Artes - O legado da obra de Christo, genio da arte contemporanea mundial
RFI
Um dia por semana, em média, veja aqui os nossos destaques no mundo da cultura e das artes. Excepcionalmente, em função da actualidade, esta rubrica pode ter vários destaques.
Location:
Paris, France
Genres:
Arts & Culture Podcasts
Networks:
RFI
Description:
Um dia por semana, em média, veja aqui os nossos destaques no mundo da cultura e das artes. Excepcionalmente, em função da actualidade, esta rubrica pode ter vários destaques.
Language:
Portuguese
Episodes
A redenção de Moçambique com "As Noites Ainda Cheiram a Pólvora" de Inadelso Cossa
10/23/2024
A Guerra Civil em Moçambique é um tema que tem sido alvo de um silêncio que não tem contribuído para a redenção do país.
Para revelar histórias não contadas e fazer o filme "As Noites Ainda Cheiram a Pólvora" (recentemente apresentado no Festival DocLisboa), o realizador Inadelso Cossa regressou à aldeia da avó.
Na aldeia, o realizador junta memórias fragmentadas da infância vivida durante a guerra civil em Moçambique, recordações dispersas que a avó se esforça por partilhar e os testemunhos de perpetrador e vítima.
O documentário, marcado por um arrojado sentido estético e uma mistura entre realidade e ficção, é como a fogueira onde, com o cair da noite, se reunia toda a aldeia e se ouviam histórias. Num desafio para quebrar silêncios e reduzir novas tensões, Inadelso Cossa tira da escuridão uma parte dos fantasmas da guerra civil.
Duration:00:08:32
Ana Vidigal: "Hoje sou pintora porque houve o 25 de Abril"
10/15/2024
A exposição "Pour voir, ferme les yeux" [ Para ver, fecha os olhos] da artista plástica portuguesa, Ana Vidigal, está patente até ao dia 9 de Março, no Centro de Criação Contemporâneo Olivier Débre, em Tours. Em entrevista à RFI, Ana Vidigal diz que é pintora graças ao 25 de Abril, reivindica-se feminista para não ser masoquista e alerta para as constantes ameaças à democracia.
RFI: Num mundo onde somos constantemente bombardeados pela informação, onde as câmaras dos telemóveis se sobrepõem ao nosso olhar. Que mensagem pretende passar com esta exposição?
Ana Vidigal, artista plástica portuguesa: penso que as pessoas devem, em vez de reagir instintivamente, parar para pensar em que situação estamos a viver. Hoje em dia, aqui na Europa ou em qualquer parte do mundo.
Daqui a menos de um mês, vamos assistir ao que se vai passar nos Estados Unidos, ficámos todos um pouco esperançados com esta nova candidatura. Confesso que também fiquei contente com o resultado das eleições aqui em França, porque seria, na minha opinião, perigosíssimo que a França perdesse valores democráticos, digamos assim, que demoraram muito tempo a ficarem consolidados.
Porém, tive muita pena que Portugal comemorasse os 50 anos do 25 de Abril com 50 deputados da extrema-direita. Uma coisa que nunca tinha acontecido.
Talvez devamos parar um pouco para pensar que devemos tratar melhor a democracia que temos. A democracia também “se gasta” e no dia em que ela se gastar, vai ser muito difícil recuperá-la.
Estamos tão baralhados com a informação toda que temos, com toda a confusão mental que as imagens nos provocam, que fechar os olhos para pensar, nessas mesmas imagens, não quer dizer fechar os olhos para não ver! É fechar os olhos para pensar e poder fazer uma opção do que queremos ver.
Nas suas obras explora o universo da verdade e da mentira. Em muitas das suas obras há uma parte que se pode ver e a outra não pode.Há presença do Pinóquio. É uma alusão ao que é verdade e ao que é mentira?
Sim, hoje em dia estamos muito sujeitos a isso. São valores que nos foram incutidos desde crianças, para não mentirmos. Mas é inevitável que todos nós mentimos ao longo da vida. A mentira está a tornar-se cada vez mais uma ferramenta que é utilizada sem limites. Acho isso muito perigoso.
No trabalho que faz recorre frequentemente a colagens, materiais têxteis, materiais ligados à sua infância- ao passado da sua infância- ou com carácter biográfico. Ao usar estes materiais, que importância lhe dá?
A minha primeira escolha é sempre porque tenho uma grande identificação formal com esses objectos. Porém, a história dos objectos também me interessa bastante e gosto de saber [a sua história] mesmo quando eles me são oferecidos. Gosto de saber o que é que as pessoas fizeram com eles. Há sempre qualquer coisa a aprender com esses materiais.
Muitos dos materiais com os quais trabalha foram-lhe deixados pela sua avó…
Sim, a minha avó era uma excelente arquivista e guardou todas as coisas de família. Fê-lo porque podia, tinha uma casa grande. Foi professora, mas quando se casou deixou de trabalhar e, portanto, pôde fazer isso. E tinha esse prazer de delicadamente guardar todas essas coisas que chamava recordações. E foi extremamente generosa porque, era a única neta rapariga, disse-me sempre que podia mexer em tudo. Que podia abrir as caixinhas, os pacotinhos, as fotografias e os álbuns. E eu, confesso-lhe, espatifei tudo.
Nesta exposição há uma instalação onde a Ana coloca uma série de porta-retratos da sua família, todos virados para a parede, não se vê as fotografias. Uma obra que lhe foi pedida para trabalhar a memória. É importante proteger-se a memória da família?
A memória é uma coisa que trabalhamos e também só mostramos aquilo que queremos. Quando me pediram para fazer um trabalho sobre a memória, lembrei-me imediatamente dessas imagens e da imagem que eu tinha do escritório do meu avô. Em casa, o meu avô tinha uma prateleira, ao longo de todo o escritório, com...
Duration:00:17:51
Uma ode à democracia em fotografia para devolver a Revolução dos Cravos às ruas de Paris
10/8/2024
Em Paris, a Revolução dos Cravos saiu à rua na recta final das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril para mostrar aos parisienses e aos visitantes de todo o Mundo não só o dia emblemático da democracia portuguesa, mas o processo revolucionário que se seguiu. Uma exposição de acesso livre permite até dia 20 de Novembro ver os momentos-chave desta revolução.
"La Révolution des Œillets 25 avril 1974 : Ode à la démocratie" é uma exposição de 24 fotografias que pode ser vista na vedação da Tour de Saint Jacques, um dos monumentos mais emblemáticos de Paris, e que dá precisamente para a rue Rivoli, uma rua de comércio por excelência na capital francesa. Esta ode é guiada pela lente de três fotógrafos que estiveram em Portugal entre 1974 e 1976 Alécio de Andrade, Jean-Claude Francolon et Guy Le Querrec.
Yves Leonard, historiador francês especialista na História de Portugal, é o conselheiro científico desta exposição e explicou em entrevista à RFI como foi feita a selecção destas fotografias.
"A selecção é um exercício muito difícil de fazer, desde logo porque houve muitos fotógrafos e nós decidimos escolher três, dois franceses e um brasileiro. A vontade foi de fazer uma selecção não só sobre o dia do 25 de Abril, até porque nesse dia só Jean-Claude Francolon estava em Lisboa, mas também depois do 25 de Abril, do início de Maio, da Primavera de 74 e todo o processo durante um ano, até às eleições para a Constituinte em 75", declarou o historiador.
Esta história é contada a quem passa nesta atribulada rua parisiense através de 24 fotografias, desde as chaimites nas ruas, até ao regresso de grandes figuras da revolução como Mário Soares ou Álvaro Cunhal, até ao regressos dos portugueses que viviam nas colónias, as organizações sindicais um pouco por todo o país e ainda a primeira eleição livre a 25 de Abril de 1975 que elegeu os deputados da Assembleia Constituinte.
A ambição desta exposição é assim devolver uma revolução popular ao povo, agora de uma das maiores capitais do Mundo, dando a conhecer aos franceses e aos visitantes de Paris a história da Revolução dos Cravos para além do dia 25 de Abril de 1974.
"É um processo revolucionário, é uma história que não é só de um dia, mas de um processo que durou dois anos, com o voto da Constituição de 1976 e as eleições a seguir. A ideia é mostrar que foi um processo com dificuldades, com ambiguidades, para encontrar o caminho para uma democracia ocidental, liberal. E também destacar o papel do povo, dos militares, dos partidos e de falar de tudo isto em 24 fotografias", concluiu Yves Leonard.
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Baltazar Cateco ao serviço da difusão dos livros em Angola
10/1/2024
Neste programa Artes , vamos apresentar o projecto "Livro Zunga", da ONG Vitoria Luami em Angola. Uma iniciativa implementada por Baltazar Cateco, que trabalha para permitir que o maior número de pessoas tenha acesso à leitura. Foi na municipalidade de Cazenga, na província de Luanda, que tudo começou.
Com o seu grupo de amigos, Baltazar Cateco organizou-se para concretizar os seus planos, sem imaginar um dia que a sua associação se tornaria uma organização não governamental reconhecida pelo Estado.
Baltazar Cateco : "Nunca imaginei e nunca pensei em legalizar. Nunca pensei. Eu comecei no orfanato, um orfanato onde eu normalmente organizo eventos solidários. Eu sempre realizei eventos solidários com grupo de amigos. Para que chegasse a legalizar foi porque pediram-me. Alguém que gostava de também fazer parte e queria uma documentação que mostrasse que nós estávamos organizados oficialmente. Então, nunca pensei na legalização porque não me dedico 100% só nesta organização. Foi uma evolução que eu nunca pensei. Mas as coisas acontecem naturalmente, circunstancialmente. "
Apaixonado pela leitura, Baltazar propõe acções solidárias em diversos locais da cidade, de forma a promover o acesso aos livros.
"Nestes espaços eu posso colocar uma biblioteca e as pessoas aí vão procurar e consultar a minha biblioteca. Mesmo que eles não terminam de ler um livro, porque não estarei lá permanentemente, mas pelo menos vão ter noção do que é ver o livro X ou a capa do livro. E poderia, ao contrário, é procurar numa outra biblioteca. "
Uma biblioteca itinerante que ocupa o espaço público e que dá acesso à coleção pessoal do Baltazar, sem uma temática específica, mas simplesmente e puramente pelo prazer da leitura e pela valorização da cultura literária angolana.
"Sempre gostei de ler e adquirir muitos livros. Adquiri muitos livros. Normalmente não tenho ainda doações nem peço muitas solicitações de pessoas para me doarem livros, mas eu procuro mesmo os livros que tenho e que eu adquiri. Os livros são também de referência, até de estimação, são os meus livros de autores angolanos a autores estrangeiros são poucos. Deve haver muita, muita, muita literatura de crianças."
Além desta iniciativa, a associação também actua nos hospitais tentando alegrar de forma lúdica o quotidiano das crianças internadas, nomeadamente no Hospital Américo Boavida, na capital angolana, Luanda.
"A iniciativa vem depois de uma festa que eu tinha dado no Américo Boavida. Foi uma sopa solidária que levávamos e notámos que tinha lá também crianças. Eu me apercebi que nos hospitais muitas crianças passam mais de um, dois anos e três não só internados, com uma grave doença psicológica que não lhe permite ainda sair do hospital e que eu já fiz referência anteriormente, que essa criança passa a usar o hospital como sua segunda casa. Então, como é essa necessidade? E como base também as pessoas que conversaram connosco dentro do hospital? Então eu levei a iniciativa de que a criança, tendo a sua segunda casa ou hospital, também precisam de brincar, sobretudo aquelas crianças que estão em fase de recuperação. "
Para Baltazar Cateco a multiplicação dessas acções por todo o país é possível graças ao número de pessoas que trabalham para a ONG Vitória Lumi. Noutras províncias de Angola.
"Neste momento, é apenas em Luanda, mais as pessoas que faziam parte da nossa organização, porque a nossa organização tem muitos voluntário, pois já estão fora de Luanda e trabalham lá como professores e também pela experiência que eles tiveram da nossa associação. O objectivo é a biblioteca móvel, mas também pretendo criar biblioteca fixa, mas nesse sentido, eu pretendo colaborar com a administração local. Eu identifico alguns espaços e solicito a administração para criar um centro, não só como biblioteca, mas também simultaneamente como Centro de recolha de donativos."
Com esperança para o futuro, o criador do projecto Livro Zunga espera que a tecnologia possa permitir o acesso à leitura...
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À descoberta do retratista moçambicano Fredy Uamusse
9/24/2024
Neste programa, vamos conhecer Fredy Uamusse, um retratista moçambicano de 23 anos que sonha viver da sua arte. Além dos formatos tradicionais, Fredy Uamusse também desenha no chão, incluindo no pátio da sua própria casa.
O pátio da casa de Fredy Uamusse tem sido tela para esboçar os rostos de várias personalidades, desde a figura incontornável da arte moçambicana Malangatana, a Cristiano Ronaldo que é para ele um ídolo no futebol e na forma intensa de trabalhar. O futebolista português "é uma figura internacional que inspira os jovens porque ele é determinado naquilo que faz", explica Fredy. Quanto a Malangatana, "foi alguém que representou a cultura" e o jovem artista também tem como desejo "representar Moçambique a nível internacional". O retratista também desenhou a humorista moçambicana Rebeca Cumbane e o músico moçambicano Twenty Fingers, entre outros.
Fredy Uamusse frequenta o último ano do curso de artes plásticas no Instituto Superior de Artes e Cultura de Moçambique. Faz desenhos em papel, mas também desenha no chão. E é na sua casa, nos arredores de Maputo, que usa o chão para esboçar as suas figuras, com cinza, carvão, luz e sombra. Depois, publica as fotografias do resultado nas redes sociais, tendo quase 100.000 seguidores no Facebook.
Trabalho no pátio de casa, debaixo de uma sombra, uma árvore de manga. Tenho de calcular o tempo da sombra, começar o desenho às nove e terminar até às onze para a sombra estar no desenho. Começo por enquadrar o pátio onde quero trabalhar, depois é tracejar com uma barra e seguir os contornos com o carvão. Em seguida, começo a trabalhar com luz e sombra, isto é, a trazer a diferenciação das areias vermelhas, brancas, amarelas, assim como o próprio carvão e a própria cinza. A cinza é para as partes brancas e que representam a luz.
O artista conta, ainda, que, em criança, só tinha "um único lápis" quando começou a desenhar, por isso, em adulto, decidiu que a falta de material não o poderia limitar e que iria trabalhar com o que tivesse facilmente disponível.
Fredy Uamusse sonha viver da sua arte e tem conseguido até agora, graças a muito trabalho e aos conselhos da avó para nunca desistir.
Oiça a conversa neste ARTES.
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Festival Pela Paz decorreu no Tarrafal, "num lugar de liberdade"
9/17/2024
O Tarrafal assinalou no fim-de-semana passado o centenário do nascimento de Amílcar Cabral com o festival Pela Paz. "Com este festival queremos reforçar a referência do Tarrafal como um lugar de paz e símbolo de liberdade", conta-nos porta-voz do festival, Madair Feire.
O curador do evento, músico, escritor e antigo ministro da cultura de Cabo Verde, Mário Lúcio Sousa, explica a sua relação com Amílcar Cabral, líder revolucionário e intelectual que lutou pela independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. Uma inspiração na obra, literatura e música de Mário Lúcio. "Tenho uma relação espiritual com Cabral, em dimensões que nem eu entendo bem. Vejo-o com frequência e quando escrevi o romance sobre ele, tivemos vários diálogos. O livro apareceu por acaso, mas foi Amílcar Cabral que mudou a minha vida. Um dia encontrei um poema dele, recitava-o na rua e viram em mim uma criança um pouco precoce. Ajudaram-me a ter acesso a uma educação porque os meus pais eram pobres", conta.
Cabral mudou a vida de "todos os cabo-verdianos, ao dar a sua própria vida em troca da liberdade e da independência, defendendo sempre uma filosofia sem ódio. A guerrilha foi necessária, sim, mas ele tinha uma noção de paz. Escreveu várias cartas ao governo português a pedir diálogo, mas nunca obteve resposta. E quando a repressão aumentou, os outros tiveram que se defender e ele continuou a defender a via da paz", acrescentou.
Mário Lúcio nasceu e vive no Tarrafal e fez questão que a primeira edição do festival Pela Paz decorresse nessa vila: "Costumam dizer que temos um coração de pescador porque os pescadores têm uma enorme paciência; deitam a linha na água e ficam ali horas e horas sem apanhar um peixe. Aqui encontramos uma paz natural".
A cultura foi um dos pilares fundamentais no processo de libertação e desenvolvimento de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. Amílcar Cabral acreditava que a cultura era um dos principais elementos de resistência contra o colonialismo, defendendo a ideia de que a preservação e valorização da identidade cultural de um povo eram essenciais para o sucesso da luta pela independência.
"No Tarrafal tivemos a prisão e estiveram cá muitos prisioneiros. Conseguiram a liberdade com a luta de Amílcar Cabral e o Tarrafal tornou-se num símbolo de liberdade. Com este festival queremos reforçar a referência do Tarrafal como um local de paz e o símbolo da liberdade", sublinha o porta-voz do festival, Madair Feire.
A cantora cabo-verdiana, Mayra Andrade, subiu ao palco no sábado, 14 de Setembro. No final do concerto, contou-nos que a música é para ela a sua "forma de respirar, forma de ser". "Como cabo-verdiana, acho que é muito claro para mim que a cultura alimenta a música cabo-verdiana. Ela é a nossa maior bandeira no mundo. Fazer parte desta constelação de artistas que levam o nome de Cabo Verde, alimenta em mim um sentimento de muita gratidão pela oportunidade que eu tenho de poder fazer disto a minha vida", concluiu.
O festival Pela Paz foi organizado por Mário Lúcio em parceria com a Câmara Municipal do Tarrafal, com objectivo de reforçar mensagem de paz através da arte e homenagear o centenário de Amílcar Cabral.
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Design “Made in Portugal” na rota da Semana do Design de Paris
9/5/2024
Em França, arrancou esta quinta-feira a Semana do Design de Paris que conta com uma exposição dedicada ao design português. Chama-se “Made in Portugal naturally” e é uma vitrina da produção artística do sector. Neste programa, visitamos a exposição com a curadora e arquitecta de interiores Margarida Moura Simão.
Há uma “casa portuguesa” na “Paris Design Week”, que arrancou a 5 de Setembro e decorre até 14 de Setembro. Nesta "casa", situada na Galerie Joseph, no bairro do Marais, há cerca de 60 peças que mostram o que é o design português de hoje, entre inovação e tradição, entre o clássico e o contemporâneo.
O “showroom” chama-se “Made in Portugal naturally” e foi concebido como um apartamento, por onde se deambula entre as peças expostas. A curadora é a arquitecta de interiores Margarida Moura Simão, que nos fez uma visita guiada pelas diferentes salas e obras, desenhando um “Portugal cosmopolita” que produz “um design autoral, irreverente e sofisticado”, com um “savoir-faire” que alia tradição e tecnologia. Na conversa que pode ouvir neste programa, fomos tentar perceber o que é que têm de tão “naturalmente” português as peças de mobiliário, de iluminação, de têxtil e outros objectos decorativos ali em destaque.
A Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) organizou a iniciativa para promover o design português, nomeadamente a qualidade do produto e do material, a sustentabilidade e o “savoir-faire” português, como explicou Mariana Vieira da Luz, gestora da fileira casa na AICEP.
O objectivo desta exposição é promover o design português e colocá-lo num patamar de relevância comparativo com grandes marcas e com a qualidade de outros grandes países nesta área do design de mobiliário, de iluminação, têxteis-lar e porque os nossos produtos têm muita qualidade. Nesta exposição temos cerca de 55 empresas e que foram todas escolhidas pela arquitecta Margarida Moura Simão e o que pretendemos promover é a qualidade do produto e do material que também é feito em Portugal, em conjunto com o design e a sustentabilidade. E daí vem o nome "Made in Portugal naturally" que faz justiça tanto à área da sustentabilidade que está muito em voga, mas também à parte do 'savoir-faire' português e da tradição.
De 5 a 9 de Setembro, o Parque de Exposições de Villepinte, nos arredores de Paris, também acolhe a feira internacional de mobiliário e decoração Maison&Objet, na qual Portugal também participa.
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Cabo-verdiana Denise Fernandes eleita melhor cineasta emergente em Festival de Locarno
8/28/2024
A primeira longa metragem de Denise Fernandes valeu à realizadora cabo-verdiana o prémio de melhor cineasta emergente no Festival de cinema de Locarno que terminou a 17 de Agosto. "Hanami" tem como palco a Ilha do Fogo, no sotavento cabo-verdiano, onde Nana assiste à partida, mas também ao regresso de muitos habitantes do território, caso da sua mãe.
A cineasta, nascida em Lisboa, crescida na Suíça de expressão italiana, volta a pegar em Cabo Verde, as suas raízes, para este novo filme, "Hanami", a sua primeira longa metragem.
Ela começou por comentar à RFI qual a sua reacção com o galardão obtido na edição de 2024 do Festival de cinema de Locarno, na Suíça.
Recebi a notícia por telefone alguns dias antes do festival terminar, mas disseram-me para não dizer mesmo a ninguém. E eu ainda estava com as actrizes do filme presentes em Locarno. Então, sabendo que eu não podia dizer a ninguém também, é quase como se não tivesse nenhuma reacção. E senti que o acontecimento se concretizou dois dias depois, quando foi possível fazer essa partilha de informação. E então, junto com as pessoas da equipa e com as actrizes, vivemos esse momento de felicidade que esperamos que vá dar alguma visibilidade ao filme em si.
Então, já falou das actrizes. Poderíamos falar, por exemplo, de uma delas, que é a Sanaya Andrade. Como é que você escolheu este elenco?
Foi um processo muito, muito longo. Eu comecei a viajar ao Fogo a partir de 2016 de forma regular, durante a escrita do filme. E em 2021, fiz uma primeira viagem com duas pessoas da equipa que foi uma área de "repérage" [reconhecimento] e nessa "repérage" conheci uma menina de cinco anos que afinal é a Nana, criança que aparece no filme, é a Daílma Mendes. E em 2023, quando o filme entrou quase em pré-produção, fizemos mesmo os "castings" oficiais do filme e confirmei a Daílma Mendes como Nana criança.
E então a minha equipa, a directora do casting local e a minha assistente de realização foram mesmo visitar todas, todas, todas as escolas de toda a ilha para encontrar um "match" com a Nana, criança que de alguma forma já tinha escolhido. E a Sanaya foi uma dessas pessoas e afinal foi a pessoa que foi escolhida para o papel de Nana adolescente.
Já referiu que de facto, a intriga ocorre nesta ilha do Sotavento cabo-verdiano, que é a Ilha do Fogo. É uma história de partidas, de regressos e daqueles que teimosamente ficam na ilha, não é?
Sim, acho que essas dinâmicas são dinâmicas, que são a essência, acho de ser uma pessoa cabo verdiana. Mesmo que seja uma pessoa cabo-verdiana que vive na ilha ou uma pessoa da diáspora cabo-verdiana. Esses movimentos nos acompanham muito durante a nossa vida. Que seja uma pessoa que nos visita, uma pessoa que nunca conhecemos antes, um tio, uma prima, seja pessoas que ficam na ilha e que quando ligam por telefone sonham, quase idealizam o mundo fora. E depois há pessoas da diáspora que sonham de voltar e alguns voltam e alguns não voltam. Porque, de alguma forma, o Ocidente torna-se a nova casa. Então o filme fala também desses movimentos e dessas dinâmicas.
Já referiu que foi um processo longo e ia-lhe perguntar como é que foi precisamente a escrita deste guião ? Eu sei que a senhora, embora tenha nascido na diáspora, precisamente no caso em Portugal e depois radicou-se na Suíça. A senhora a dada altura, ficava incomodada com a invisibilidade de Cabo Verde no mundo. Por ser um país pequenino, por ser um país arquipélagico que, muitas vezes, as pessoas nem sequer sabiam situar no mapa. Então fazia questão, de facto, em que a sua primeira longa metragem tivesse foco precisamente nesta terra, no Oceano Atlântico e, no caso, esta terra vulcânica !?
Digamos que eu acho que a infância é o ponto de partida do trabalho de muitos artistas, e de forma consciente ou inconsciente. E eu lembro-me de criança na Suíça. Cresci na Suíça, naquela altura, nos anos 90 Cabo Verde era muito, muito desconhecido. E, na verdade, ainda hoje, viajando pela Europa, dependendo um...
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Cantora guineense Eneida Marta lança música sobre Rainha dos Bijagós
8/21/2024
Eneida Marta é conhecida pelo seu estilo peculiar que busca casar nas suas músicas a modernidade com a ancestralidade dos povos guineenses. Dona de uma das mais belas vozes da música moderna guineense, Eneida Marta traz sempre nos seus trabalhos alguma reflexão sobre a difícil situação da maioria das crianças guineenses sem nunca descurar a canseira enfrentada pela mulher.
Como a própria diz, na história moderna da Guiné-Bissau, há e houve sempre grandes mulheres que não podem ser esquecidas. Uma dessas mulheres é a Okinka Pampa, aquela que foi a única mulher a ser coroada rainha de um dos povos da Guiné-Bissau, o povo Bijagó, das ilhas do mesmo nome.
"Okinka foi a rainha dos Bijagós. A rainha Okinka Pampa, como muitos sabem, sucedeu ao seu pai e foi encarregue de proteger os ancestrais da ilha e ser a guardiã das suas tradições. Numa época em que o colono português se preparava para ocupar o arquipélago dos Bijagós, como parte das suas reivindicações territoriais na África", começa por recordar Eneida Marta.
O reinado de Okinka Pampa ocorre entre 1910 e 1930, sucedendo ao pai, entretanto, falecido, mas foi tempo suficiente para enfrentar o colonialismo português, acabar com a escravatura nas ilhas Bijagós, pacificar aquele território, que estava devastado por guerras fratricidas e ainda fundar direitos da mulher que vigoram até os dias de hoje.
Entre o povo Bijagó, caso único na sociedade guineense, a mulher é quem escolhe o homem com quem casar e se um dia não gostar mais desse casamento, simplesmente despede o marido.
Eneida Marta explica que sempre quis homenagear os feitos de Okinka Pampa e através dela, todas as mulheres guineenses. Praticamente desde que começou a cantar de forma profissional nos finais dos anos 1990, que tinha em mente contar a história de Okinka Pampa, através da música.
"O tema ou a música, como se preferir, de Okinka Pampa, foi criada sensivelmente há quase um ano em Londres e então, desde aí deu-se o trabalho. Começou-se o trabalho desde da fase embrionária que começou em Londres e depois foi toda essa gravação ao longo dos meses e culminou com a filmagem do videoclipe, que foi em Dezembro de 2023. Esse projeto, no fundo, está a ser preparado há sensivelmente quase um ano," esclarece a cantora.
Agora que o projecto saiu da imaginação, Eneida Marta espera que a música e o videoclipe sejam apreciados nos quatro cantos do mundo. "Naturalmente, com essa bela homenagem feita a essa nossa rainha que foi tão importante para a Guiné-Bissau como para a África, é claro que eu quero atingir o mundo", diz.
Eneida Marta acredita ter trabalhado com os melhores realizadores de videoclipes no mercado português, daí o resultado que surpreendeu a própria. A ideia foi oferecer algo cinematográfico a quem assiste à música Okinka através do vídeo.
"O objectivo de fazermos um vídeo quase cinematográfico é propositado, claro. A ambição é muito grande em dar a conhecer a nossa Okinka Pampa. Não passa daquilo que eu disse. O objectivo deste trabalho é atingir o mundo e dar a conhecer Okinka Pampa. Trabalhei com um dos melhores em Portugal, que é o Wilson, que é o videógrafo com quem trabalhei e o Índio Nunes também na produção do vídeo. É claro que tem que chegar ao mundo. A história de Okinka Pampa realmente é e merece ser um filme", considera a artista.
A história de Okinka Pampa é tão valiosa quanto desconhecida até entre os próprios guineenses. Eneida Marta entende que se devia aproveitar o mote lançado pela sua música de homenagem à rainha do povo Bijagó para contá-la através de um filme. "É claro que o historiador Quinca Pampa daria um grande filme, digno de prémios. Disso não tenho a mais pequena dúvida", conclui Eneida Marta, cuja nova música pode ser encontrada nas várias plataformas das redes sociais.
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À descoberta de Ashley Fortes no metro de Paris
8/13/2024
No último ano, a voz de Ashley Fortes tem ecoado em diferentes estações do metro de Paris, o “maior palco” da capital francesa, onde milhares de pessoas passam diariamente. Fomos conhecer a cantora com origens cabo-verdianas, que homenageia Cesária Évora e que conquistou a etiqueta “Musicien du Métro”.
Estamos no “maior palco” de Paris, aquele por onde passam milhares de pessoas todos os dias. É nesta azáfama dos corredores do metro que ecoa a famosa “saudade” da “diva dos pés descalços”, cantada por uma jovem francesa, de 33 anos, com raízes cabo-verdianas.
Ashley Fortes começou a cantar no metro de Paris há cerca de um ano e faz parte do grupo de 300 músicos (seleccionados entre cerca de 1.000) que conquistaram a etiqueta de “Musicien du Métro”. Uma vitrina internacional que também permite ganhar a vida e complementar o seu trabalho de professora de canto.
“Eu adoro cantar no metro. Ontem, uma mulher parou e ficou uma hora a ouvir-me e disse-me ‘Você foi o meu sol neste dia’. Ver estas pessoas faz com que eu saiba porque canto. O metro é uma maneira de atingir muitas pessoas e eu adoro”, conta à RFI na estação de Saint-Lazare, durante a última semana dos Jogos Olímpicos de Paris.
Os corredores do metro de Paris foram também os primeiros palcos do músico americano Ben Harper ou do cantor nigeriano Keziah Jones. Ashley Fortes sabe disso e espera que novas oportunidades nasçam desta aventura.
Eu adoro porque tem gente de todo o mundo que passa. É outra dimensão. Eu canto para todo o mundo!
Ashley Fortes participou, em 2017, no programa televisivo em França “Nouvelle Star” e chegou à meia-final. Actualmente, está a preparar o seu primeiro EP e, em Junho, lançou o mais recente single intitulado “A Toutes les Femmes”.
Descubra a história de Ashley Fortes, as suas origens, as suas inspirações e os seus projectos neste programa ARTES de 14 de Agosto de 2024.
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Reforçar a identidade africana com "Os Bantu na visão da Mafrano"
7/30/2024
"Os Bantu na visão de Mafrano" é uma colecção que reúne os textos que Maurício Francisco Caetano, Mafrano, dedicou à Antropologia Cultural Bantu.
A publicação da obra vem colmatar lacunas e recuperar património essencial para o melhor conhecimento da história, cultura e tradições dos povos Bantu.
A riqueza da herança deixada por Mafrano, que é de particular interesse para os investigadores de áreas como a Antropologia, as Ciências Humanas ou a História, tem também o seu papel como pilar na construção da identidade africana.
Grande parte destes textos, agora reunidos numa colecção editada em Portugal pela Perfil Criativo, foram publicados ao longo de décadas em diferentes jornais e publicações de Angola no tempo colonial, outros encontravam-se nas mãos de amigos e familiares.
Durante mais de uma década, o jornalista e escritor angolano José Soares Caetano, filho de Mafrano, e restante família garimparam todos os locais onde suspeitavam que poderiam encontrar textos de Mafrano. Agora, publicados dois dos três volumes da colecção, está reforçada a afirmação da ancestralidade africana e da sua História.
Link editora: https://shop.autores.club/pt/
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Toumani Diabaté, “um ícone e uma lenda”
7/23/2024
Toumani Diabaté é um dos mais reconhecidos intérpretes contemporâneos da kora, considerado por muitos como o “rei da kora”, um instrumento de 21 cordas, típico da África ocidental e da cultura mandinga. Toumani Diabaté morreu, na sexta-feira, aos 58 anos, mas deixa uma herança intemporal que alia tradições ancestrais e modernidade. Para o músico guineense Nino Galissa, Toumani Diabaté é “um ícone e uma lenda”.
Toumani Diabaté nasceu em 1965 numa família de contadores de histórias e de músicos e começou a tocar ainda em criança. O pai era Sidiki Diabaté, um dos intérpretes no primeiro álbum de kora gravado, o “Cordes Anciennes”, de 1970. Inspirado pelo ambiente onde cresceu e pelo instrumento de vários séculos, Toumani Diabaté tornou-se num embaixador da música africana e tocou com imensos músicos, desde outro virtuoso da kora, o maliano Ballaké Sissoko, e o cantor e guitarrista também maliano Ali Farka Touré. Também se interessou por outras sonoridades, incluindo o flamenco, o jazz, o blues, a pop e tocou com a islandesa Björk, o norte-americano Roswell Rudd, o brasileiro Arnaldo Antunes, o britânico Damon Albarn, o francês M, entre muitos outros. No meio da world music, é enaltecido pelo disco “In the Heart of the Moon”, gravado em duo com o guitarrista maliano Ali Farka Touré, e “Boulevard de l’Indépendance”, à frente da sua Symmetric Orchestra.
Neste programa, falámos com o músico guineense Nino Galissa sobre Toumani Diabaté. Para o também tocador de kora, que está a criar uma escola para ensinar este instrumento na Guiné-Bissau, Toumani Diabaté é “um ícone e uma lenda” que conseguia transmitir plenamente “o mistério” da kora.
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Terminal (O Estado do Mundo) de Inês Barahona e Miguel Fragata em Avignon
7/17/2024
Terminal (O Estado do Mundo) de Inês Barahona e Miguel Fragata é o segundo espectáculo de um díptico que aborda a crise climática. A criação mostra-nos uma “grande crise” que assenta em “desigualdades” e “escolhas políticas e económicas”, num lugar de onde “não há saídas”. A peça pode ser vista até ao próximo domingo, 21 de Julho, no Festival de Avignon.
Terminal (O Estado do Mundo) de Inês Barahona e Miguel Fragata é o segundo espectáculo de um díptico que aborda a crise climática. A criação mostra-nos uma “grande crise” que assenta em “desigualdades” e “escolhas políticas e económicas”, num lugar de onde “não há saídas”.
“Terminal (O Estado do Mundo)” é precisamente este espaço de tensão entre, por um lado, a aceitação e a resignação e, por outro, o desejo de “mudar o mundo”, rumo a uma saída.
Miguel Fragata: Quando nos decidimos lançar nesta aventura de criar, de pensar teatralmente sobre a crise climática, ficou logo muito claro que nos interessava esta dimensão do díptico. Ou seja, por um lado, de pensar como é que se podia falar sobre esta questão tão avassaladora com as crianças e pensá-lo numa escala que fosse mais reduzida, mais intimista, que pusesse também em cena - e essa era a premissa para o primeiro espectáculo - grandes catástrofes naturais numa pequena escala. O espectáculo joga muito nessa dimensão de manipulação de miniaturas, no sentido de criar grandes catástrofes.
Depois, criar um segundo espectáculo que fosse para o público adulto e que tivesse uma outra escala e que pudesse abordar a crise climática de uma outra forma.
Para o espectáculo “O Estado do Mundo (Quando acordas)” foi muito importante fazermos uma pesquisa em torno de estudos científicos, de uma dimensão objectiva da crise climática, também no sentido de criar um chão comum e democrático para todos. Uma necessidade de que todas as crianças e adultos possam ter domínio sobre o assunto para depois poder falar sobre ele. Esse primeiro espectáculo passa muito por essa premissa.
Para o “Terminal (O Estado do Mundo)” interessava-nos muito escutar aquilo que as pessoas no território tinham a dizer sobre a crise climática. Então, ao longo de todo o ano de 2023, nós levamos a cabo uma longa pesquisa em que lançámos muitas propostas diferentes, que envolveram também outros artistas, outros pensadores, outras pessoas de várias áreas do conhecimento, para auscultar os públicos de maneiras muito, muito diversas. Ao longo do ano, íamos fazendo estações, de uma semana em cada local, em que levávamos a cabo uma série de actividades, desde teatro que acontecia sem aviso prévio em lugares não convencionais, em que auscultávamos as pessoas de uma forma directa, interpelando-as. Tínhamos ocupações de rádios locais, bibliotecas itinerantes. Tínhamos a construção de dois documentários que exibimos agora também aqui, no âmbito do Festival de Avignon, no Cinema Utopia, e que são os dois resultados diferentes desse trabalho.
Um deles [“Regresso ao Futuro”] tem a ver com a relação de pessoas com lugares e relações emocionais com lugares que se alteram drasticamente ao longo da passagem do tempo, da passagem climática pelos lugares. O outro, os “Improváveis de costas voltadas” é um trabalho em que púnhamos pessoas improváveis de terem uma conversa em conjunto em diálogo. Todo esse trabalho alimentou o pensamento para a construção deste espectáculo.
A partir disso tudo, foram 27 localidades por onde passámos entre Portugal e França, reunimos todo esse material e começámos a pensar sobre ele e a construir este espectáculo, sabendo que nos interessava distanciar-nos também desse material. Ou seja, ele está de uma forma muito indirecta, muito imprecisa, através da escolha destas quatro personagens que habitam este lugar, com perspectivas muito diferentes sobre aquilo que é a realidade da crise climática. E é um pouco a partir daí o espectáculo nasce, a partir dessa experiência, a partir da relação com a pesquisa e a partir deste olhar muito mais filosófico,...
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“Os Monólogos da Vagina” discutiram sexualidade feminina em Angola
7/9/2024
A quarta temporada do “Os Monólogos da Vagina” esteve em palco este fim-de-semana, na Casa das Artes de Talatona, em Luanda. O espectáculo discute e desmistifica a sexualidade feminina. A quarta temporada contou com a participação das actrizes Naed Branco, Conceição Diamante, Sunny DIlage e Yolanda Viegas. Além das convidadas especiais Carla Castro e Elsa Marques.
“Os Monólogos da Vagina” é uma obra de Eve Ensler, foi adaptada para esta quarta temporada em Angola por Flávio Ferrão, que assume igualmente a pasta de direcção e encenação de mãos dadas com Flávio Ferrão e Marisa Octávio.
Esta nova edição contou com “monólogos de continuação”, como explicou à RFI Marisa Octávio, ou seja, o monólogo do mesmo personagem será interpretado por várias actrizes como se fossem uma só: “Vão ter que fazer os mesmos gestos, ter o mesmo timbre da voz, estar com o mesmo adereço de cena. Vai ser só uma pessoa, mas representada por três. É uma adaptação louca do Flávio Ferrão”.
A peça discute e desmistifica a sexualidade feminina que continua a ser um tabu para a sociedade, mesmo para a própria mulher. Marisa Octávio que integrou o elenco da peça numa das temporadas anteriores explica que o espectáculo só por ter “vagina” no nome acabou por ver várias portas fechadas: “só o título da peça “Os Monólogos da Vagina” já fez com que fechassem muitas portas para nós em termos de apoio, televisões que não quiseram passar, rádios… por causa do nome vagina. Continua a ser um tabu.”
Marisa Octávio sublinha a importância desta peça para desmistificar o termo vagina e lhe dar a devida importância: "Nós fomos todos educados, na minha geração, com ‘o lá em baixo’, não podíamos dizer o nome vagina, que era sujo. Usamos periquita, pombinha, borboleta, só para não dizer a palavra, que é como braço, cotovelo, olho ou nariz. Nós fomos criados numa redoma que vagina é um sítio sujo. Não se pode falar. São asneiras. Estás a dizer disparates."
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"Pirinha" mostra que há esperança para as vítimas depois do abuso sexual infantil
7/3/2024
Em Cabo Verde, o abuso sexual infantil, muitas vezes cometido por familiares ou pessoas próximas das crianças, é um flagelo que toca todos os anos centenas de menores. De forma a mostrar que este é um trauma real e que deve ser denunciado, mas que também é possível ter esperança num futuro melhor, Natasha Craveiro escreveu e realizou o filme-documentário "Pirinha".
Só nos primeiros seis meses de 2024, já foram denunciados em Cabo Verde 84 crimes de abuso sexual contra crianças, muitas vezes abusos cometidos dentro das próprias famílias. Para a realizadora Natasha Craveiro trata-se apenas da ponta do icebergue, já que muitas vítimas acabam por não denunciar os seus abusadores, sendo assim necessário começar um debate nacional sobre este tipo de abusos, algo que o filme "Pirinha" quer iniciar no arquipélago.
"Os abusos acontecem há imenso tempo. Não é nada novo. O que nós conseguimos agora ver é apenas a ponta do icebergue. As denúncias são só os casos que se sabem, porque há toda aquela outra parte do icebergue que está submerso, que ninguém sabe, que ninguém vê, que fica no segredo das famílias e que ninguém fala. A grande maioria destes abusos em Cabo Verde acontece dentro das famílias ou por pessoas muito próximas. Daí que eu acho que a qualquer momento é importante falar sobre isso, porque continua a ser tabu. As pessoas continuam a denunciar muito pouco. O trabalho que tem sido feito a nível da prevenção para mim, no meu ponto de vista, não tem surtido efeito. Daí que nós temos que falar sobre isso, temos que colocar esse assunto na mesa. E isso passa pela exibição de filmes como este, a ideia é levá lo a todas as ilhas", disse Natasha Craveiro.
O filme já passou na ilha de Santiago, na ilha do Maio e até Setembro será mostrado em todas as ilhas do arquipélago em sessões em escolas, universidades e edifícios públicos para abranger o máximo da população. Estas sessões são acompanhadas por um psicólogo, levando a debates entre a audiência.
"O filme tem sido muito bem recebido. Nós temos tentado fazer exibições em comunidades nas escolas, onde tentamos criar um espaço seguro para os alunos. Fazemos um debate logo depois do filme, com a presença de um psicólogo ou de uma psicóloga. Quando acontece nas escolas, nós tentamos evitar que os professores façam parte daquele diálogo exactamente para criar esse ambiente de segurança para para os adolescentes. E temos feito junto das comunidades como aconteceu na Ilha do Maio. Inicialmente, as pessoas não querem intervir, não querem começar a falar no debate. Mas depois percebe-se. Eu lembro-me na Calheta, foram as senhoras mais velhas que tomaram a palavra e que trouxeram as preocupações. Portanto, existem essas preocupações. Existe um grande tabu. As pessoas têm receio de falar. Muitas vezes para evitar que a vítima seja novamente vítima da sociedade e das comunidades. Mas tem sido muito bom esse contacto direto com as pessoas quando veem o filme", declarou a realizadora.
O filme-documentário "Pirinha" é narrado na primeira pessoa por uma vítima de abuso que conta as dificuldades da superação deste trauma, mostrando momentos ternos da infância com a avó ou a brincar, intercalando com lembranças obscuras dos abusos aos quais foi sujeita. No entanto, a mensagem é de esperança.
"A mensagem é que existe vida depois do abuso. Não é suposto acontecer. Não devia ter acontecido, não deve acontecer. Mas quando tudo falha e acontece, ainda há esperança. Ainda é possível ter uma vida. É preciso também ter um sistema preparado para ter todos os elementos necessários para percorrer esse caminho da cura. No filme, vemos aquelas memórias afectivas à volta da avó. Eu fui buscar os recursos internos dela. Foram as memórias afectivas dessa vida com a avó. A vida despreocupada, essa vida normal. A avó com afecto, com cuidado com as coisas que que devem fazer parte da vida de uma criança. Esses elementos têm que estar na vida da vítima. Ela tem que ter alguém para a ajudar a resgatar os recursos...
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Redifusão - As histórias de Cargaleiro na “aldeia dos artistas”
6/30/2024
Manuel Cargaleiro já tinha deixado a sua marca em Paris numa das mais conhecidas estações de metro, a Champs Elysées-Clémenceau, mas a capital francesa pediu-lhe mais. Aos 92 anos, o artista português juntou aos painéis de azulejos instalados em 1995 novas obras que são inauguradas esta segunda-feira. Nesse dia, o pintor e ceramista vai ser duplamente condecorado por Portugal e Paris. Nesta entrevista, realizada em 2017, o "mestre" recorda os tempos iniciais em Paris, quando a cidade era "uma aldeia de artistas".
Esta segunda-feira, Manuel Cargaleiro vai inaugurar novos painéis na estação Champs Elysées-Clémenceau, em Paris, e depois vai receber a Medalha Grand Vermeil, a mais alta condecoração da cidade, e a Medalha de Mérito Cultural de Portugal na presença do Primeiro-Ministro português.
Galardões que se juntam a outros de um artista que vive em Paris desde 1957, que conviveu com nomes precursores da arte contemporânea como Max Ernst, Hans Arp, Serge Poliakoff, Alfred Manessier, Sonia Delaunay, Zao Wou-Ki, Maria Helena Vieira da Silva, Arpad Szènes, Roger Bissière, Natalie Gontcharova e Michel Larionov, entre muitos outros.
Era também vizinho de Picasso mas tinha uma admiração tão grande por ele que não teve coragem de falar com ele… À sua casa, no bairro dos artistas, vinham bater muitos portugueses que chegavam clandestinamente a França…
Uma conversa sobre arte, memórias e muito trabalho num ateliê repleto de telas e centenas de desenhos e guaches…
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Humoristas em França são "cada vez mais cuidadosos" após piada levar a demissão na rádio pública
6/25/2024
O humor em França tem uma longa história e tradição, mas nos últimos meses o afastamento de um conhecido humorista, Guillaume Meurice, das antenas da rádio pública devido a uma piada sobre o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu abalou o país. Em entrevista à RFI, o humorista franco-português, Mike de Sá, diz que actualmente os humoristas são "cada vez mais cuidadosos" quando estão em palco.
Berço da Declaração de Direitos do Homem de 1789, a França tem uma longa história de liberdade de expressão. Antes desta declaração, foram homens como Moliére ou Voltaire que desafiaram as convenções sociais vigentes para com ironia para chamar a atenção da sociedade para problemas importantes do seu tempo, mais tarde, já nos anos 80, humoristas como Coluche comentavam de forma simples e mordaz a vida francesa.
Uma tradição de humor que passa actualmente por comentários na rádios, onde vários humoristas fazem crónicas matinais onde esmiuçam a vida política e a actualidade. Guillaume Meurice, um humorista que intervinha na France Inter, a rádio mais ouvida em França, fazia regularmente programas onde entrevistava vários cidadãos anónimos brincando depois com as respostas sobre as preferências políticas ou posicionamento dos franceses em conflitos internacionais.
No final de Outubro de 2023, o humorista fez uma referência ao primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu que levou a duas queixas por referências anti-semitas. Esta queixa foi depois arquivada e Meurice ilibado, com o humorista a fazer a mesma referência no mês de maio. Nesse momento, a direcção da Radio France, grupo público que detém a France Inter, suspendeu-o das suas emissões, tendo-o em seguida demitido por "deslealdade repetida". Esta demissão foi contestada por vários humoristas, com muitos a baterem a saírem também da France Inter.
Mike de Sá, humorista franco-português e fundador do espectáculo Portugal Comedy Club, considera que os humoristas em França têm cada vez mais cuidado com as suas piadas e a sua repercurssão na internet.
"O trabalho que fazemos é suposto ser, sobretudo, baseado na liberdade de expressão. Mas, de um modo geral, somos cada vez mais cuidadosos. É esse o problema. Já não estamos na época de Coluche ou de Desproges, em que as pessoas tomavam a liberdade de dizer certas coisas que, na altura, também já as penalizavam. Hoje, o que fazemos, o que somos, no fundo, é desdramatizar o que se passa na sociedade. Simplesmente, para mim, se há uma piada de que não gostamos ou que nos magoa, então não é uma boa piada. Desproges até dizia isso, que não se pode rir de tudo e não se pode rir com qualquer um. Mas hoje em dia está tudo nas redes sociais. Fazemos uma piada de um minuto e só vai para as redes uma parte mais escandalosa. Isola-se só a parte que pode ter sido ofensiva. Portanto, hoje está a ficar um pouco complicado. No caso de Guillaume, a piada que deu origem a esta polémica não me fez rir, mas também não me chocou. Agora, ele está num campeonato diferente. Meurice é provocador, muito político. Por isso, não fiquei surpreendido com o que ele fez. Quanto aos outros comediantes que também se demitiram, eu consigo compreender a solidariedade e claro que se sentem ameaçados. Eles sentem quase que têm de se policiar a cada piada. Agora, as piadas é como tudo, não se pode agradar a toda a gente, por isso as pessoas ou gostam ou não gostam", disse o humorista.
Por ser uma rádio pública onde, apesar de alguns incidentes, a liberdade criativa parecia assegurada, a demissão de Guillaume Meurice levou a um movimento de solidariedade não só de colegas, mas também de ouvintes, com o comediante a ter feito mesmo uma festa de despedida aberta a todos no final da semana passada. Esta demissão chocou Mike de Sá.
"A situação com a France Inter chocou-me um pouco porque ele foi ilibado e o tribunal disse que não houve racismo. É isso é que é doloroso nesta história. A piada dele não foi considerada racista. O que se passou depois, é que houve...
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Portugal "revelou-se" ao grande público no Festival de Animação de Annecy
6/19/2024
O Festival de Cinema de Animação de Annecy bateu recordes de participação com Portugal como país convidado. Uma forma de um público alargado descobrir a animação portuguesa, já muito premiada neste e noutros certames.
Entre 9 e 15 de Junho, milhares de pessoas estiveram em Annecy para a edição número 65 do Festival de Animação. Este ano, o certame bateu recordes com mais de 17.400 profissionais e estudantes acreditados e outras tantas milhares de pessoas que encheram as salas de manhã à noite, como explicou o director deste certame, Marcel Jean, em entrevista à RFI.
"O Festival de Annecy está a ser mais frequentado por mais pessoas do que nunca. Temos um número recorde de visitantes e tivemos também as salas cheias durante toda a semana. Este ano, chegámos a ter sessões muito cedo, às 8h30 da manhã, e as salas estavam cheias. Portanto, desde as 8h30 da manhã até à meia-noite. Estamos muito satisfeitos com isso", explicou.
Esta fidelidade do público, assim como a importância dos filmes aqui mostrados que todos os anos fazem evoluir o cinema de animação em todo o Mundo tornam-no numas das mais importantes mostras a nível global.
"No que diz respeito a filme de animação, este é de longe o maior evento do mundo e o que contribui para o sucesso de Annecy é a qualidade do seu público. É um público maioritariamente composto por profissionais e jovens profissionais. Ou seja, há vários milhares de estudantes que vêm a Annecy todos os anos, estudantes de animação que vêm sobretudo da Europa, mas também de todo o mundo. E estas pessoas têm uma capacidade de reconhecer o trabalho que implica o cinema de animação e uma sede de aprender, uma sede de conhecimento que explica por que razão sessões como making of, as masterclasses e os work-in-progress fazem tanto sucesso em Annecy, tal como as projecções de filmes acabados", disse Marcel Jean.
Este ano, Portugal foi o país convidado deste encontro. Um convite óbvio para Fernando Galrito, director do Festival Monstra, em Lisboa, já que o cinema de animação português tem dado provas da sua qualidade em Annecy e em todo o Mundo.
"O cinema de animação português é considerado, em termos internacionais, como um dos melhores da Europa. Para não dizer até, se calhar do mundo. Só para lhe dar uma ideia, o cinema português mais premiado internacionalmente é o cinema de animação. Cerca de 70% dos prémios que já foram atribuídos ao cinema português são de animação. Ou seja, aquilo que nós fazemos em termos de animação é de muito boa qualidade e é apreciado no mundo inteiro. Depois também faz todo o sentido, porque também a nossa história aqui com o festival de Annecy já é longa. Nós já tivemos Cristal de Ouro, já tivemos vários filmes premiados, muitos filmes na competição, tivemos na última edição do festival, tivemos duas longas metragens, o que nem sempre acontece com países, pelo menos com a dimensão de Portugal. Isto revela uma qualidade e uma quantidade de trabalho que é feito, especialmente do ponto de vista autoral, muito forte e muito bom. Daí que eu acho que temos mais do que reunidas todas as condições necessárias para podermos ser um dos países convidados do Festival da Annecy. Pelo que eu vou ouvindo nas reacções do público, dado que tenho apresentado muitas das sessões retrospectivas, as pessoas adoram aquilo que foram vendo e aquilo que é a nossa participação no festival", relatou Fernando Galrito.
A participação portuguesa acabou por se traduzir num prémio, com as realizadoras portuguesas Alexandra Ramires e Laura Gonçalves a levarem para Portugal o prémio Cristal na categoria de melhor curta-metragem. A excelência do cinema de animação português é também uma evidência para Marcel Jean, com o país a abrir-se e revelar-se ao grande público.
"Ter Portugal como país convidado é uma aposta que este ano deu frutos, na medida em que o cinema português se desenvolveu bastante nos últimos 25 anos. A animação desenvolveu-se bastante e o público teve muita curiosidade em ver o que se está...
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Bailarinos moçambicanos celebram dança em Paris
6/12/2024
A faltar pouco mais de um mês para o arranque dos Jogos Olímpicos de Paris, o coreógrafo francês Benjamin Millepied orquestrou 'A cidade dançada'. Os bailarinos invadiram a capital francesa para celebrar a dança. Ao todo, onze espaços, doze coreógrafos em diálogo com a cidade. Idio Chichava apresentou dois espectáculos "Vagabundos" e "Dzuda". O coreógrafo moçambicano conta-nos que sentiu, durante os espectáculos, a confirmação de que "o mundo precisa de mais abertura e de mais partilha".
Vagabundos é uma "peça sobre viagem e sobre como entrar e experimentar em cena", começa por explicar o coreógrafo, acrescentando que a ideia é "mostrar as nossas experiências, enquanto bailarinos e tocar essas experiências faz parte de uma viagem, daquilo que nos constituem enquanto bailarinos. Vagabundos faz sentido para mim porque estamos sempre à procura de um destino ou de um melhor momento... Estamos sempre à procura de melhorar ou de chegar a algum lugar com o nosso corpo, com as nossas emoções, com a nossa energia. É por isso que esta peça se chama vagabundos".
Em palco estão 13 bailarinos que dançam e cantam, em simultâneo, Idio Chichava explica que se trata de uma experiência que passa pela experiência do corpo; "cantamos e dançamos porque isso faz parte da nossa formação como bailarinos tradicionais. Em Moçambique, um bailarino tradicional tem de cantar também. Não tem que cantar com eficiência, com muita técnica, mas tem que cantar para reforçar o grupo. Neste vagabundos, olhei para o lugar onde o canto e a dança podem encontrar-se e criar aquilo que eu chamo de presença total ou de corpo global". O coreógrafo explica-nos o que quer dizer por corpo global; "é cantar e dançar. Perceber como a voz e o movimento podem criar juntos uma espécie de expressão intensa, uma espécie de energia que possa atravessar o público de forma simples e natural, mas com muita presença, muita voz e muito corpo dos bailarinos".
A maior parte dos cantos ou das composições são tradicionais. Idio Chichava prefere que a composição seja construída a partir do corpo, "a partir da necessidade do corpo respirar, criando variações, silêncios e todas as suspensões. A composição musical é feita a partir do corpo, não a partir do canto, e da necessidade de comunicar com outros corpos".
O coreográfico explica que a maior parte dos movimentos não são movimentos inventados, uma vez que"fazem parte de um repertório ou do nosso vocabulário de danças tradicionais de Moçambique".
O espectáculo Dzuda foi apresentado na tarde de sábado no telhado da Filarmonia de Paris, um espaço aberto com vista para a cidade de Paris. "Dzuda é uma tradução directa do changana que quer dizer vasculhar. É um termo que se usa no mercado popular em Maputo, no mercado de Xiquelene. Esse mercado diz muito daquilo que é a população contemporânea de Moçambique, composta por uma emigração nacional ou emigração local de dentro para dentro. É uma espécie de amplificação daquilo que é a cor ou que são as sonoridades da cidade de Maputo, da periferia da cidade de Maputo. Isso de vasculhar é mais ou menos no interior, no interior de nós, enquanto moçambicanos que têm essas variedades de sons, de línguas", explica.
Em Paris o espectáculo criou um momento de harmonia, "uma viagem em direcção à felicidade, à alegria, à partilha. O telhado da Filarmonia foi um cenário totalmente feito para Dzuda porque contempla o espaço, contempla a perspectiva visual e cria uma possibilidade de querer chegar em algum lugar. Uma certa forma de esperança, questionando: 'porque não celebrar? Porque não dançar? Porque não dançar?", questiona o coreógrafo.
"Na Filarmonia tive uma sensação confirmada de que o mundo precisa realmente de mais abertura e de mais partilha. Senti que o público queria entrar no espaço e dançar com a equipa. Aqui na pista de patinagem confirmou-se a mesma coisas. Este foi um espaço feito para este espectáculo Vagabundos. Um lugar popular, um lugar de encontro, um lugar de baile, um lugar onde...
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Cantora cabo-verdiana Verónica Lii lança single sobre a saúde mental
6/5/2024
Verónica Lii, cantora de 33 anos, de ascendência cabo-verdiana, lançou, no passado mês de maio, um novo single intitulado "Mi só", que aborda a temática da saúde mental, com especial destaque para a depressão.
A artista ingressou no mundo da música em 2005, canta essencialmente kizomba e um dos seus grandes objectivos futuros é conseguir a internacionalização da sua carreira, começando primeiro pelos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.
Em entrevista à RFI, Verónica Lii, cujo nome real é Vera Semedo, falou-nos sobre o amor que nutre pela música e também sobre as suas origens cabo-verdianas. Para além disso, a artista explicou-nos um pouco mais sobre o seu mais recente single que pretende consciencializar a sociedade para a depressão, uma doença cada vez mais recorrente nos dias actuais.
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