que se chama UCMI - Universidade da Califórnia - Iniciativa Contra a Malária em STP, instalou um laboratório molecular e onde investigadores locais trabalham lado a lado com investigadores portugueses, norte-americanos e ainda outras nacionalidades. Antes de qualquer trabalho de campo, os investigadores levaram a cabo um estudo de forma a determinar onde se poderiam levar a cabo as primeiras experiências e foram analisados mais de 30 arquipélagos e ilhas, tendo a escolha final recaído em São Tomé e Príncipe devido à presença da malária, do mosquito Anopheles, mas também a própria dimensão das duas ilhas. Assim, desde 2021 que estão a ser levadas a cabo experiências laboratoriais no país e estudos preparatórios sem que ainda tenha havido qualquer libertação de mosquitos na natureza. Os estudos preparatórios terminam dentro de alguns meses e a equipa quer agora passar à fase de libertação na ilha do Príncipe, mas ainda precisa de luz verde das autoridades. "Até à data o UCMI não libertou nenhum mosquito modificado em São Tomé e Príncipe, nem sequer iniciou a sua produção. A primeira fase, que era precisamente uma fase que enquadrava três actividades principais as pesquisas científicas, a capacitação técnica de infraestruturas, de recursos humanos e o engajamento comunitário e das partes interessadas é uma fase que está em vias de conclusão. Dentro de alguns meses teremos essa fase já perfeitamente concluída e teremos que efectivamente passar para a segunda fase. Passar para a segunda fase carece de autorização de aprovação do Governo São Tomé e Príncipe. E é nisso que temos vindo a trabalhar e contamos ter uma resposta nos próximos meses sobre se de facto havemos de avançar ou não. Se avançarmos, teremos que...

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4/6 Santa Maria pode colocar Portugal no mapa das grandes infra-estruturas espaciais da Europa

7/29/2025
Na ilha de Santa Maria, nos Açores, está em marcha um projecto que poderá colocar Portugal no mapa das grandes infra-estruturas espaciais da Europa. Trata-se do desenvolvimento de um hub espacial com foco no retorno de veículos vindos do espaço. A iniciativa é liderada pela Agência Espacial Portuguesa e visa transformar a ilha açoriana no principal ponto europeu de regresso de missões espaciais. O projecto tem como peça central o Space Rider, veículo reutilizável europeu que será lançado a partir da Guiana Francesa e cujo regresso à Terra está previsto para ocorrer em Santa Maria em 2027. Segundo Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, o objectivo não é apenas acompanhar a nova corrida espacial, mas colocar Portugal na linha da frente de um paradigma que valoriza cada vez mais a reutilização de tecnologia e a redução de custos operacionais. "Uma economia espacial sustentável baseia-se nos custos de acesso ao espaço. Se o custo for baixo, a economia eleva-se”, explicou Ricardo Conde, sublinhando a importância do retorno como parte essencial da cadeia de valor espacial. Ao contrário da abordagem tradicional, centrada nos lançamentos, o foco em Santa Maria será, sobretudo, o regresso: “Não queremos só lançar. Queremos recuperar. O retorno, do meu ponto de vista, é o mais importante aqui. Porque não há alternativas a nível europeu.” O conceito é claro: criar em Santa Maria não apenas um porto espacial, mas um verdadeiro ponto de acesso e retorno. Esta abordagem distingue-se de outras infra-estruturas europeias pela sua agilidade e versatilidade, essenciais para responder às novas exigências do sector, nomeadamente a chamada resposta rápida ao espaço. Neste contexto, pequenos lançadores terão um papel relevante, permitindo colocar satélites ou sondas em órbita num prazo de dias, algo particularmente útil para fins militares, de monitorização ambiental ou em situações de emergência. Actualmente, a cadência de lançamentos na Europa é limitada. O novo lançador Ariane 6 poderá realizar no máximo nove voos por ano, contrastando com os quase 200 lançamentos anuais da SpaceX. “Se quiser lançar [um satélite] na Europa, tem de esperar. E quando precisamos de uma resposta rápida, essa espera torna-se um problema. É aqui que iniciativas como a de Santa Maria ganham valor estratégico”, referiu Ricardo Conde. O ecossistema espacial açoriano será composto por várias infra-estruturas. No antigo kartódromo da ilha, cedido pela Câmara Municipal, será erguido o Centro Tecnológico Espacial de Santa Maria, onde se instalarão hangares com câmaras limpas e sistemas de integração. Este centro será a espinha dorsal das operações de preparação e manutenção dos veículos espaciais. Junto ao aeroporto será construído o local de aterragem do Space Rider, uma área circular com 500 metros de raio, concebida especificamente para acolher o retorno seguro do veículo reutilizável. Além disso, no teleporto de Santa Maria, será instalada uma nova antena, já em fase de concurso, destinada a garantir as condições de segurança durante as operações de lançamento e regresso. Todavia, as obras estão atrasadas. “Estamos neste momento com cinco meses de atraso”, admitiu Ricardo Conde, que acrescenta que o financiamento e os quadros de investimento ainda estão em fase de preparação. O objectivo, no entanto, mantém-se inalterado: fazer de Portugal o primeiro e único ponto de retorno de veículos espaciais na Europa, complementando assim a oferta europeia de acesso ao espaço com uma valência estratégica até agora inexistente. O regresso do Space Rider em 2027 poderá marcar um momento histórico para a presença portuguesa no espaço e consolidar Santa Maria como uma plataforma europeia de referência no sector aeroespacial.

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À descoberta da startup moçambicana que transforma lixo em “carvão 100% ecológico”

7/28/2025
Neste programa Ciência, vamos conhecer a startup moçambicana Biomotta que transforma lixo em carvão. O seu fundador é Michaque Mota, especialista em biocombustíveis, energias renováveis e acção climática. A startup vai representar Moçambique no concurso Climate Launchpad que distingue projectos de negócio ecológicos. A final africana é a 30 e 31 de Agosto, em Marrocos, e a final global é em Outubro, em Viena, na Áustria. RFI: O que representa para a Biomotta ser uma das startups premiadas no concurso Climate Launchpad em Moçambique? Michaque Mota, fundador da Biomotta: “É um marco histórico e bastante significativo para a Biomotta poder ser distinguida no primeiro lugar na fase nacional, o que valida aquilo que é a nossa proposta de solução, o nosso modelo de negócio. Esse reconhecimento é bastante crucial, nos motiva e nos faz sonhar e acreditar que é possível desenvolver iniciativas sustentáveis e causar impacto positivo no campo social, económico e ambiental.” Que perspectivas tem relativamente à final continental e à final mundial? “A expectativa é mesmo ser distinguido, mais uma vez, nesta fase regional, na qual iniciámos o trabalho. Estamos bastante engajados e confiantes e será bastante importante passar desta fase e, obviamente, representar Moçambique. É tão especial, é bastante especial e a expectativa é mesmo passar desta fase e fazer parte das outras startups que serão distinguidas nesta fase regional.” O que é a Biomotta e em que consiste o projecto? “A Biomotta é uma startup 100% moçambicana e inovadora, dedicada à conversão sustentável da biomassa local, biomassa essa que deriva de resíduos agrícolas, sólidos urbanos e dos materiais orgânicos biodegradáveis em biocombustíveis renováveis, acessíveis, seguros e fiáveis. Oferecemos também soluções energéticas sustentáveis, cujo produto principal é a energia derivada de biomassa sob forma de briquetes ecológicos ou carvão ecológico, biogás, concebidos como alternativas limpas e eficientes à lenha e ao carvão convencional ou vegetal. Além disso, também geramos produtos valiosos, como os biofertilizantes e pesticidas naturais e, com isso, promovemos agricultura sustentável local. Neste exacto momento, temos uma capacidade de produção de dez toneladas por dia dos briquetes ou do carvão 100% ecológico, o que responde à crescente procura por soluções energéticas renováveis, impulsionando a transição energética em Moçambique, uma vez que o governo promove a diversificação da matriz energética e também procuramos adoptar um modelo de economia circular que garanta o aproveitamento máximo dos recursos locais agro-energéticos, promovendo a sustentabilidade ambiental e económica. Além do impacto ambiental, a Biomotta promove programas de resiliência comunitária para enfrentar as mudanças climáticas, fomentando adaptação sustentável e o desenvolvimento social e económico, com foco na inclusão de mulheres, jovens e pessoas com deficiência.” Falou em “carvão 100% ecológico”. Até que ponto se pode falar de carvão ecológico quando o carvão polui? “É interessante esta abordagem. O carvão ecológico resulta de um processo de conversão que toma três processos fundamentais. O primeiro processo fundamental é mesmo o abastecimento e o fornecimento da biomassa local. Nós temos valorizado, sob o ponto de vista energético, alguns materiais que são gerados potencialmente a nível local. Estamos a falar de bagaço de cana, casca de coco, casca de arroz, amendoim, palha de milho, entre outros materiais que assumem essas características energéticas. São fontes alternativas de energia onde nós carbunizamos, numa primeira fase. Esse conceito de carbonização nos ajuda na remoção das emissões ou das partículas nocivas, o que ainda é um desafio para os ambientes domésticos no contexto moçambicano. De seguida, associa-se a um adesivo ou um aglutinante, um material que terá essa capacidade para unir os elementos constituintes desta biomassa e com a ajuda de uma tecnologia a que chamamos de...

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3/6 "Europa afirma-se potência espacial após os efeitos da guerra na Ucrânia”

7/22/2025
Cinquenta anos depois da criação da Agência Espacial Europeia, o velho continente continua sem autonomia no corpo de astronautas e a presença na Estação Espacial Internacional ainda é assegurada pelos Estados Unidos. Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, considera que apesar dos desafios existentes, a Europa começa a afirmar-se como potência espacial, sobretudo após os efeitos da guerra na Ucrânia. Na corrida ao espaço, apenas os mais fortes conseguem lançar, operar e manter a presença. Nesta lista surgem as tradicionais potências espaciais: Estados Unidos, China, Rússia e a Índia , com o Brasil, Israel e a França a serem considerados nações espaciais, depois surgem os Estados emergentes, explica Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa. “Os Estados classificam-se como potências espaciais - space powers. Temos os Estados Unidos, a China, a Rússia - que caminha agora para uma vertente mais militar do seu programa espacial - e a Índia, que está a afirmar-se cada vez mais como potência espacial. Depois, temos as space nations, como o Brasil, Israel e a França, por exemplo. E ainda os emerging states-onde se inclui Portugal e outros pequenos países que querem ter uma palavra a dizer no espaço. O que faz a diferença entre estes grupos é a relação entre capacidade e autonomia. Os que têm ambas são os mais fortes. Basta ver os Estados Unidos, a China, a Rússia e a Índia que têm capacidades próprias de lançamento, navegação e presença no espaço. Outros países são muito mais dependentes”. Cinquenta anos depois da criação da Agência Espacial Europeia, o velho continente não tem autonomia no corpo de astronautas e a presença na Estação Espacial Internacional ainda é assegurada pelos Estados Unidos reconhece o presidente da Agência Espacial Portuguesa, acrescentado que a guerra na Ucrânia obrigou a mudanças. “A Europa não é um país - é um conjunto de vontades políticas, e isso traz fragmentação. No entanto, já podemos dizer que a Europa é hoje uma potência espacial. Isso resulta de um processo de aprendizagem, em grande parte acelerado pela guerra na Ucrânia. Lembro-me dos Conselhos Ministeriais da ESA em que se decidiu cortar laços com a Rússia. A partir daí, percebemos o que hoje se chama “resiliência”. Ficámos cerca de dois anos sem acesso ao espaço, e isso foi um choque. Mas recuperámos essa capacidade, com o desenvolvimento do Ariane 6, por exemplo. Apesar disso, é um facto: a Europa ainda não tem capacidade para colocar humanos em órbita. Por isso, na nova estratégia da ESA para 2040, discute-se a modificação dos lançadores - como o Ariane 62 e 64 - para permitir voos tripulados. Sem isso, a Europa não terá uma voz relevante na economia espacial. Estamos a falar, por exemplo, de programas como o Argonaut, que representa o regresso à economia lunar. Para isso, os lançadores são fundamentais - são o pilar da presença autónoma no espaço. E a Europa tem de fazer essa evolução” .Para cumprir os novos objectivos, a ESA e os seus Estados-Membros precisam duplicar os orçamentos actuais, defende o presidente da Agência Espacial Portuguesa. “O aumento será progressivo, feito “a peditório”, como se costuma dizer, ao longo dos próximos Conselhos [o próximo realiza-se em Outubro] A ESA apresenta os programas, e os Estados subscrevem. O que é preciso é consciência política: se os países europeus querem ter uma palavra no espaço, têm de duplicar os seus orçamentos. A pergunta que se impõe: estarão os governos preparados para isso? A conjuntura mundial - com o cruzamento entre defesa e espaço - pode levar a um maior investimento. E isso vai acontecer. Mas há que distinguir duas coisas: Investir em ferramentas espaciais - satélites para comunicações (incluindo quânticas), observação da Terra, navegação, posicionamento e tempo. Construir uma verdadeira economia espacial - com presença em órbita, na Lua, e até noutros corpos celestes” .Ricardo Conde sublinha que a chave está em tratar o espaço não só como...

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2/6 Lixo espacial: Da ecologia espacial à soberania e segurança internacional

7/15/2025
O lixo espacial deixou de ser apenas um problema técnico e transformou-se numa questão de soberania e segurança internacional. Quem o diz é Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, numa entrevista à RFI realizada em Santa Maria, nos Açores, onde alertou também para os riscos associados à proliferação de satélites e detritos no espaço. Mais do que uma preocupação ambiental, o tema do lixo espacial é hoje tratado como uma necessidade operacional para garantir o funcionamento seguro dos sistemas em órbita. A proliferação de satélites levanta questões geopolíticas, militares e de cibersegurança que ultrapassam a simples gestão de tráfego espacial. Hoje o lixo espacial não é olhado de uma forma de preocupação genuinamente ambiental, a tal chamada ecologia espacial, é mais uma questão de necessidade. Ou seja, tenho que ter isto limpo para ter condições de operação, caso contrário tenho problemas de operação. Levanta-se a questão das ameaças e daquilo que é a soberania. A faixa entre os 500 e os 17.000 quilómetros de altitude - onde circulam satélites de comunicações, navegação e observação - encontra-se cada vez mais saturada. Constelações como a Starlink ou a Kuiper prevêem o lançamento de dezenas de milhares de novos satélites, aumentando os riscos de colisões em cadeia e dificultando a gestão do tráfego orbital. Já há sinais de coordenação internacional, mas o desafio permanece. “Começam a aparecer empresas - nós temos algumas aqui em Portugal, pelo menos duas - a providenciar serviços de evitar colisões, gerar alertas de proximidade.” Mas os riscos vão além das colisões. Para Ricardo Conde, o espaço está a tornar-se um domínio estratégico sensível, e os satélites podem ser considerados alvos em caso de conflito. A questão das ameaças e daquilo que é a soberania. Vamos imaginar que, por alguma razão e no contexto hoje da guerra na Europa, acontece alguma coisa a um satélite de comunicações. Isso é considerado uma ameaça. É considerado uma ameaça como se fosse uma infra-estrutura de telecomunicações aqui dos nossos operadores. O exemplo da guerra da Ucrânia, em que a rede Starlink foi usada como infra-estrutura militar, mostra como a distinção entre alvos civis e militares está a desaparecer. “O Starlink, a Viasat, foram cruciais e são cruciais na guerra da Ucrânia. Ou seja, significa que a capacidade privada está ao serviço da guerra.” Com o aumento do número de satélites e das capacidades tecnológicas de alguns Estados, o risco de manobras hostis é real. “Há neste momento um conjunto de satélites, que são braços robóticos, a desviar satélites. Já existe essa monitorização. Há um conjunto de satélites chineses que estão na cintura orbital, a 36.000 km, e há monitorização de manobras. Para quê? Para desviar, para fazer hacking, para interferir.” Os perigos de colisão em órbita são sérios e as consequências imprevisíveis. “Com a proliferação de detritos, a ameaça, na realidade, multiplica-se. Imagine o que é estarmos numa cintura orbital — e vai ser esse o padrão a partir de 2030 — com muitas estações internacionais e o lixo espacial a passar com velocidades e quantidades de movimentos enormes que são destrutivas. (...) É uma ameaça não só para a integridade da permanência no espaço, mas também para a destruição de outros alvos e destruição de outros satélites.” A resposta europeia a esta nova realidade é lenta e limitada, não por falta de normas, mas por falta de capacidade de fazer cumprir o direito internacional. “O problema não é a legislação, mas o cumprimento do direito internacional.” A ausência de regras claras e eficazes ameaça transformar o espaço numa nova “selva”. “Toda a gente tem [necessidade de coordenação]. Porque vai-se confrontar com uma selva.” Para Ricardo Conde, há duas motivações por detrás da nova corrida espacial. “A primeira é a extensão geopolítica do território. Não há nenhum sítio no mundo por descobrir. Ora, como não há sítios [novos] para descobrir, o que é que fazem as...

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“ESA dá um passo estratégico ao alargar o âmbito para aplicações de segurança”

7/1/2025
A agência Espacial Europeia-ESA- assinala este ano 50 anos de existência. Desde a sua criação, a ESA uniu países europeus que partilhavam, em comum, a visão de explorar o espaço como um avanço conjunto para o conhecimento e o progresso, tornando-se um dos pilares da autonomia estratégica da Europa. Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa recorda que a ESA nasceu, inicialmente, com uma vertente científica, mas “em 2023, a ESA deu um passo estratégico ao alargar o seu âmbito para aplicações práticas e de segurança”. A Agência Espacial Europeia – ESA- nasceu há 50 anos, numa tentativa de unir esforços dos europeus, que não tinham capacidade para ter um programa espacial, face à corrida espacial EUA–URSS. Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa refere que a ESA nasceu, inicialmente, com uma vertente científica, sublinhando que Portugal só integra esta corrida 25 anos mais tarde. “Estamos nisto há 25 anos, Falta-nos aqui uma história de 25 anos. Mas essa história dos 25 anos foi, de certa forma, a resposta da Europa à corrida espacial entre os Estados Unidos e a Rússia. Todos nos lembramos da Guerra Fria e do que motivou a primeira corrida espacial. A Europa, como ainda é hoje um conjunto de boas vontades - às vezes também de falta delas - na altura não tinha dimensão. Cada país, individualmente, não tinha capacidade para ter um programa espacial com estrutura e escala que competisse com os dois blocos. Foi graças a pessoas com uma visão estratégica absolutamente brilhante que se pensou: ‘Porque não unimos esforços?’ E assim nasceu a agência, a Agência Espacial Europeia. Mas, inicialmente, nasceu com uma vertente científica. E isso é extremamente importante, porque nos traz até aos dias de hoje”. Ricardo Conde recorda que ao longo da história a Agência Espacial Europeia foi-se adaptando às novas exigências e recentemente alargou o domínio às aplicações práticas e também da segurança. “Foram aderindo novos Estados-Membros, hoje são 23. Mas, em Dezembro do ano passado, assistimos a algo inédito. Eu, particularmente, achava que poderia acontecer, mas muito aos poucos. O status quo em muitos países, por vezes conservador, não permitia imaginar que a ESA pudesse evoluir para algo mais abrangente. E, no entanto, isso aconteceu - alargou-se o seu escopo. Hoje já se discute abertamente a entrada em domínios como o das aplicações práticas e também o da segurança e defesa. Eu não diria ‘militar’. Essa é quase uma palavra proibida. Mas falamos de segurança e resiliência. ‘Defesa’, traduzido em miúdos, pode ser parecido, mas tem outro peso histórico. O que importa é que, neste momento, a ESA se prepara - e Portugal também - para olhar para a sua acção num domínio mais aberto. Não apenas científico, mas com a ciência como espinha dorsal. A ESA continua a ter programas científicos, com conquistas extraordinárias e únicas a nível internacional”. Portugal aderiu formalmente à ESA em 2000, o investimento nacional permitiu o desenvolvimento de competências de infraestrutura espacial, nota o presidente da Agência Espacial Portuguesa. “Hoje, Portugal tem capacidades interessantes. A ESA beneficia do que Portugal investiu e que foi retornando. Temos cerca de 80 entidades - entre empresas, centros de investigação e universidades - a actuar neste sector. Eu diria que 95% ou mais gira em torno da ESA. Ou seja, a ESA foi absolutamente fundamental. Em 2012, praticamente não havia projectos. Nessa altura, foi criada uma task force em Portugal com o objectivo de procurar qualquer projecto - qualquer coisa ligada ao espaço era válida. Não importava se era complexo ou mesmo se era útil - o que interessava era alavancar capacidades e motivação. Havia de tudo: projectos impressionantes e outros totalmente dispensáveis”. Mas o importante é que se investiu, e houve retorno. Hoje temos empresas de nicho com uma capacidade fantástica. Fornecemos para as cadeias de valor dos grandes programas espaciais europeus. A nossa...

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Parque Nacional de Maputo elegível ao estatuto de Património Mundial da UNESCO

6/24/2025
Dentro de alguns dias, de 6 a 16 de Julho, a UNESCO realiza aqui em Paris a sua 47.ª sessão, no âmbito da qual vai examinar as candidaturas ao estatuto de Património Mundial da Humanidade de cinco áreas naturais espalhadas pelo mundo fora, duas das quais situadas na África Lusófona, ou seja os Ecossistemas Costeiros e Marinhos do Arquipélago dos Bijagós da Guiné-Bissau, e o Parque Nacional de Maputo, uma reserva natural situada a cerca de 80 quilómetros a sul da capital de Moçambique. A RFI esteve recentemente nesta reserva natural considerada como sendo um dos 14 sítios mais importantes do mundo em termos de biodiversidade. Com uma superfície de um pouco mais de 1.700 quilómetros quadrados, este parque resulta da reunião em 2021 de duas áreas protegidas contíguas, a Reserva Especial de Maputo e a Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro. A sua história é contudo mais antiga e remonta a 1932, quando a zona era uma área de caça antes de a sua biodiversidade passar a ser oficialmente valorizada e reconhecida em 1969, como nos conta o administrador do Parque, o biólogo Miguel Gonçalves. RFI : Como e quando começa a história do Parque Nacional de Maputo? Miguel Gonçalves : Começa basicamente em 1932, com uma pequena área de caça, então uma espécie de coutada. Depois de 1960, essencialmente por causa do declínio da população de elefantes que existia nesta zona e até porque se acreditava que eram uma subespécie de elefantes, porque viviam muito junto à costa, mas essencialmente pelo declínio, criou-se a Reserva dos Elefantes de Maputo. Já em 1969, com o reconhecimento e o melhor conhecimento da área, o reconhecimento do valor da biodiversidade na área, foi categorizada para Reserva Especial de Maputo e aí tinha o objectivo de proteger toda a reserva, fauna e flora existente na Reserva Especial de Maputo. Depois veio a independência. Em 1985, houve processos que atrasaram alguns procedimentos. Entretanto, o Governo Moçambique assinou um acordo de apoio com uma organização chamada ‘Parks Foundation’, que tem um foco muito grande no estabelecimento de áreas de conservação transfronteiras. São países ligados por áreas de conservação e esse apoio resulta em 2009, na criação da então Reserva Marinha Parcial da Ponta de Ouro. Ficamos ligados a esse parque na África do Sul, sendo essa a primeira área de conservação transfronteiriça marinha no continente africano. Depois, em 2011, agregamos à então Reserva Especial de Maputo aquilo que chamamos o corredor do Futi para ficar ligado ao Parque dos Elefantes de Tembe na África do Sul. Em 2021, por várias questões económicas, de gestão, de efectividade, unimos a Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro e a Reserva Especial de Maputo, num único Parque Nacional de Maputo, que é a categoria mais elevada de conservação possível na nossa Lei de Conservação, para a nossa candidatura a Património Mundial. RFI : Qual é a particularidade dessa área em termos de biodiversidade? Miguel Gonçalves : Nós estamos entre os 14 sítios mais importantes do mundo, em termos de biodiversidade. Nós fazemos parte da área que é chamada ‘’Maputaland’. É enorme. Estamos a falar de um sistema terrestre com planícies, planícies pantanosas, florestas, lagos, rios, o oceano e a baía de Maputo. Tudo isto traz consigo todos estes grandes sistemas, chamemos-lhe assim. Possivelmente não é o nome mais correcto. Traz toda uma biodiversidade associada. Temos estado com alguma regularidade em encontrar espécies novas. RFI : Que espécies novas? Que espécies possui esta zona que não encontramos em mais lado nenhum ? Miguel Gonçalves : Quando lhe digo que fazemos parte do Maputaland, isto inclui a África do Sul e Suazilândia. Portanto, é uma área grande. Não lhe vou dizer espécies, mas temos um certo número de plantas que são endémicas a este sítio. Possivelmente encontrámos 100 espécies novas no trabalho de uma senhora sueca. Tivemos também aqui um especialista em insectos de um museu na Inglaterra que identificou 100 espécies...

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Otchiva defende legislação específica para proteger os mangais em Angola

6/17/2025
Durante a terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano (UNOC3), a organização ambiental angolana Otchiva, representada pelo director executivo, Danilson Lunguenda, alertou para a ausência de uma legislação específica dedicada à protecção dos mangais em Angola — ecossistemas vitais para a biodiversidade marinha e o combate às alterações climáticas. Embora Angola disponha de leis ambientais e sobre biodiversidade, ainda não foi aprovada um documento legal que se dedica exclusivamente à protecção dos mangais. Para a Otchiva, esta lacuna representa um risco para a conservação destas zonas húmidas que, apesar da sua reconhecida importância, continuam expostas à degradação. “Temos a Lei de Bases do Ambiente, temos a Lei da Biodiversidade, mas não temos ainda uma lei específica para protecção dos mangais. Este também é um dos nossos grandes objectivos”, sublinhou o biólogo. Activa desde 2017, a Otchiva tem desenvolvido uma série de acções de sensibilização ambiental, reflorestação e limpeza dos ecossistemas. A organização considera os mangais “berçário e maternidade da vida marinha”, lembrando que “cerca de 80% das espécies de interesse comercial das zonas tropicais reproduzem-se nos mangais ou passam o estágio de vida nesses ecossistemas”. A pressão sobre estas zonas provém sobretudo da poluição plástica, da pesca predatória e das construções em áreas sensíveis da orla costeira. Angola tem cerca de 1.650 quilómetros de costa, dos quais entre 50% a 60% são ocupados por mangais, estendendo-se de Cabinda a Benguela. Apesar disso, a resposta institucional ainda depende largamente da mobilização da sociedade civil. Os mangais têm também um papel central na luta contra as alterações climáticas, por serem altamente eficazes na retenção de dióxido de carbono. “As florestas dos mangais absorvem e armazenam até dez vezes mais dióxido de carbono do que outras florestas”, destacou o dirigente associativo. A Otchiva tem apostado numa abordagem inclusiva, envolvendo comunidades locais, voluntários, escolas e representantes do poder político em acções de reflorestação e capacitação. “O assunto mangais já é tido como de interesse nacional e até mesmo internacional. Mas em Angola, particularmente, o governo, a academia, as instituições públicas e privadas, os estudantes, as comunidades locais, [devem realizar] um trabalho conjunto”, afirmou. Para Danilson Lunguenda, só com uma lei dedicada aos mangais será possível garantir a sua protecção efectiva e a preservação dos benefícios que estes ecossistemas oferecem às comunidades costeiras, à economia pesqueira e ao ambiente.

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Petróleo e gás têm impactos devastadores nos oceanos e nas comunidades

6/16/2025
As actividades da indústria do petróleo e gás causam impactos significativos ao longo de todo o ciclo, desde a exploração até o abandono das infra-estruturas. O alerta é de Bruna Campos, responsável de campanhas sobre petróleo e gás offshore (no mar) do Centro para o Direito Ambiental Internacional (CIEL – Center for International Environmental Law), durante a terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano (UNOC3), que decorreu em Nice, França. Segundo Bruna Campos, os efeitos da actividade extractiva estendem-se a cada etapa do processo — exploração, produção, transporte e desactivação — afectando de forma profunda os ecossistemas marinhos e as comunidades costeiras. “As actividades de petróleo e gás têm um impacto em todo o ciclo, exploração, produção e transporte. E até na fase final, que se traduz no abandono da infra-estrutura, cada parte do ciclo tem o seu próprio impacto”, explicou. Na fase de exploração, o uso intensivo de sonares representa uma ameaça séria à fauna marinha. “Aquilo causa um grande problema a muitas espécies no mar, como por exemplo, às baleias ou aos golfinhos. Mas não só, aos microrganismos também, como o zooplâncton, que têm muitos problemas com esse tipo de som. Não reagem muito bem. Isso causa um problema em toda a parte da alimentação marinha.” A responsável de campanhas sobre petróleo e gás offshore alertou ainda para a frequência com que ocorrem derrames de petróleo, contrariando a percepção comum de que são eventos raros. “As pessoas pensam que o derrame de petróleo é muito raro, só que não. E os derrames acontecem todos os dias. Uma publicação da SkyTruth, organização que utiliza imagens de satélites para poderem ver esses tipos de derrames, repararam que os derrames acontecem todos os dias em muitas infra-estruturas.” Estes derrames têm implicações ambientais e humanas, com consequências particularmente graves nas comunidades que dependem da do oceano e da pesca. A especialista destacou que os efeitos não se limitam ao meio-ambiente, mas também afectam directamente a segurança alimentar, os direitos culturais e os modos de vida tradicionais. “Todos os direitos humanos são postos em causa.” Apesar das múltiplas discussões e anúncios, uma das críticas que frequentemente se apontam às grandes cimeiras é a ausência de acções concretas por parte dos governos. “É isso o grande problema. Estamos a pedir para os países mudarem esse tipo de retórica e para começarem a falar sobre as acções, sobre o que eles vão verdadeiramente fazer.” Bruna Campos acrescenta igualmente a importância de incluir as comunidades afectadas nas decisões que dizem respeito ao seu futuro. “As comunidades que vivem nessas áreas devem fazem parte da decisão, mais do que serem ouvidas devem fazer parte da decisão.”

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UNOC3: Açores e o compromisso com a conservação marinha

6/9/2025
A Rede de Áreas Marinhas Protegidas nos Açores foi criada com uma abordagem inovadora, definindo 17 objectivos de conservação para beneficiar todo o espaço marítimo da região, especialmente as áreas de actividade pesqueira. É este exemplo de compromisso com a conservação marinha que o arquipélago vai levar à conferência das Nações Unidas que começa esta segunda-feira, 9 de Junho, na cidade francesa de Nice. Criada com uma abordagem inovadora, a Rede de Áreas Marinhas Protegidas dos Açores define 17 objetivos de conservação que beneficiam todo o espaço marítimo da região, especialmente as áreas de actividade pesqueira. A rede visa proteger 30% do mar dos Açores, garantindo a conservação de ecossistemas e montes submarinos importantes, como explicou à RFI Andriano Quintela, biólogo na ong Blue Açores. "Foram definidos 17 objectivos de conservação e identificados para criar uma Rede de Áreas marinhas protegidas que fosse capaz de criar benefícios para todo o espaço marítimo do Mar dos Açores e para as áreas onde efectivamente pode haver actividade de pesca. Portanto, pela escala e pela forma como as áreas foram definidas, estamos convictos de que estas áreas podem criar benefícios para todo o espaço marítimo e não só para as áreas dentro das áreas, Existe uma certa prevenção para que depois se possa voltar à actividade pesqueira", defendeu. O processo baseou-se em mais de 40 anos de pesquisa científica, compilada no chamado "Blue Paper", que orientou a identificação das áreas prioritárias. Houve também um trabalho de co-criação com comunidades locais e partes interessadas, buscando soluções conjuntas que cumprissem os objetivos científicos, lembrou Andriano Quintela. "Mais de 40 anos de investigação científica de excelência que foi feita nos Açores e continua a ser feita. Compilou-se essa informação e produziu-se um relatório, que é o que nós chamamos o Blue Paper, um processo de planeamento sistemático de conservação, onde, com base nesta informação, se identificam as áreas prioritárias para a conservação", detalhou. O mar é um elemento central da identidade açoriana, despertando paixões e unindo pessoas. O programa aposta na participação cívica e na literacia ambiental, reconhece Ana Monteiro, responsável pelo envolvimento da comunidade e suporte ao programa Blue Azores. "O mar dos Açores é o nosso factor mais identitário, mas também é o elemento mais unificador. Nunca se falou tanto do mar como se fala hoje. Penso que o programa também trouxe essa grande discussão e acreditamos que proteger o mar só faz sentido se for também com as pessoas. O nível de literacia e de participação cívica tem sido um dos pilares do programa e hoje em dia temos mais de 40 organizações mapeadas. O envolvimento das pessoas é crescente", sublinhou. Ana Monteiro considera que apesar das resistências naturais à mudança há um reconhecimento crescente da importância da protecção marinha, inclusive entre pescadores, que percebem as mudanças nos recursos naturais. "Creio que estamos a atravessar também uma fase de mudança e todas as mudanças geram resistência. Se nós virmos, por exemplo, quando acabou a caça à baleia nos Açores, nos anos 80, houve um período de transição que foi muito polémico e de grande tumulto social. Mas hoje em dia percebemos que a protecção das baleias gera muito mais benefício económico do que gerava a caça à baleia. Os pescadores perceberam que é preciso fazer qualquer coisa para proteger o nosso mar", acrescentou. A conservação e o uso sustentável dos oceanos vão estar em debate na terceira Conferência das Nações Unidas, que decorre em Nice até 13 de Junho. Os Açores vão ser apresentados como caso de sucesso ao nível das Áreas Marinhas Protegidas.

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Guiné-Bissau acolhe primeira Conferência Nacional sobre Piscicultura

6/2/2025
A Guiné-Bissau vai acolher no próximo domingo, 08 de Junho, a primeira Conferência Nacional sobre Piscicultura. O evento pretende reunir técnicos nacionais e internacionais, com o futuro dos oceanos no centro do debate. A organização do encontro está a cargo da Mana Nanque Piscicultura. Um dos objectivos é chegar ao fim da conferência com um documento, a entregar ao Governo, que permita lançar as bases do sector, como explicou em entrevista à RFI Dembo Mané Nanque. A primeira Conferência Nacional sobre a Piscicultura da Guiné-Bissau decorre precisamente no dia dos Oceanos, 08 de Junho, no Centro Cultural Francês e “contará com a presença de investigadores internacionais e nacionais. Nós escolhemos como lema deste evento “sustentando o que nos sustenta”. Estamos a realizar esse evento com o intuito de criar uma reflexão nacional sobre a saúde dos oceanos, sobre os recursos marinhos, como é que nós, a partir da nossa realidade, podemos criar soluções que vão impactar os oceanos de uma forma positiva”, sublinhou o organizador. O jovem guineense denuncia a sobrepesca a nível global, com os pescadores a não respeitarem os períodos de repouso biológicos. Portanto, defende a piscicultura para “libertar a pressão sobre os oceanos”. Segundo Dembo Mané Nanque, “a piscicultura contribuirá de uma forma significativa para garantir a sustentabilidade dos oceanos. Uma das coisas mais importantes que nós queremos com este evento é propor ao Estado um documento - planos estratégicos - que vise essencialmente promover a economia azul e o desenvolvimento sustentável através da promoção da piscicultura. Sabemos que os oceanos estão a ficar cada vez mais ácidos, a maior parte dos resíduos da humanidade vão directamente para os oceanos. É urgente investir na piscicultura como uma das alternativas para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade do planeta.” A primeira Conferência Nacional sobre Piscicultura da Guiné-Bissau está agendada para o próximo domingo, 08 de Junho, no Centro Cultural Francês, em Bissau.

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Luta biológica: A arma ecológica contra pragas nos Açores

5/26/2025
A luta biológica destaca-se como uma estratégia essencial para o controlo sustentável das pragas nos Açores, substituindo pesticidas químicos por organismos naturais que regulam as populações invasoras. O professor jubilado e investigador do Centro de Biotecnologia dos Açores, Nelson Simões, explica como a luta biológica se tornou uma ferramenta essencial no combate às pragas nos Açores, destacando as vantagens ecológicas e os desafios desta abordagem face às ameaças crescentes causadas por organismos invasores e às alterações climáticas. Qual é o papel da luta biológica no combate sustentável às pragas nos Açores? Trabalhamos com germes patogénicos de insectos e o meu interesse é particularmente a utilização desses germes, uma vez que eles produzem moléculas que são tóxicas para os insectos. Nós retiramos os genes edificantes dessas moléculas, tentado melhorar a actividade dessas moléculas. O controlo biológico, ao fim ao cabo, é a substituição dos pesticidas de síntese química por organismos que são parasitas ou predadores naturais das pragas. Aquilo que vamos fazer é procurar esses agentes, quer sejam predadores, quer sejam agentes patogénicos dessas pragas. No meu caso concreto, estávamos a falar de pragas insectos. Íamos à procura desses agentes de controlo e depois tentávamos desenvolver o processo de modo a torná-lo eficaz, visto que, na realidade, há uma grande distância entre a existência desse agente patogénico ou desse controlador no terreno e depois a sua utilização. Aquilo que fazemos é tentar melhorar estes agentes e adaptá-los de modo a que eles possam ser controladores. E porque é que a ilha dos Açores, especificamente, é um terreno fértil para esse tipo de investigação? As ilhas estão muito sujeitas a invasões, ou seja, à entrada de organismos estranhos. Normalmente, quando entram esses organismos estranhos, não têm controladores naturais para fazer o controlo. A tendência é que esses invasores se expandam com muita facilidade e ocupem o terreno. Isto é um aspecto. Outro aspecto é que, quando se consegue encontrar algum controlador, temos um espaço físico muito limitado que facilita o estudo dessas relações. Por exemplo, no caso aqui do escaravelho japonês, enquanto conseguimos delimitar duas ilhas, fazer trabalhos distintos em São Miguel e em São Jorge, por exemplo, os nossos colegas italianos e suíços não conseguiam fazer isso porque a praga dispersava e aquilo que faziam num sítio, no ano imediato, já estava noutro. Refere-se ao escaravelho japonês? Estamos a falar do escaravelho japonês, mas tem-se usado muitos outros insetos. Estou a falar do escaravelho porque foi o último com que trabalhámos e, neste momento, é um problema efectivamente na Europa desde 2018. Que outras pragas ameaçam o arquipélago? Temos pragas, por exemplo, em fruteiras e em pastagens que são extremamente importantes e que causam estragos. Existem ainda uma série de outros invasores que são efectivamente problemáticos para outras culturas, nomeadamente o tabaco. Atualmente já se faz muito pouco, mas temos pragas no tabaco e no milho que são muito importantes. As alterações climáticas influenciam, de alguma forma, a chegada de novas pragas? De certeza absoluta que isso vai acontecer. A dispersão vai ser diferente daquilo que foi até agora. Neste momento, nos Açores não temos esses sinais, mas a expectativa é que venha a acontecer. Há vários estudos de predição, de distribuição de pragas em que efectivamente as alterações climáticas vão criar grandes problemas. Por exemplo, na situação actual, o norte da Europa — estou a falar de grande parte da Bélgica, Holanda e dos países escandinavos — provavelmente estão protegidos do escaravelho. Mas com as mudanças climáticas, aquilo que aparece é que o escaravelho vai lá chegar e vai sobreviver. Aqui no arquipélago, que bom exemplo trouxe a luta biológica? A luta biológica é considerada uma alternativa a tudo o que é a utilização de químicos, etc. Portanto, ecologicamente, a luta...

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Açores: São Miguel quer duplicar a produção de energia geotérmica até 2026

5/19/2025
O arquipélago dos Açores tem vindo a aumentar a aposta nas energias renováveis. Em São Miguel, maior ilha do arquipélago, a geotermia corresponde a cerca de 32% do total das energias renováveis. O objectivo é “duplicar a produção geotérmica em São Miguel até Junho de 2026. O que significa que a ilha vai passar a ter cerca de 65% de energias renováveis”. A garantia foi dada por Félix Rodrigues, administrador da Electricidade dos Açores (EDA) Renováveis. A energia geotérmica, que aproveita o calor do interior da Terra para produzir electricidade e aquecer edifícios, tem vindo a ganhar destaque. Graças à sua vulcânica, a ilha de São Miguel possui um enorme potencial geotérmico. O relevo vulcânico permite extrair do subsolo água a elevada temperatura e vapor, que podem alimentar as turbinas. Os cientistas garantem que os riscos sísmicos associados às explorações são controlados. Félix Rodrigues, administrador da EDA Renováveis, sublinha que há sempre riscos associados, todavia lembra que não corresponde à verdade a ideia de que a “geotermia pode provocar sismos". Há riscos associados a todas as explorações. Há risco de uma torre cair e há riscos associados à geotermia no sentido de que pode haver um blowout de um poço que rebenta. Não é uma entrada em erupção de um vulcão, mas pode afectar as pessoas que trabalham na proximidade. Portanto, estes riscos são geridos e há os cuidados de todos. E, por outro lado, é utilizado um fluido num circuito fechado que faz transferências de calor e, portanto, há algum risco associado a temperaturas elevadas, que é o caso da exploração geotérmica. Há, de facto, a ideia de que a geotermia pode provocar sismos. E a exploração geotérmica pode efectivamente provocar micro sismicidade. Ou seja, quando se está a extrair vapor e água, essa água no interior da terra provoca uma pressão. Se despressurizamos, podem haver pequenos microssismos. Nós monitorizamos e, ao longo de todos esses anos, tem sido feita uma monitorização sísmica das explorações e não há nada que tenha sido detectado. Não há sismos, grandes, micro sismicidade, sim pode ser induzida. Questionado sobre se a geotermia pode ser o caminho a explorar para uma Europa que se quer mais verde, o também professor universitário responde que "não há recursos de grande entalpia na Europa”, “apesar dos Açores serem uma referência internacional na exploração geotérmica na Europa”. O facto é que o arquipélago beneficia desta “posição privilegiada”. A geotermia de alta entalpia, usada nos Açores, “estou a falar de temperaturas muito acima dos 100 graus que atingem por vezes os 250 graus, não é fácil encontrar no território continental.”

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CanSat Portugal: microssatélites tiram estudantes da sala de aula rumo ao Espaço

5/12/2025
A ilha de Santa Maria, nos Açores, acolheu no início do mês de Maio a 12a edição do Cansat Portugal, um concurso onde alunos do ensino secundário apresentam projectos de construção e operação de satélites do tamanho de uma lata de refrigerante. A Missão A.S.T.R.O. dos Salesianos de Lisboa - Colégio Oficinas de São José - foi a grande vencedora da edição de 2025. A ilha de Santa Maria, nos Açores, acolheu no início do mês de Maio a 12a edição do Cansat Portugal, um concurso onde alunos do ensino secundário apresentam projectos de construção e operação de satélites do tamanho de uma lata de refrigerante. O concurso é organizado pela Ciência Viva e pela Agência Espacial Europeia. Para Ana Noronha, directora-executiva da Ciência Viva. Coordena o ESERO Portugal, programa educativo estabelecido entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Ciência Viva, a competição é “muito desafiante” para os alunos do ensino secundário e além de estimular a aprendizagem multidisciplinar a nível de engenharias e tecnologia, obriga ao trabalho de equipa e respeito pelo outro. É uma competição muito desafiante para estes alunos. São estudantes do ensino secundário, é muito trabalhoso e é muito rico, porque é um projecto que dá a ideia de uma verdadeira missão espacial escalada, obviamente, ao nível pedagógico-educativo dos conhecimentos dos alunos do ensino secundário. Mas vai um pouco para além, eles têm que aprender toda uma série de coisas que são essenciais numa missão espacial. Envolve programação, aerodinâmica, electrónica, componentes de engenharia e de tecnologia... E, por outro lado, o facto de ser um projecto obriga-os a trabalhar em equipa. Tudo isto torna o projecto muito rico, não só em termos dos currículos na escola, como também em termos de aprendizagem de vida. Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, integra o painel de júris desta competição. Ao microfone da RFI ressalvou as “Gerações Cansat”, traçando uma evolução notória na área espacial ao longo destes 12 anos. Nós começamos isto [o CanSat] há 12 anos aqui em Santa Maria. Olhando para o passado há 12 anos, o espaço era pouco disseminado nas escolas. Hoje é uma área económica. A juventude associa muito o espaço aos astronautas, ao cosmos e aos fogetões. Nestes 12 anos já preparamos gerações. É por isso que nós falamos aqui da geração dos Cansat. Muitos dos alunos que estão aqui hoje vão ser os profissionais da amanhã. E nós temos hoje já incorporados na nossa indústria, na própria Agência [Espacial Portuguesa], em todo o lado, aquilo que preparamos há 12 anos. Portanto, isto é um trabalho de resiliência no sentido de preparar as próximas gerações e um investimento que tem sido muitíssimo bem-sucedido. O nosso objectivo, é criar uma geração muito qualificada nestas áreas e depois obviamente gostaríamos muito que isto resultasse em inovação e em empreendedorismo. 104 alunos e professores de escolas de todo o país participaram na 12.ª edição do Cansat. O evento decorreu de 1 a 4 de Maio, na ilha de Santa Maria, nos Açores, que acolheu as 16 equipas. Os CANssini da Escola Secundária D. Inês de Castro - Alcobaça venceram o Prémio Melhor Antena / ANACOM e o Prémio Melhor Desempenho Técnico. “O nosso projecto é com base em fotos tiradas com uma câmara no espectro visível e uma câmara térmica, reconstruir um mapa topográfico da superfície por debaixo do Cansat e um mapa térmico”, explicou um dos elementos da equipa. “Nós estamos aqui pela experiência, para explorar novas áreas, para o ano vamos para a universidade e queremos ter um maior leque de experiências”, acrescentou outro colega. O Prémio Melhor Missão Científica foi entregue à equipa Micro B-Plast, do Colégio de Santa Doroteia, em Lisboa, que construiu um satélite do tamanho de uma lata para analisar os microplásticos no ar: “Eu acho que toda a gente está muito consciente dos plásticos nos oceanos, microplásticos também na nossa alimentação, mesmo nos peixes que já andamos a ingerir. Isso é uma...

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Associação angolana de médicos leva cuidados de saúde a centenas de albinos no Bié

5/5/2025
O albinismo afecta aproximadamente uma em cada 5 000 pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em Angola são cerca de 7 000 pessoas, segundo as autoridades locais. A associação Lumina Africa promoveu uma acção solidária de cuidados médicos, no início de Maio, na província do Bié, município do Andulo, no centro sul do país. Na semana passada, nos primeiros dias de Maio, uma equipa de médicos da associação Lumina África, em parceria com a associação volta a Africa, viajou até ao Bié, no município do Andulo, centro de Angola, para realizar uma acção solidária junto de pessoas com albinismo. As consultas beneficiaram a uma centena de crianças e de adultos com albinismo, entre os quais foram diagnosticadas 12 suspeitas de cancro da pele. Regiane Silva, médica de clínica geral, especializada em albinismo, lidera este projecto voluntário que juntou uma equipa de médicos, enfermeiros, cirurgiões e fisioterapeutas da Lumina África. RFI: Como chegaram a diagnosticar as doze suspeitas de cancro da pele? Regiane Silva: Não é a primeira vez que vamos até ao Andulo, na província do Bié. Fomos pela primeira vez em 2022, atendemos também centenas de albinos. Antigamente, aqui em Angola, as pessoas falavam que era feitiçaria, essas coisas místicas. Mas são simplesmente pessoas normais que têm um distúrbio da ausência de melanina no corpo, na coloração da pele. O albinismo é genético. Geralmente um dos pais tem um gene que acaba predominando e a criança sai albina. Fica com os olhos muito sensíveis e a cor da pele super clarinha porque tem ausência parcial ou total de melanina. O diagnóstico que fizemos não é definitivo. Essas pessoas foram encaminhadas para o Hospital de Oncologia, porque lá no Andulo o hospital municipal não tem essa condição. Se não houver um oncologista no hospital provincial, eles vão mandar para o oncologista aqui de Luanda. O oncologista vai fazer as avaliações de acordo com as nossas observações, ou seja 70 a 80% de probabilidade de se tratar de cancro da pele. RFI: Em que estado de saúde é que se encontravam as pessoas que atendeu, como é que as sentiu? Regiane Silva: Quando são crianças, a gente consegue olhar e ver se está sendo bem tratado. É mais fácil. As doze pessoas a quem fizémos esse diagnóstico de possibilidade de cancro são pessoas adultas, com a pele quase queimada. Eles são muito sensíveis, tanto à luz solar, como a certas luzes interiores que lhes são desaconselhadas. As crianças que eu encontrei estão com uma qualidade um pouco melhor do que da última vez que lá estive. Muitas delas usam chapéu. Os adolescentes e adultos é que por vezes apresentam estados bem deteriorados. E sobretudo nessa zona de Angola, em que eles trabalham muito na área de agricultura e expõem-se à luz solar. Muitas vezes não têm dinheiro para ter hidratantes, protectores solar, protectores labiais e nota-se pela deterioração do aspecto físico ao longo da idade, ele enfraquece quando a pessoa não tem a condição básica mínima. Trouxémos connosco vaselina, e um equivalente de protectores solares, que desta vez não tínhamos recebido como donativos. RFI: O facto de serem associações, através de acções solidárias, que trazem produtos e cuidados junto das populações com albinismo, revela que as iniciativas governamentais são insuficientes nessa área? Regiane Silva: O importante, e é o que temos feito, é conscientizar, é informar as pessoas, porque pensam que basta protector solar. Mas o salário mínimo aqui são 70.000 kwanzas, um protector solar na farmácia custa entre 20 a 30000 kwanzas. Imagine uma família com cinco pessoas... RFI: Como é que fazem nesse caso, se não têm apoios governamentais para facilitar a compra, por exemplo, através de subvenções? Regiane Silva: Não há. Por isso é que a minha organização Lumina Africa apoio a causa dos voluntários. Tenho trabalhado com uma farmácia que nos prometeu acesso a óculos graduados, mas ainda não consegui um oftalmologista que faça consultas...

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Água pública contaminada em Moçambique já causou mortes, diz relatório

4/22/2025
Em Moçambique, um recente relatório revela que a água pública apresenta altos níveis de contaminação, pondo em risco a saúde dos cidadãos que a consomem. O problema, de dimensão nacional mas com especial incidência nos municípios de Maputo, Matola e Tete, resultou em vómitos, diarreias, alastramento da cólera e até mesmo em óbitos, de acordo o Observatório Cidadão para a Saúde. No relatório, publicado a 8 de Abril de 2025, a organização denuncia as "falhas no tratamento e fiscalização da água para consumo humano", questionando a "responsabilidade do Governo em Moçambique". Para além da recolha de dados laboratoriais, o relatório baseia-se também no testemunho de cidadãos que descrevem a "água turva" a jorrar pelas torneiras e relatam as consequentes doenças. Os riscos para a saúde de quem consome estas águas contaminadas são reais, desde a contracção da diarreia - uma das principais causas da mortalidade infantil em Moçambique, ou da cólera. Nos piores casos, o consumo de águas contaminadas resultou em mortes, esclarece ainda o coordenador do Observatório do Cidadão para a Saúde, António Mathe. O relatório já esteve entre as mãos de decisores políticos e aguarda-se a implementação de novas medidas, tendo em conta que Moçambique é signatário da norma internacional ISO 24500 que define padrões de qualidade de água. RFI: O que está em causa neste relatório? António Mathe: Os nossos testes laboratoriais sobre a qualidade da água mostraram a existência de água imprópria para o consumo, a nível nacional, e tanto na rede pública como na rede privada. Isto contradiz as estatísticas do Governo, que afirmam que o fornecimento de água potável se verifica em 84% das zonas urbanas e 39% ao nível das zonas rurais. Estes dados poderão ser uma ilusão porque continuamos a ter grande parte da população moçambicana sem acesso à água potável. Há situações em que, mesmo a olho nu, é possível perceber que a água que jorra nas torneiras constitui um risco à saúde pública, devido à cor e ao odor da água. Quando avaliamos os problemas reais a nível das regiões onde fizemos esta auscultação, através de inquéritos e testes laboratoriais realizados no Laboratório Nacional de Água, percebemos que os resultados são contrários àquilo que são os dados oficiais do Governo. Esta água públicada mostra sinais de que tipos de contaminação? Em muitas situações vem contaminada com com bactérias fecais, sinais de ferrugem... Que acarretam grandes problemas de saúde pública, principalmente de origem hídrica. Doenças como a cólera, a diarreia. Esta diarreia constitui uma das principais causas da mortalidade infantil em Moçambique e, portanto, constitui um grande desafio. Para além de problemas estomacais, vómitos que são reportados após as comunidades consumirem uma água imprópria. Houve casos que necessitaram hospitalizações? Sim. No ano passado por exempl, houve casos que resultaram em cólera, por exemplo na província de Cabo Delgado. Em Manica morreram três pessoas. Na província de Nampula, uma das províncias mais populosas do país, registaram-se 34 óbitos, e dois óbitos na província de Niassa. Mas verifica-se uma ligação directa entre estas mortes e o consumo de água contaminada? Sim, como se sabe um dos principais determinantes sociais de saúde é justamente o acesso a água potável e o saneamento básico. Dois factores que têm estado em causa nas nossas avaliações, principalmente na zona Norte do país e nas regiões mais populosas. Por outro lado, continuamos a ter mitos e tabus sobre alguns produtos para purificação da água. E grande parte da população moçambicana simplesmente não tem condições para comprar água purificada ou galões, nem água mineral. Como é que fazem os cidadãos que, por falta de recursos, não têm outra opção a não ser beber a água supostamente potável mas contaminada? Alguns explicam que fervem a água antes de a consumir apra eliminar quaisquer vectores de transmissão de doenças? Bom, esta é uma situação que muitas comunidades têm...

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"Doentes mentais na Guiné-Bissau ainda vivem níveis brutais de rejeição"

4/14/2025
Neste magazine falamos de saúde mental, um tema ainda envolto em muita incompreensão, estigmatização e falta de recursos. A Guiné-Bissau conta apenas com um centro público de saúde mental e duas clínicas privadas. Qual é a realidade diária de uma pessoa com doença mental? A estigmatização ainda é sinónimo de rejeição? Qual é o peso das crenças religiosas e tradicionais? Existem estratégias políticas para maior inclusão e tratamento? A Guiné-Bissau conta apenas com um centro público de saúde mental, o Centro Osvaldo Vieira, integrado na Faculdade de Medicina. Trata-se de um centro ambulatório, que não tem serviço de internamento. Para além desse local, existem duas clínicas privadas, nos arredores de Bissau. Sendo clínicas privadas, coloca-se inevitávelmente a questão dos recursos financeiros que podem deixar de lado grande parte da população, gerando ainda outro nível de desigualdade, desta vez no acesso ao tratamento. "Se o guineense já luta diáriamente para poder garantir o pão na mesa, como é que podemos imaginar que o guineense seria capaz de investir num membro da estrutura familiar que tenha problemas de saúde mental", questiona Pedro Cabral. Presidente da Federação das Pessoas com Deficiência na Guiné-Bissau, é com ele que abordamos estas questões. As estratégias políticas para tratamento da saúde mental são "inexistentes" no país, até porque "o próprio Estado considera que as doenças mentais e deficiências físicas são transmissíveis", aponta o também sociólogo. Fora da esfera política, é no núcleo famíliar que a exclusão agrava o percurso de vida do paciente. "Certas famílias consideram que uma pessoa com deficiência terá menos utilidade do que uma pessoa sem deficiência. A família é a origem de tudo, a origem de tudo. E os níveis de rejeição brutais que se vive na Guiné-Bissau enquanto deficiente mental ou físico têm génese na estrutura familiar. O estereótipo começa dentro da própria família", analisa Pedro Cabral. Existe também influência das práticas religiosas e culturais na percepção dos guineenses relativamente à doença mental e física. Testemunhando com a sua própria experiência, Pedro Cabral nota que se diz dos cegos "que, caso não morram cedo, são feiticeiros ou têm bruxaria". A pessoa com deficiência tem dupla limitação: limitação natural decorrente da deficiência e limitação decorrente rejeição da sociedade. Ficam no entanto algumas notas positivas: o progresso tecnológico facilita a vida das pessoas em causa e, é verdade, nota-se maior tolerância e compreensão do fenómeno graças ao trabalho dos actores da sensibilização (associações, ONG, etc). Por exemplo, Pedro Cabral com quem falámos, portador de deficiência visual, tirou um curso na Universidade Lusófona de Bissau e mestrado na Faculdade de Direito; responde às mensagens do telemóvel graças a uma aplicação e é hoje um exemplo encorajador para muitos jovens na mesma situação. Falta agora a implementação de políticas a nível do Estado para que o progresso dos direitos das pessoas com deficiência seja efectivo. Ouça a entrevista por completo:

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Alterações climáticas: "Moçambique regista temperaturas acima dos 30º durante mais de metade do ano"

4/10/2025
Em Moçambique os ciclones estão a aumentar e os ventos são mais intensos. Além disso, em 2024, o país registou uma temperatura sem precedentes, nos últimos 75 anos, 1.2 graus centígrados acima da média do período anterior. Os dados constam do relatório anual do Estado do Clima de Moçambique - 2024, do Instituto Nacional de Meteorologia. Bernardino Nhantumbo, meteorologista, explica que o relatório “comprova a tendência mundial” e alerta para os impactos do aquecimento global do planeta. Em Moçambique os ciclones estão a aumentar e os ventos são mais intensos. Além disso, em 2024, o país registou uma temperatura sem precedentes, nos últimos 75 anos, 1.2 graus centígrados acima da média do período anterior de 1981 – 2010. No dia 28 de Outubro de 2024, o mercúrio dos termómetros subiu até aos 44,5 graus em Chingodzi, na província de Tete, centro do país, foi a temperatura mais alta registada na rede de estações meteorológicas. Os dados agora avançados constam do relatório anual do Estado do Clima de Moçambique - 2024, do Instituto Nacional de Meteorologia, publicado no final do mês de Março. Em entrevista à RFI, Bernardino Nhantumbo, meteorologista e pesquisador na área do clima, ligado ao INAM, explica que o relatório agora publicado “comprova a tendência global” e alerta para os impactos que o aquecimento global do planeta têm em Moçambique: Uma das consequências [das alterações climáticas], apesar de não termos estudos conclusivos, é que Moçambique está sendo cada vez mais impactado por ciclones. Só a título de exemplo, de 2021 a esta parte, foram 10 ciclones. Estamos a falar de uma média de dois ciclones por ano. Anteriormente tínhamos uma média de um ciclone. Houve um aumento de 100%.” Moçambique é, a nível global, um dos países mais severamente afectados pelas alterações climáticas. O país é recorrentemente palco de cheias e ciclones tropicais, além de períodos prolongados de seca severa. Ao aumento da frequência de ciclones, acresce-se a seca ou a chuva fora de época, o aumento dos dias de verão: Na nossa definição, consideramos dias de verão dias cuja temperatura é igual ou superior a 30º e notamos que há um aumento claro. Se no passado, ao ano, tínhamos cerca de 100 dias com 30º ou mais graus. Agora, estamos em cerca de 200 dias. Isto é, em mais de metade do ano estamos a registar temperaturas com mais de 30º. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, entre 2019 e 2023, eventos extremos provocaram, pelo menos, 1.016 mortos em Moçambique e afectaram quase cinco milhões de pessoas.

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"Protecção da Gronelândia deveria passar por um tratado semelhante ao da Antárctida"

4/8/2025
Na Groenlândia encontra-se a segunda maior camada de gelo do mundo, depois da Antárctica. O degelo dessa camada contribui para a subida do nível das águas do mar, além de que o gelo ao reflectir a luz solar ajuda a manter o equilíbrio térmico do planeta. Para João Canário, investigador do Instituto Superior Técnico, a protecção da Gronelândia deveria passar por um tratado semelhante ao da Antárctida. O debate sobre a Gronelândia está na ordem do dia, não pelo seu valor ambiental e climático, mas pelo seu valor militar, geopolítico e económico. Todavia, o papel da ilha para o equilíbrio da terra é de uma importância extrema. Para João Canário, investigador do Instituto Superior Técnico, a protecção da Gronelândia deveria passar por um tratado semelhante ao da Antárctida. Penso que a Gronelândia devia ter um estatuto semelhante ao da Antárctida. Ou seja, um tratado que proíbe acções militares e a exploração de recursos, quer biológicos, quer naturais, enquanto o tratado tiver vigor. Portanto, aquilo que eu acho é que deveria haver para a Gronelândia um tratado semelhante. O docente do Departamento de Engenharia Química, liderou uma equipa de investigação que em Julho de 2023 esteve na ilha para recolher amostras do solo com o objectivo de estudar os impactos do degelo nos ecossistemas. O meu trabalho é com solo gelado, solo que está gelado há centenas e ou milhares de anos. Ao solo gelado, em inglês chamamos de permafrost. O trabalho na Gronelândia vem no seguimento do trabalho que temos feito no Canadá e no Alasca, em zonas em que também existe permafrost, mas o permafrost já tem outras características, é descontínuo, ou seja, não ocupa uma área toda. Portanto, o que nos levou à Groenlândia foi precisamente este permafrost contínuo e sobretudo a questão o processo de degradação está agora a começar e então do ponto de vista científico para nós é interessante e é importante porque é para nós podermos acompanhar esta degradação logo do princípio.

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