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Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.
Location:
Paris, France
Networks:
RFI
Description:
Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.
Language:
Portuguese
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Em Paris, Gilmar Mendes defende regulação das redes sociais e critica modelo atual: “Envelheceu”
6/3/2025
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, afirmou que o artigo 19 do Marco Civil da Internet precisa ser revisto diante dos desafios contemporâneos impostos pelas plataformas digitais. O magistrado defendeu, em entrevista à Rádio França Internacional (RFI), uma maior responsabilização das redes sociais e destacou a necessidade de o Brasil se inspirar em legislações europeias para enfrentar a desinformação e proteger a democracia.
Nesta quarta-feira (4), o STF retoma o julgamento sobre a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que estabelece que conteúdos só podem ser removidos mediante ordem judicial. Para Gilmar Mendes, essa regra já não responde aos desafios atuais.
“Esse modelo, de 2012, 2014, quando se falava na neutralidade das plataformas, envelheceu. Ele cumpriu uma função importante, mas hoje estamos sofrendo as distorções diante da evolução das redes e dos problemas que enfrentamos, como fake news e ameaças à própria democracia”, afirmou.
O ministro fez uma palestra na segunda-feira (2) no Seminário franco-Brasileiro de Rádio e Televisão organizado pela ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão) na Embaixada do Brasil em Paris, onde destacou a necessidade da regulação das redes sociais, o que não significa, segundo o decano, comprometer a liberdade de expressão.
“Regular as redes sociais não é tolher, ou de qualquer forma mitigar o direito fundamental à liberdade de expressão”, declarou no evento. Gilmar Mendes estacou que o tribunal caminha para uma interpretação que permita a retirada de conteúdos mediante simples notificação às plataformas, sem necessidade de decisão judicial. “É uma mudança significativa no caminho de uma maior responsabilização das plataformas”, explicou.
Brasil é exemplo
Durante a entrevista à RFI, Gilmar Mendes também criticou o modelo de negócios das redes sociais, que, segundo ele, se alimenta da polarização e da desinformação. “As plataformas têm sucesso com a conflituosidade. Notícias factuais não geram engajamento. O que gera engajamento são matérias polêmicas, muitas vezes falsas. Isso está ligado à monetização”, disse.
Ele defendeu que o Brasil siga o exemplo de países como França, Alemanha e Reino Unido, que já adotaram legislações mais rígidas. “As fake news não são um problema brasileiro, nós vimos inclusive nos debates as revelações de manipulações, inclusive com inteligência artificial”, afirmou. Para o decano do STF, o Brasil deve servir de exemplo, fazendo referência aos ataques de 08 de janeiro e um sistema de propagação de desinformação adotado no governo anterior. “Tivemos abuso, um governo que abusou das fake news, tinha lá o tal ‘gabinete do ódio’. As instituições se mostraram resilientes, mas nós temos consciência de que precisamos fazer uma boa regulação e, claro, temos muito a aprender com os avanços que já se detectam na Europa”, concluiu.
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Livro 'Tudo é Rio', da escritora brasileira Carla Madeira, é lançado na França
5/28/2025
Fenômeno literário no Brasil e em Portugal, a escritora Carla Madeira lança agora seu best-seller “Tudo é Rio” em francês. “L’Amour Fleuve” chegou às livrarias de Paris no dia 26 de maio, atraindo os leitores brasileiros, que já acompanham a obra da autora, e atiçando a curiosidade do público local.
Em uma viagem pela Europa para participar de diversos eventos, Carla Madeira desembarcou na capital francesa para o lançamento de “L’Amour Fleuve”, mas também para conversas com leitores brasileiros e franceses. A autora, que participou do encontro literário Printemps Brésilien, na universidade Sorbonne Nouvelle, conseguiu uma brecha na agenda para contar um pouco sobre seus projetos nos estúdios da RFI.
“Tudo é Rio” elevou o nome de Madeira ao patamar de escritora mais vendida do Brasil na categoria ficção em 2023. A obra também foi eleita Livro do Ano em Portugal, no ano passado. Em seguida foi lançado em italiano e agora em francês.
“Tem sido uma experiência muito rica, porque é a possibilidade de estar vivendo toda essa reflexão que envolve o fazer literário. Todas as conversas e muita imersão em assuntos importantes para a minha literatura, para minha escrita”, disse.
Sobre ver sua obra publicada em outros idiomas, Carla Madeira contou um pouco sobre o processo de confiança que precisou estabelecer com os tradutores, especialmente porque seus livros abordam elementos-chave da cultura brasileira, que precisam muitas vezes de um olhar mais criterioso para serem compreendidos pelos leitores estrangeiros.
“Quando ‘Tudo é Rio’ chegou em Portugal, eu comecei a pensar sobre isso, em como as minhas histórias têm uma sonoridade brasileira, passa muito pelos sons de Minas Gerais, e tem esses conteúdos que fiquei na dúvida se o leitor teria aderência. Mas fiquei muito impressionada com o alcance, com o caráter universal dessas questões, da sexualidade, da religiosidade, da violência, da maternidade. São assuntos que estão fazendo sentido aqui. Eu tive conversas com os tradutores, mas é um processo que você tem que confiar na escolha da editora. Com alguns eu tive conversas mais demoradas e eles recorriam a mim para esclarecer dúvidas e abordagens. Assim a gente vai aprendendo a confiar e entregar”, explicou.
“Tudo é Rio”
Carla Madeira disse que não esperava o enorme sucesso de “Tudo é Rio”, e que não sabia nem que a história se tornaria um livro. “Eu não sabia se seria um conto ou se seria algo que você escreve e põe na gaveta. Mas aí eu escrevi a cena central, que é muito violenta e paralisei por 14 anos. Quando retomei o livro, eliminei tudo o que vinha antes e recomecei exatamente desse lugar que tinha me paralisado. Escrevi em oito meses e, ao final, eu vi que tinha um livro. Lancei de maneira independente, em parceria com uma editora pequena, de Minas Gerais, a Quixote+Do, com tiragem pequena, muito tímida, de 700 exemplares. Mas depois vieram mil, depois três mil. E ainda nessa editora lançamos 10 mil exemplares, o que é significativo para qualquer livro, inclusive no Brasil. Aí eu fui para a Record, que é uma editora muito robusta”, contou, reforçando que o processo foi uma construção e não do dia para noite.
Quarto livro a caminho
Madeira conta que os seus três livros foram escritos em paralelo à sua vida profissional. Ela é publicitária e sócia de uma agência em Belo Horizonte, e explica que mesmo hoje dedicando um tempo maior à literatura, a escrita ainda ocupa um lugar de prazer na sua rotina.
“A literatura tem esse lugar de fruição, de prazer de estar escrevendo. Eu estou terminando meu quarto livro. Então eu tenho essa agenda, essa viagem, mas na hora em que eu tenho um tempinho, que posso ficar sozinha, abro o computador e me dedico. Tem que me arrancar dali porque eu tenho um gosto muito grande de escrever”, contou.
Sobre o tema e a previsão de lançamento da próxima obra, Madeira diz que está na fase de releitura e que gostaria que ele saísse esse ano. Mas tudo depende das agendas, especialmente as...
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Músico francês lança álbum com adaptações de canções de Jorge Aragão
5/28/2025
Apaixonado pela música brasileira e pelo Brasil, o músico francês Arthur Albaz se prepara para lançar em junho seu primeiro álbum, “Arthur Albaz chante Jorge Aragão”, uma homenagem a um dos maiores nomes do samba.
O projeto surgiu por meio de um convite de Fernanda Aragão, neta do músico brasileiro, que com a mãe, Tânia Aragão, gerencia o selo Aragão Music. No Instagram ela descobriu vídeos que Arthur Albaz, 29 anos, publica com versões de músicas brasileiras. Coincidentemente, o músico francês é casado com uma carioca fã de Jorge Aragão, com quem trabalhou para adaptar as faixas.
Ao todo, dez músicas foram selecionadas para serem adaptadas com um critério específico: “escolhi as canções de Jorge Aragão sobre o amor”. Albaz explica que com a imensidão da obra do ídolo carioca, ele decidiu se conectar com a energia e a emoção que sente ao ouvi-lo. “O trabalho foi feito junto com o amor da minha vida, falando do nosso amor e do que a gente sente também”, explica.
O processo foi tão romântico quanto eficiente. Em poucos meses, o casal reescreveu e gravou as dez faixas, todas elas cuidadosamente trabalhadas para respeitar a obra original. No entanto, as letras não puderam ser diretamente traduzidas para o francês. Por isso, em alguns versos, apenas o sentido foi adaptado; em outros, a similaridade da sonoridade entre as duas línguas foi o que guiou o trabalho. A faixa “Já é”, virou “J’irais” (irei, em português), mas “Doce Amizade” foi traduzida para “Sucré d’amour” (açucarado de amor).
“As letras [das músicas de Jorge Aragão] são maravilhosas, não dá para traduzir diretamente, não dá para adaptar a palavra original que cabe com a emoção das músicas”, afirma. “A gente não podia traduzir ao pé da letra porque em francês não ia corresponder a nada do que ele canta”, reitera Albaz.
Encarando esse desafio, o músico francês também se deu conta das nuances de cada idioma. “O jeito do brasileiro de comunicar é muito mais direto. O jeito francês vai para um lugar e depois para outro para falar sobre algo determinado”, observa. Para Albaz, não há dúvidas: quando o objetivo é expressar a emoção, o idioma português é mais eficiente.
Encontro com Jorge Aragão
O músico francês relembra, emocionado, o encontro com Jorge Aragão, em março deste ano, após um show do sambista na sala Circo Voador, no Rio de Janeiro. Albaz se surpreendeu com a humildade e a generosidade do ídolo, que além dos elogios ao projeto de seu álbum, também o convidou para se encontrarem no futuro.
“Um momento de sorte”, resume. “Eu não vejo a hora de sentar e conversar com ele novamente sobre esse trabalho e tocar ao vivo. Eu sei que ele gostou, mas eu quero saber mais”, reitera.
O lançamento do álbum antecede outro momento importante da vida de Albaz: a mudança para o Rio de Janeiro, no final deste ano. “Eu sou muito apaixonado pelo Brasil, muito mesmo. Realmente, eu queria ter nascido brasileiro. Eu falo isso para a minha mãe e o meu pai e eles também acham isso”, conta, aos risos.
Não por acaso, Albaz se inspira em um movimento de artistas franceses apaixonados pelo Brasil e que se transformam em uma espécie de transmissores da cultura brasileira na França. Um dos grandes representantes deste grupo é Pierre Barrouh, que participou do movimento da bossa nova, chegando a adaptar grandes clássicos da MPB para o francês.
“O Brasil, para quem conseguiu enxergar, é uma emoção que nunca sai. E a paixão que eu tenho pelo Brasil realmente construiu essa vontade de transmitir”, diz.
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Camila Pitanga participa pela 1ª vez do Festival de Cannes e reverencia o legado do pai
5/23/2025
A atriz Camila Pitanga está participando pela primeira vez do Festival de Cannes. Ela prestigiou a estreia do curta-metragem “Samba Infinito”, selecionado para a Semana da Crítica, e participou de outros eventos durante o maior festival de cinema do mundo.
Adriana Brandão, enviada especial da RFI a Cannes
Camila Pitanga faz uma participação especial no curta-metragem “Samba Infinito”, ao lado de Gilberto Gil. O filme do jovem diretor carioca Leonardo Martinelli foi selecionado para a importante mostra paralela Semana da Crítica.
Ela achou “incrível” representar o Brasil neste ano em que o país foi homenageado no Mercado do Filme, está na competição pela Palma de Ouro com “O Agente Secreto” e sente que participa de um movimento de renovação.
“Fazer parte de um curta, de cineasta expoente, é como se eu estivesse participando de um movimento de renovação do que é o ciclo do cinema”, diz, lembrando que seu pai, Antonio Pitanga, frequenta o Festival de Cannes há mais de 60 anos.
“O Pagador de Promessas”
O grande ator brasileiro atuou no único filme brasileiro vencedor da Palma de Ouro, até agora, “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, em 1962. Este ano, Antonio Pitanga está de novo nas telas em Cannes no documentário “Para Vigo Me Voy”, sobre a vida e obra de Cacá Diegues, de quem foi parceiro, amigo e construiu junto uma parte da história do cinema nacional.
“O legado de Antônio Pitanga é como se fosse um grande baobá. É um legado para o Brasil e para o mundo. Eu bebo dessa fonte, mas eu não estou aos pés de Antônio Pitanga. Ele é um farol que ilumina não só a minha caminhada, mas a caminhada de qualquer ator brasileiro”.
Leia ou clique na imagem principal para ouvir a entrevista completa
RFI: O que está achando dessa primeira participação no Festival de Cannes da sua carreira?
Camila Pitanga: Eu estou achando incrível poder estar no mesmo ano dessa homenagem ao Brasil no Mercado do Filme. Eu participo de um curta-metragem e estou achando muito curioso, muito excepcional. Tenho uma caminhada, mas acho que a vida da gente é sempre recomeço.
Fazer parte de um curta-metragem de um diretor expoente é como se eu estivesse participando de um movimento de renovação do ciclo do cinema. Sou filha de um ator do cinema, sou filha de Antônio Pitanga. Há mais de 50 anos, ele estava aqui recebendo a Palma de Ouro com o “Pagador de Promessas”.
Poder estar aqui participando nesse ano de celebração, fazendo um carnaval na Croisette, trazendo filmes que prezam pela inventividade, que prezam por um olhar crítico, mas ao mesmo tempo experimentando novas estéticas, é uma honra e uma emoção que não têm preço.
Justamente, o seu pai, António pitanga, participou do festival várias vezes. Atuou no único filme brasileiro que ganhou até agora a Palma de Ouro, “O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, em 1962. Você dá continuidade a um certo cinema autoral brasileiro em Cannes?
O legado de Antônio pitanga é como se fosse um grande baobá, que não fala sobre a filha e a atriz Camila Pitanga. É um legado para o Brasil e para o mundo. Eu fiz um documentário com o Beto Brant, querendo reverenciar e fazer com que as novas gerações pudessem reconhecer toda essa trajetória de vida artística, de contribuição, não só na cena cultural, mas na cena política brasileira.
Eu bebo dessa fonte. Honro com meu trabalho da melhor maneira possível, mas eu não estou aos pés de Antônio Pitanga. Ele é um farol que ilumina não só a minha caminhada, mas a caminhada de qualquer ator brasileiro.
Eu tive a honra de entrevistar o seu pai, Antonio Pitanga, há 2 anos, quando ele foi homenageado no Festival do Cinema Brasileiro de Paris..
Eu queria muito ter estado presente. Essa homenagem foi muito especial. Além da história da participação dele, ele é alguém que celebra, que renova. No festival do Rio do ano passado, meu pai estava presente em 3 filmes, sendo que em um deles acumulando o trabalho de ator e diretor, o “Malés”. Eu participo como atriz. É o segundo...
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“Samba Infinito”: curta de Leonardo Martinelli representa Brasil na Semana da Crítica de Cannes
5/21/2025
O curta-metragem “Samba Infinito”, de Leonardo Martinelli, com participação especial de Gilberto Gil e Camila Pitanga, está na competição da Semana da Crítica. O filme é o único representante do Brasil da importante mostra paralela do Festival de Cannes.
“Samba Infinito” se passa durante o Carnaval e acompanha a jornada de um gari que, mesmo estando de luto, trabalha na limpeza das ruas da cidade. Ele encontra uma criança perdida e decide ajudá-la.
Curta é feito de contrastes: alegria-tristeza, cultura popular-cultura de elite, trabalho-festa, realidade-fantasia. Ele simboliza uma das imagens mais fortes do Brasil que é o Carnaval. “A inspiração de fazer o projeto veio de juntar esses temas contrastantes e, ao mesmo tempo, muito brasileiros”, explica Leonardo Martinelli em Cannes
Ele lembra que a origem do Carnaval “vem de um legado da colonização europeia, mas também traz muitos elementos da diáspora africana, da cultura indígena. Então tudo acaba se misturando e formando algo unicamente brasileiro, e a gente busca retratar um pequeno fragmento disso no nosso filme”.
Gilberto Gil no elenco
Além da participação especial de Gilberto Gil, como um sábio guardião do Gabinete Real de Leitura, e de Camila Pitanga, o curta tem a atuação de Alexandre Amador e a estreia do ator mirim Miguel Leonardo. Para o jovem cineasta foi uma “sorte e honra ter esse elenco muito especial. Um quarteto que ilumina a tela”, celebrou ele.
Poder dirigir Gilberto Gil, particularmente, foi “a realização de um sonho porque ele é um artista brasileiro, na minha opinião, um dos mais importantes do século 20 e 21. Gil representa as contradições e as belezas que existem no ser brasileiro”, indica.
A primeira cena do filme é genial, uma ideia realmente de cinema. Uma placa de proibido fazer barulho parece estar na posição certa em uma rua torta.“É uma imagem que estava na minha cabeça há muitos anos, de um elemento da cidade que estivesse fora do lugar, mas que a câmera colocasse no lugar certo e colocando o resto da cidade do mundo de forma errada”, revela o diretor carioca.
Trilogia
“Samba Infinito” é o terceiro de uma trilogia de curtas musicais de Leonardo Martinelli, que começou com o primeiro filme do cineasta “Fantasma Neon”, e continuou com o “Pássaro Memória”. Segundo o diretor, Samba Infinito aborda temas que já estão presentes ao longo da filmografia dele, como “pensar como podemos habitar a cidade, como podemos representar o espaço público e, ao mesmo tempo, a relação da cidade com a labuta, com o trabalho”.
O curta foi selecionado entre os mais de 2 mil inscrito este ano e é o único brasileiro na competição da Semana da Crítica, independentemente do formato. “Já é um enorme prestígio, uma enorme premiação, essa seleção”, comemora Leonardo, enfatizando que “sempre sonhou estar em Cannes”, onde aproveita para buscar parcerias para a realização de seu primeiro longa-metragem.
Além disso, ele comemora poder estar representando o país nesse momento em que o cinema brasileiro está em evidência. “É muito especial!”
Os vencedores da Semana da Crítica serão conhecidos nesta quarta-feira, último dia da mostra. O Festival de Cinema de Cannes termina no sábado (24) e o brasileiro “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, é apontado como um dos grandes favoritos à Palma de Ouro.
Clique na imagem principal para ouvir a entrevista completa de Leonardo Martinelli em Cannes.
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Documentário sobre Cacá Diegues estreia em Cannes no dia em que cineasta completaria 85 anos
5/20/2025
O segundo filme brasileiro na seleção oficial estreou na segunda-feira (19) no Festival de Cannes. O documentário “Para Vigo Me Voy”, sobre a vida e obra de Cacá Diegues, integra a seção Cannes Classics.
A estreia aconteceu no dia em que o cineasta brasileiro, um dos mestres do Cinema Novo, completaria 85 anos. A seleção do filme, codirigido por Lirio Ferreira e Karen Harley, é uma homenagem do festival a Cacá Diegues, morto em fevereiro. Como salientou o diretor-geral do festival, Thierry Fremaux, o diretor brasileiro tinha uma relação histórica com Cannes.
Cacá Diegues participou de 12 vezes do festival de cinema francês, sendo oito delas como diretor, tendo concorrido três vezes à Palma de Ouro, três vezes como jurado e uma vez como produtor. O diretor participou das filmagens de “Para Vigo Me Voy”, concedendo entrevistas e abrindo o set de seu último filme “Deus é Brasileiro 2” para a equipe do documentário. Ele deveria estar em Cannes para esta estreia mundial, mas morreu antes de ver o filme concluído.
“Infelizmente, o Cacá não assistiu ao filme. Mas é uma alegria imensa, é muito emocionante toda essa trajetória e o filme ser lançado aqui no dia do aniversário dele”, festeja Karen Harley. “Onde ele estiver, eu acho que ele está muito feliz com essa estreia, com esse movimento todo de lançamento desse filme aqui”, completa Lirio Ferrreira.
60 anos de história do cinema brasileiro
O documentário tem imagens e depoimentos recentes do cineasta, mas é composto por trechos cronológicos de filmes e entrevistas de Cacá Diegues durante os 60 anos de sua carreira. Nesse percurso, também revela as últimas seis décadas do cinema nacional.
O título faz referência a um dos filmes cults do diretor, Bye Bye Brasil, que estreou justamente em Cannes, em 1980. “É uma espécie de abracadabra que o personagem do José Wilker diz quando vai fazer um truque”, lembra Lirio Ferreira. Para Karen Harley, essa referência sintetiza “todo o universo mágico do Cacá, extremamente lúdico, livre e alegre”.
Cinema político
Mas a obra do cineasta do Cinema Novo também era essencialmente política. “Ele é um dos grandes pensadores do Brasil, além de cineasta e cronista. Ele lutava muito pela democracia no Brasil, por um cinema popular, por uma política de audiovisual e por um cinema no Brasil consistentes, (para) que o Brasil deixasse de viver de ciclos de cinema”, salienta a codiretora de “Para Vigo Me Voy”.
Generosidade, intensidade e capacidade de renovação são também grandes legados do cineasta. “A gente está realmente vivendo momentos em que os inimigos ainda são os mesmos de uma outra maneira. A gente tem que sempre estar alerta. E eu acho que o exemplo de Cacá é significante para tudo isso”, ressalta Lirio Ferreira.
“Para Vigo Me Voy” concorre ao Olho de Ouro, prêmio de melhor documentário do Festival de Cannes, que termina no dia 24 de maio. O outro longa brasileiro da seleção, "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, concorre à Palma de Ouro.
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“O Agente Secreto” é um filme “absolutamente brasileiro”, define Wagner Moura em Cannes
5/19/2025
“O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, estreou neste domingo na competição oficial do Festival de Cannes. A equipe do longa, protagonizado por Wagner Moura, chegou ao tapete vermelho embalada por um bloco de frevo. O filme foi aplaudido com entusiasmo por vários minutos após a exibição e jà é citado como um forte candidato à Palma de Ouro.
“O Agente Secreto” se passa em Recife, em 1977, e explora as tensões políticas da época da ditadura militar brasileira. Essa é a primeira colaboração entre Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura. O diretor e ator concederam juntos uma entrevista à RFI em Cannes.
Para Wagner Moura, foi “libertador” voltar a atuar em português. Ele ficou muito feliz nas filmagens e com a colaboração inédita com Kleber Mendonça. Segundo o ator, “Agente Secreto” é um filme “absolutamente brasileiro”.
“Kleber transforma as referências dele em algo absolutamente brasileiro, de uma forma única. Quer dizer, é um cinema de gênero, que não foi inventado no Brasil, mas é um filme totalmente brasileiro. Isso faz com que esse filme seja um filme original, forte, potente, especial”, elogia Moura.
O cineasta pernambucano, afirmou que fez uma crônica de uma época. “É uma crônica em longa-metragem de um momento da história do Brasil que eu pessoalmente ainda lembro, porque eu era uma criança, mas, ao mesmo tempo, eu acho que tem muita pesquisa histórica”, afirma. O cineasta acredita que o filme fala de “resistência” porque mantém o “olhar na realidade”.
História
A trama acontece “em uma época cheia de pirraça” aponta uma legenda no início do filme. O longa segue o retorno do professor universitário Marcelo (Wagner Moura) a Recife. Ele busca documentos oficiais da mãe, uma adolescente, doméstica de origem indígena, engravidada pelo filho da família de senhores de engenho.
Marcelo também quer se reencontrar com o filho e fugir do Brasil, pois descobre que está marcado para morrer. Pessoas são assassinadas, corpos jogados em represas e rios. Uma perna é descoberta dentro de um tubarão, ganha vida e volta para se vingar. As citações de filmes da década de 1970 são inúmeras, sendo a mais explícitas dela a referência a “Tubarão”, de Steven Spielberg.
O longa é uma combinação de filme de espionagem, thriller político, pastiche, relato pessoal e elementos surreais. Explora temas de resistência, identidade e memória. “O Agente Secreto” tem vários elementos característicos da obra de Kleber Mendonça Filho.
Ele é realizado após “Retratos Fantasmas”, também selecionado em Cannes em 2022, fora da competição. Os dois longas foram rodados nos mesmos locais, e abordam a questão da memória, resistência, diálogo com a história do cinema, e têm ambos três partes.
O “Agente” seria uma continuação. “Eles têm a mesma alma, eu diria, porque são dois filmes muito repletos de imagens guardadas, mas eles não poderiam ser mais distintos”, acredita.
Filme político
Wagner Moura, diretor de “Marighella”, também aborda a questão da memória e da história do Brasil em sua obra. Ele salienta que gosta de filmes políticos, mas diz que “O Agente Secreto”, é um “filme político diferente”.
“O meu filme ‘Marighella’ é ostensivamente confrontador. Esse é um filme sobre pessoas que vivem numa situação tão louca, de valores tão distópicos que, como o Kleber fala, dizer que a ‘água é molhada’ soa como uma coisa comunista”, pontua.
“O Agente Secreto” marca a terceira participação de Kleber Mendonça Filho na disputa pela Palma de Ouro, após Aquarius (2016) e Bacurau (2019), e a quarta na seleção oficial. A seleção do longa reforça a presença e o prestígio do cinema brasileiro no cenário internacional, depois do Oscar histórico de “Ainda Estou Aqui”, que também aborda o tema da ditadura.
Clique na imagem principal para ouvir a entrevista completa
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Brasil vive “momento único” em Cannes, diz ministra da Cultura Margareth Menezes
5/16/2025
O Brasil é o convidado de honra do Mercado do Filme, o maior evento da indústria cinematográfica mundial, que acontece paralelamente ao badalado Festival de Cinema de Cannes. A delegação brasileira, composta por cerca de 60 profissionais, é liderada pela ministra da Cultura, Margareth Menezes, que falou à RFI no pavilhão do Brasil em Cannes.
Margareth Menezes participa em Cannes de várias mesas redondas e outras atividades sobre a política do governo para o cinema brasileiro. Ela está acompanhada da secretária do Audiovisual do MinC, Joelma Gonzaga, que foi quem articulou, desde 2023, essa participação do Brasil como convidado de honra do Marché du Film (Mercado do Filme).
“Um momento único”, resume Margareth Menezes. O MinC investiu R$ 3 milhões nessa participação.
A ministra fica em Cannes até a próxima segunda-feira (19) para poder assistir à estreia de “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, no domingo (18). O longa brasileiro está na disputa pela Palma de Ouro.
RFI: Como foi a articulação para essa participação do Brasil aqui no mercado do filme de Cannes?
Margareth Menezes: Foi realmente um momento único. Essa é a primeira vez que o Brasil é homenageado, é o convidado de honra, tendo a oportunidade de fazer negócios. É a presença do cinema brasileiro internacionalmente. Essa construção começou em 2023, pela secretária do Audiovisual do ministério da Cultura, Joelma Gonzaga, que conhece bem o setor. É uma construção bem estruturada.
O Brasil sempre teve representação através do seu setor audiovisual, mas com a chegada de uma articulação também por parte do governo, isso se ampliou muito mais agora, podendo materializar uma oportunidade única para o Brasil, no momento em que o audiovisual brasileiro se recupera, há 3 anos, da desconstrução e atrasos para todo o setor cultural.
RFI: Qual foi o volume do investimento para essa participação recorde do Brasil aqui em Cannes?
M.M.: Por parte do Ministério da Cultura, do governo brasileiro, foram R$ 3 milhões. Nós fizemos uma chamada de edital para selecionar 30 produtores. Mas a própria iniciativa (dos produtores) e a expectativa positiva dobrou o número. São 65 pessoas (na delegação). Também pela informação do próprio diretor do mercado, estamos aqui com quase 400 brasileiros, pessoas, produtores, empresas. Enfim, foi muito além da expectativa do próprio Mercado. Isso é uma sinalização muito positiva para o momento do Brasil no mercado exterior em relação ao audiovisual.
RFI: O Brasil tem investido muito mais em cinema e na internacionalização do cinema. Já dá para ter uma ideia do retorno desse investimento no setor?
M.M.: Com o retorno dos filmes brasileiros às telas, cresceu o percentual do público brasileiro (assistindo) os filmes, as obras nacionais. Estamos abrindo também novas salas de cinema. Estamos no recorde histórico, agora já com mais de 3.000, quase 3.500. Vamos abrir esse ano mais 40, e em 2026 mais 60 salas. A nossa próxima meta é fazer uma articulação também com as portas de divulgação dos filmes, ou seja, os festivais.
RFI: Um dos dinamismos do cinema brasileiro atual é a regionalização, uma regionalização que se vê aqui nas telas, em Cannes. Como tem sido essa parceria do governo federal com os estados?
M.M.: Estamos retomando os arranjos regionais, que é uma política que promoveu justamente a abertura de outros polos produtores de cinema. Claro que numa escala menor do que no Rio e São Paulo, devido à tradição e a questão (de já serem) polos industriais. Nós estamos nesse momento fomentando a possibilidade e apoiando a abertura dessas outras células de produção cinematográficas nos outros estados. Tem a Ceará filmes, a Bahia filmes, Pernambuco também chegando. É importante porque você potencializa a oportunidade de melhorar também a qualidade da produção. Eu acho que a gente está fortalecendo o cinema nacional com essas novas portas abertas para os produtores e para as temáticas.
RFI: Este ano, uma associação de cineastas independentes...
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“A escolha de um papa com experiência na América Latina mostra que a Igreja quer dialogar com o mundo”, diz especialista
5/9/2025
O cardeal Robert Francis Prevost, natural dos Estados Unidos e naturalizado peruano, foi eleito Papa Leão XIV no segundo dia do conclave. A escolha rápida e simbólica marca uma nova fase para a Igreja Católica, com referências ao legado de Francisco e um olhar voltado ao diálogo e à justiça social, segundo análise do sociólogo de Religiões, Flávio Sofiati.
A fumaça branca surgiu mais cedo do que o esperado no céu do Vaticano, em apenas dois dias de conclave, surpreendendo muitos fiéis. Os 133 cardeais elegeram o cardeal Robert Francis Prevost, agora Papa Leão XIV como novo líder da Igreja Católica. A escolha do cardeal Robert considerada rápida, foi interpretada como sinal de articulação prévia e consenso entre os religiosos reunidos na Capela Sixtina.
“O que parece é que esse tempo a mais, com o Papa Francisco já adoentado, possibilitou as conversas e articulação dentro da Igreja para a escolha do novo pontífice”, sugere Flávio Sofiati
Leão XIV é o primeiro papa agostiniano e tem uma trajetória singular: nascido em Chicago, nos Estados Unidos, viveu por décadas no Peru, primeiramente como missionário e depois como bispo de Chiclayo, noroeste do país. Ele se naturalizou peruano em 2015. “É um papa verdadeiramente americano, porque nasceu nos Estados Unidos, mas foi naturalizado no Peru e conhece bem o que é esse continente. Mais importante do que isso, conhece o perfil da igreja latino-americana e tem conhecimento de uma lógica de igreja que é muito diferente do padrão europeu, que acabou sendo difundido pelo mundo”, analisa o sociólogo das religiões e professor da Universidade Federal de Goiás, Flávio Soffiati, na entrevista à RFI.
A escolha do nome “Leão XIV” também carrega simbolismo, segundo o especialista, pois tem como referência Leão XIII, o papa que lançou a encíclica Rerum Novarum, marco da doutrina social da Igreja. Para Sofiatti, o novo papa sinaliza também que pretende seguir uma linha semelhante à de Francisco, mas com estilo próprio.
“Não sei se será uma continuidade, mas é evidente que não será um rompimento. O legado de Francisco não será um parêntese de 12 anos na Igreja. A escolha de um papa fora da Europa, com experiência na América Latina, mostra uma Igreja que quer dialogar com o mundo”, frisou Sofiati.
“Pontes” e desafios
Logo após aparecer no balcão do Vaticano para uma multidão reunida na Praça de São Pedro, o novo papa fez seu primeiro discurso, destacando a construção de “pontes”, a promoção do “diálogo” e pedindo que as pessoas “não tenham medo”. Para Sofiati, a mensagem de paz do Papa XIV revela sua atenção com as crises globais e sua disposição de projetar a voz da Igreja na construção de uma sociedade mais justa.
Para além das questões relacionadas aos escândalos sexuais envolvendo a Igreja nas últimas décadas, um dos grandes desafios do novo papa, segundo sociólogo, será a de transformar a estrutura da Igreja em uma estrutura missionária.
“O primeiro desafio é de transformar toda essa estrutura da igreja numa estrutura que sai em missão, para levar o projeto de Jesus Cristo para a sociedade. E num diálogo de pontes, como ele disse nesse primeiro discurso, de fazer pontes com as culturas, com as pessoas, e respeito com as diferenças”, conclui.
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Cinebiografia de Ney Matogrosso fecha Festival de Cinema Brasileiro de Paris após sucesso no Brasil
5/6/2025
O longa "Homem com H", cinebiografia que homenageia Ney Matogrosso, fechou a programação do Festival Internacional de Cinema Brasileiro em Paris na terça-feira (6), depois de uma estreia de enorme sucesso em 1° de maio no circuito nacional. Mais do que um retrato de um ícone da música popular brasileira, o filme dirigido por Esmir Filho investiga as brechas poéticas entre ficção e realidade, reativando a memória afetiva do repertório de um dos maiores intérpretes do cancioneiro do Brasil.
O diretor Esmir Filho conta que uma das primeiras etapas do processo de escrita e realização do filme foi ouvir toda a discografia de Ney Matogrosso em ordem cronológica. Segundo o realizador, esse mergulho sonoro funcionou como uma espécie de ativação das memórias afetivas ligadas à obra do artista. A partir dessa imersão, surgiu a necessidade de fazer escolhas dentro do vasto universo que Ney representa. Segundo ele, o desafio foi justamente selecionar, entre tantas fases e personagens que compõem esse “panteão” musical e performático, os elementos que melhor traduzissem a essência de Ney Matogrosso para a linguagem cinematográfica.
"Ney é um artista que sempre escolheu as músicas que quis cantar. Ele não é um compositor, ele é um intérprete, mas ele é também um coautor da música, porque ele amplia o significado da canção, ele torce os sentidos", destaca Esmir Filho.
"Outra coisa que ele sempre diz é que ele cultiva o amor à primeira escuta. Eu acho isso lindo, é quando bate de cara, sabe?", diz. "Foi muito lindo partir desse ponto, pensar a música para depois depois mergulhar na história do artista e entender o que ele estava vivendo enquanto ele cantava", ressalta.
Lacunas entre a realidade e a ficção
Na visão do diretor, a cinebiografia — ou biopic — também pode abrir espaço para a invenção e a ficção. A ideia parte de uma concepção mais poética da memória, que ele próprio resumiu em uma frase dita durante uma conversa com Ney Matogrosso: “Memória é lacuna”. Ao compartilhar essa provocação com o artista, Esmir Filho conta que recebeu uma resposta positiva, como se Ney reconhecesse, também, que lembrar não é simplesmente recuperar fatos, mas lidar com fragmentos, sensações e silêncios.
"Eu acho que, quando a gente trabalha com cinema, trabalha com uma estrutura narrativa. Existe um arco de personagem a ser construído", afirma. "Por isso, minha intenção nunca foi simplesmente colocar um monte de eventos que aconteceram na vida do Ney, como se fosse um mosaico de momentos soltos. Eu sentia que precisava haver uma linha, um fio condutor narrativo. E passei um bom tempo tentando entender qual seria esse fio. Aos poucos, percebi que ele era quase transparente, mas, ao mesmo tempo, muito forte. Era um fio emocional", sublinha o diretor.
Esmir Filho conta que Ney Matogrosso acompanhou de perto o processo de escrita e realização de "Homem com H". "Desde o início do processo, o Ney acompanhou tudo de perto. Ele leu todas as versões do roteiro e sempre fazia comentários, trazia detalhes, enriquecia com mais textura. À medida que lia, ia captando nuances, compreendendo as escolhas narrativas — como, por exemplo, quando duas situações reais, que aconteceram em momentos diferentes da vida dele, eram fundidas em uma única cena para fins de construção dramática", diz.
"Eu sempre mostrava para ele, queria saber se algo o incomodava. Mas nunca houve uma relação de aprovação formal ou de controle criativo. Era um espaço de colaboração, de troca, de presença", destaca Filho. "Quando comecei a escolher o elenco, mandava para ele as fotos dos atores, mostrava os rostos, queria que ele visse quem estaria ali representando sua história. Ele chegou a acompanhar três diárias de filmagem — ficou muito feliz, se emocionou. E, antes mesmo do corte final, fiz questão de mostrar um corte mais avançado do filme, porque queria saber o que ele sentia ao assistir. Foi uma forma de respeitar esse vínculo que construímos ao longo de todo o processo", afirma o...
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"Sobreviventes": filme sobre naufrágio de navio negreiro questiona colonialismo português
5/2/2025
O filme 'Sobreviventes', uma coprodução Brasil-Portugal, estreou nos cinemas brasileiros em abril e será projetado neste domingo (04) na mostra competitiva do Festival de Cinema Brasileiro de Paris. “Sobreviventes” é o último trabalho do cineasta e documentarista José Barahona, morto em novembro de 2024. Com roteiro assinado por José Eduardo Agualusa e pelo próprio Barahona, a obra conta a história de um grupo de náufragos de um navio negreiro - negros e brancos - isolados em uma ilha deserta no século 19, onde enfrentam o dilema entre reproduzir hierarquias do passado ou construir um novo modelo de convivência, tendo como pano de fundo a escravidão e o colonialismo português.
“Sobreviventes” encerra a trajetória de Barahona, cineasta que dedicou grande parte de sua carreira a questionar as relações históricas entre Brasil e Portugal.
"O projeto nasceu em 2012, quando José escreveu a primeira versão da história, ainda como um resquício do documentário 'Manuscrito Perdido', que ele tinha filmado antes no Brasil", relembra a produtora Carolina Dias. O roteiro foi desenvolvido em parceria com o escritor angolano José Eduardo Agualusa, uma escolha que ela considera essencial: "Fazia todo o sentido trazer um roteirista africano, e o Agualusa tem esse conhecimento tão vasto da cultura angolana, mas também portuguesa".
A obra traduz, segundo a produtora, diversas questões que o diretor levantava frequentemente sobre as relações históricas de Portugal com o Brasil e a África. “Ele gostava de questionar esse olhar de glória que os portugueses têm sobre o colonialismo. Ele não estava de acordo com esse olhar, 'a custa de quem a gente fez tudo isso? O que a gente provocou no mundo com esse colonialismo?' Ele gostava de cutucar, colocar essas questões e suscitar esses debates”, relembra Carolina.
Desafios das filmagens
As filmagens, em uma ilha do Oceano Atlântico, transformaram-se em uma verdadeira aventura, refletindo a própria temática do filme. Foram cinco semanas de gravação, com a equipe enfrentando grandes desafios de acesso às locações e as variações do clima. "José teve a ideia numa praia de acesso difícil, onde a gente tem que descer por uma trilha com corda no final. Para ele, sempre tinha que ser nessa praia", conta Carolina. A natureza torna-se, assim, elemento fundamental na narrativa: "Foi sempre um personagem que ele quis que fizesse parte do filme".
Paulo Azevedo, que interpreta o Padre Angelim, descreve seu personagem como um espelho das contradições sociais ainda presentes. "É um personagem que nasce em Portugal e vai muito cedo para o Brasil. Ele fala um pouco dessas pessoas sem raízes, que não são nem de um lugar nem de outro, mas que se escondem por trás dos personagens sociais que vestem", explica o ator, que já havia colaborado com Barahona em outros dois longas-metragens, “Estive em Lisboa e Lembrei de Você” (2015) e “Alma Clandestina” (2018).
"Durante as sessões, tanto no IndieLisboa quanto na Mostra de São Paulo, a gente pode ver o quanto as pessoas têm quase um riso nervoso por perceber que, mesmo em uma situação no século 19, algumas falas e situações estão presentes ainda hoje", observa Paulo, destacando a contemporaneidade das questões abordadas no filme.
O ator ressalta a importância de revisitar esse período histórico: "Assim como a Europa e o hemisfério norte olham tanto para a Segunda Guerra e a gente vê tantas versões sobre esse mesmo fato, ainda falta muito para entendermos como a escravatura envolveu tantos países e qual o papel de cada um deles, e como isso está presente ainda hoje”.
Paulo Azevedo destaca ainda a mensagem que o filme propõe ao dialogar com o momento atual da sociedade. "A gente fala muito de como manter viva a democracia, e não tem como avançar qualquer discussão sem pensar o racismo. É olhar para essas cicatrizes e tentar construir alguma forma de reparação para ter uma sociedade que vale a pena para todo mundo".
Legado
Embora ambientado no passado colonial,...
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"O cinema brasileiro está bombando", diz diretora de Festival de filmes nacionais em Paris
4/29/2025
Começa nesta terça-feira (29) o 27° Festival do cinema Brasileiro de Paris. Até 6 de maio, o evento apresenta oito longas-metragens de ficção em competição, nove em sessões especiais e documentários. Na noite de abertura, a atriz e diretora paraense Dira Paes receberá o Troféu Jangada, a sua primeira premiação na Europa. A RFI conversou com Katia Adler, diretora do festival, para saber os destaques deste ano.
O tradicional festival do cinema brasileiro em Paris acontece no cinema L'Arlequin, no bairro turístico de Saint-Germain-des-Près. A organização selecionou 31 filmes, de vários gêneros. Katia Adler fala sobre o bom momento do cinema nacional. "É uma diversidade do cinema brasileiro, que esse ano está bombando. A gente tem um primeiro Oscar, a gente teve um prêmio em Berlim e tem um filme do Kleber Mendonça em Cannes. Eu sinto que os franceses estão muito curiosos para ver o festival", afirma. "Eu diria que 80% dos filmes são inéditos e muitos deles só vão passar no festival, que serve de vitrine para outros festivais na Europa", completa.
A sessão de abertura terá a exibição do drama "Vitória", de Andrucha Waddington, com Fernanda Montenegro no elenco. O filme conta a história de Nina, uma mulher de 80 anos que, sozinha, desmantelou um esquema de tráfico de droga em Copacabana, no Rio de Janeiro.
Na mesma noite, a atriz Dira Paes, um dos grandes nomes do audiovisual brasileiro, receberá o Troféu Jangada. A sua carreira cinematográfica será celebrada no festival parisiense com a exibição de cinco longas-metragens que marcaram sua trajetória como atriz e diretora. Natural de Abaetetuba, no Pará, a artista comemora 40 anos de trabalho, em que participou em mais de 40 filmes e 20 produções para a televisão.
"A Dira é uma representante não somente do Pará, mas ela defende as mulheres, defende várias causas. Ela não tem medo de nada, de colocar o seu rosto. E, além disso, ela começou pelo cinema e não pela televisão, o que é muito interessante", explica a diretora do festival.
Dira Paes receberá o prêmio das mãos de Marina Foïs, atriz franco-italiana escolhida como madrinha desta edição do festival. Ela ganhou fama na década de 1990 como membro da trupe Robins des Bois e é uma apaixonada pela cultura e pelo cinema brasileiro. "Ela é francesa e tem uma carreira parecida com a da Dira. Ela começou a trabalhar na televisão e agora está indo para o cinema. Mas ela é super engajada e a gente precisa, no mundo atual, desses engajamentos sem medo", observa Adler.
Na dia 6 de maio, às 14h, Dira Paes ministrará uma Master Class, no anfiteatro Richelieu, na Sorbonne. Na ocasião, ela falará sobre seu trabalho como atriz e diretora, função na qual estreou com o filme Pasárgada, lançado em 2024. Outros filmes da atriz serão apresentados no festival: "Anahy das Missões" (1997), de Sérgio Silva; “Órfãos do Eldorado” (2015), de Guilherme Cezar Coelho; “A Floresta Esmeralda” (1985), de John Boorman e “Manas” (2024), de Mariana Brennand Fortes.
Na quarta-feira (30), será exibido o longa-metragem brasileiro "Ainda Estou Aqui", ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional de 2025. Entre os 40 convidados especiais do evento estará Ana Lúcia Paiva, também conhecida como Nalu, filha de Rubens Paiva e Eunice Paiva, cuja história é retratada no filme de Walter Salles. Ela mora em Paris há vários anos e estará no Festival do Cinema Brasileiro para apresentar o filme que conta a história de sua família.
"Como o filme já foi lançado, a gente quis trazer o público para debater esse filme. Isso nos interessa muito. E convidamos a Ana Lúcia Paiva, a Bárbara Luz, a atriz que vive ela, e também a Martina Clermont Toner, que é a produtora do filme e que trabalha com Walter desde Central do Brasil", destaca.
Outros nomes convidados são o diretor Karim Aïnouz, a atriz Sílvia Buarque, o ator Roberto Bomtempo, a diretora Liliane Mutti, a atriz Maria Fernanda Cândido, o diretor Marcos Schetman e o bailarino Thiago Soares, entre outros.
Os dois últimos...
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Nara Vidal lança na França romance “Puro”, sobre movimento eugenista no Brasil nos anos 1930
4/28/2025
“Puro”, da escritora Nara Vidal, vencedor do prêmio de melhor romance da APCA, a Associação Paulista de Críticos de Arte em 2024, acaba de ser lançado em francês, pela editora La Place. A escritora brasileira, atualmente radicada em Londres, veio a Paris participar do lançamento do livro que aborda o eugenismo no Brasil dos anos 1930.
A mineira Nara Vidal começou a escrever em 2010. Suas primeiras publicações foram livros infanto-juvenis. O primeiro romance, “Sorte”, foi lançado em 2018 e conquistou o 3º lugar no Prêmio Oceanos. Os livros seguintes “Mapas para desaparecer” e “Eva” foram finalistas de importantes prêmios literários.
“Puro”, traduzido por Mathieu Dosse, é o seu primeiro livro traduzido para o francês. O livro chegou às livrarias em 23 de abril, mas o lançamento aconteceu durante o Festival do Livro de Paris, no início de abril, com a participação de Nara Vidal.
“Foi uma alegria imensa porque pela primeira vez eu tenho um livro traduzido para o francês. Foi muito bom poder estar em contato com leitores e potenciais leitores franceses do livro. É sempre muito bom ver o livro viajar dessa maneira”, festeja.
O premiado romance, editado no Brasil pela Todavia, é ambientado na década de 1930, na fictícia cidade mineira de Santa Graça. A narrativa polifônica explora o movimento eugenista no Brasil, na época do governo de Getúlio Vargas, que foi apagado dos manuais escolares e da memória, ressalta a escritora.
“O puro nasceu basicamente de uma lacuna na educação brasileira. Eu cresci durante a ditadura e quando já adulta, eu me deparei com esse artigo da Constituição brasileira, da década de 30”, lembra. O artigo em questão, que é citado na primeira página do romance, é o 138 da Constituição de 1934 que delibera “estimular a educação eugênica”.
Na sua pesquisa para escrever o livro, Nara Vidal encontrou outras camadas dessa busca por uma “pureza de raça”, como o racismo e o capacitismo. “É mesmo muito aterrador, muito chocante estar em contato com essa parte da nossa história, que foi sim um pouco deixada de lado, mas que é importante que a gente encare e traga de volta, mesmo que seja por uma proposta de ficção, uma proposta artística”, salienta.
“Teatro de horrores”
“Puro” retrata o desaparecimento de crianças negras na fictícia cidade mineira de Santa Graça. O livro mistura realismo, literatura fantástica e de horror. Nara Vidal ri da descrição de “teatro de horrores” feita por muitos críticos.
“Esse teatro de horrores é, na verdade, um super elogio para mim. Eu fico muito feliz porque eu gosto muito da arte e da literatura quando elas nos desnorteiam um pouco. Pode ser através de encantamento, pode ser por horror ou por incômodo. Eu gosto muito que o livro mexa com as pessoas”, diz.
Na opinião de Nara Vidal, vários fatores - o prêmio APCA, que deu a maior visibilidade para o livro no Brasil – teria contribuído para que “Puro” fosse seu primeiro romance traduzido e publicado no exterior. Mas a escritora acha principalmente importante ressaltar o “timing do tema”.
"Acho que é um tema que está vindo muito à tona porque coincide com esse novo avanço da extrema direita, uma direita extremista, com características mais fascistas. Toda essa onda, ela casa muito bem com a crítica ao passado, um passado que nos assusta pela possibilidade de volta. Existe essa ameaça da volta dos tempos sombrios que a gente precisa conhecer para poder combater”, acredita.
“Puro” também está sendo lançado este mês em inglês pela editora nova-iorquina Printim e será adaptado para o cinema pela produtora Buda Filmes, com previsão de lançamento em breve.
“'Puro'" está tendo uma vida muito bonita, muito interessante. Para mim é inédito. Eu nunca experimentei isso. É ֤֤bonito ver como o livro vem chegando a outros leitores, outros caminhos”, conclui Nara Vidal, esperando que o sucesso do romance no exterior abra caminho para a tradução de outras de suas obras.
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Escritor Jean-Paul Delfino romanceia em francês a vida e obra de grandes nomes da MPB
4/24/2025
Jean-Paul Delfino é o mais brasileiro de todos os escritores franceses. Ele tem mais de 30 livros, entre romances e ensaios, divulgando na França a história e a cultura brasileiras. Seu projeto editorial mais recente é a série “Música Popular Brasileira”. Os dois primeiros volumes sobre Chiquinha Gonzaga e João Gilberto acabam se ser lançados.
Jean-Paul Delfino começou sua carreira escrevendo sobre o Brasil, e mais precisamente sobre a música brasileira. Seu primeiro livro, “Brasil Bossa Nova” foi lançado em 1988. De lá para cá, foram mais de 30 publicações e hoje ele é reconhecido como um dos grandes especialistas da MPB na França. O primeiro romance sobre o Brasil, “Corcovado”, de 2005, foi um sucesso de público, que deu origem a uma “suite brasileira” composta por vários livros.
Quase quarenta anos depois da primeira publicação sobre o Brasil, o escritor francês volta à música brasileira, mas desta vez com um formato híbrido, entre documentário e ficção. Na série “Musique Populaire Brésilienne”, Jean-Paul Delfino assina os romances inspirados na vida e obra de grandes nomes da MBP, e a documentarista Helena Crudeli as resenhas históricas que permeiam o livro.
A coleção, que terá cerca de 25 títulos, é lançada na França pela Istya & Cie neste momento em que a Unesco homenageia a língua portuguesa ao indicar o Rio de Janeiro como Capital Mundial do Livro. Os dois primeiros volumes, “Chiquinha” e “João Gilberto” - acabam de chegar às livrarias.
Jean-Paul Delfino decidiu romancear a vida dos grandes nomes da MPB porque “queria dar uma visão do João e da Chiquinha bem diferente. O que me interessa agora não é tanto a musicologia dos artistas, mas é a vida dos artistas”. O escritor acredita que não se pode compreender a música de um artista sem conhecer a trajetória dele. Ele diz, por exemplo, que “a trajetória da Chiquinha Gonzaga é uma coisa completamente incrível, e quando você conhece a história dela, você conhece também a história do Rio de Janeiro e a história do Brasil”.
O escritor quis que a série começasse com o livro dedicado a compositora e chefe de orquestra brasileira, cujo título é “Chiquinha, la dame en noir de la musique brésilienne” (a dama vestida de preto da música brasileira). “Eu acho que a mulher no mundo musical brasileiro foi muito esquecida. Começar uma coleção sobre a MPB com Chiquinha Gonzaga, a mulher vestida de preto que era filha de uma empregada africana, para mim era uma evidência”, revela.
“A Bossa Nova não existe”
O título do volume dedicado a João Gilberto, “a Bossa Nova não existe”, pode parecer uma provocação, mas Delfino relembra que a frase é do próprio músico baiano. “Eu não poderia escrever uma coisa assim, mas ele (João Gilberto) sempre falou assim: ‘a bossa nova não existe, a bossa nova é uma coisa de jornalistas’”, cita. O estilo, segundo ele, tem até data de nascimento e morte. “O nascimento é 1958, com ‘Chega de Saudade’. A morte é o 1° de abril, com a ditadura chegando no Brasil”, detalha, lamentando a homogeneização e americanização atual da música no Brasil e no mundo inteiro.
Para o escritor francês, João Gilberto inventou “uma maneira diferente de cantar” e é um gênio. “No mundo inteiro, ninguém inventou um estilo musical sozinho, como João Gilberto”, sentencia.
Brasil como fonte de inspiração
A produção literária de Jean-Paul Delfino, que é inclusive traduzida e publicada no Brasil, é fecunda. Os dois primeiros volumes da coleção MPB não são os únicos livros que ele está lançando este ano. Também acaba de chegar às livrarias o romance “L’homme qui rêvait d’aimer” (O homem que sonhava amar), pela editora Hervé Chopin, que também fala do Brasil.
O país parece ser para o francês uma fonte de inspiração inesgotável. “É um presente. Eu não sei se eu mereço isso. Eu comecei com o 'Brasil Bossa Nova' e cada vez que eu tentei de me separar um pouquinho do Brasil, foi impossível”, afirma.
Além dos novos volumes da coleção MPB, ele prepara a segunda parte do romance “Guiana”,...
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Rio Capital Mundial do Livro é marco para Brasil e para língua portuguesa, diz embaixadora
4/23/2025
A partir desta quarta-feira (23), Dia Mundial do Livro e dos Direitos Autorais, o Rio de Janeiro passa a ser a Capital Mundial do Livro de 2025. Essa é a primeira vez que uma cidade de língua portuguesa sedia essa iniciativa criada em 2001 pela Unesco, que é sediada em Paris.
O Rio de Janeiro foi oficialmente nomeado pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, em 2023. A candidatura da cidade recebeu o título de Capital Mundial do Livro em 2025 por sua proposta de promoção da literatura, da leitura e da sustentabilidade no setor editorial.
“A cidade foi escolhida pelo seu compromisso com a inclusão social e o acesso à leitura, com foco especial nas comunidades periféricas e vulneráveis”, indica a embaixadora do Brasil junto à Unesco, Paula Alves de Souza.
Um dos objetivos é incentivar as pessoas, e principalmente os jovens, a ler e tentar frear o fenômeno mundial de queda da leitura. O Brasil lê menos a cada ano que passa. O último levantamento nacional “Retratos da Leitura”, divulgado em 2024, apontou que pela primeira vez desde a realização da série histórica, iniciada em 2007, a maioria dos brasileiros (53%) não lê livros.
Literatura em língua portuguesa
A iniciativa mostrará “a contribuição do Brasil na literatura em língua portuguesa”, aponta a embaixadora. Para Paula Alves de Souza, o projeto “coloca o Brasil, e particularmente o Rio de Janeiro, como polo criativo de inovação social e reconhece o papel da leitura como espaço de valorização da cultura popular”.
O Rio Capital Mundial do Livro “é um marco histórico para o Brasil e para a comunidade lusófona”, ressalta a embaixadora, lembrando que o projeto carioca teve o apoio da delegação permanente do Brasil na Unesco e do Instituto Guimarães Rosa, do Itamaraty, e espelha a diplomacia cultural do país.
Paula Alves de Souza acredita que a demora na escolha de uma capital mundial do livro em língua portuguesa se deve “talvez por nós, países de língua portuguesa, não entendermos ainda a importância da língua portuguesa como grande vetor de projeção Internacional”, apesar da CPLP, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Por isso, essa projeção internacional “posiciona o Brasil de forma mais protagonista no cenário Internacional das políticas públicas e é uma oportunidade fundamental de cooperação com os países lusófonos”.
Combater a homogeneização da cultura
Para a diplomata, o Rio Capital Mundial do Livro é reflexo do amadurecimento da política cultural brasileira e da sociedade civil, que mostra outras caras, outras manifestações culturais, diferentes dos eternos clichês da praia, do samba e do futebol.
Também é “uma resposta ao desafio de posicionar a língua portuguesa, as suas indústrias criativas, mercado editorial e literatura no mundo de hoje, cada vez mais virtual, em que há uma tendência tão forte em torno de um único idioma, levando a uma espécie de homogeneização da cultura que deve ser combatida sempre”, pontua.
O Rio recebe o título de Capital Mundial do Livro da cidade francesa de Estrasburgo. Durante um ano, a partir desta quarta-feira (23) e até abril de 2026, diversas ações culturais e educacionais serão realizadas na capital carioca. A programação envolve a rede municipal de bibliotecas e os grandes e tradicionais eventos literários cariocas, como a Bienal do Livro e a Festa Literária das Periferias (Flup).
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Brasileiras expõem projeto na França em Festival Internacional de Jardins
4/21/2025
O projeto “Jardim dos Poderes Mágicos”, assinado por três arquitetas-paisagistas brasileiras, foi selecionado para o conceituado Festival Internacional de Jardins de Chaumont-Sur-Loire, inaugurado nesse sábado (19). Vanessa Zechin, Nichele Rossi e Natana Eitelven estã na França para criar o jardim que projetaram baseado no conceito de “regeneração”.
O Festival Internacional de Jardins de Chaumont-sur-Loire é organizado anualmente em um dos belos castelos do Vale do Loire, na França. O tema desta edição 2025 é “Era uma vez um jardim”. As três arquitetas gaúchas foram selecionadas com o “Jardim dos Poderes Mágicos”, que homenageia o folclore brasileiro e é baseado no conceito de regeneração.
“Para criar esse lado lúdico que faz parte do festival de Chaumont, especialmente este ano com esse tema, a gente conta uma história nesse jardim. Foi muito bacana poder usar personagens do folclore brasileiro - Saci Pererê, o Curupira, e a Vitória Régia - dentro de uma história de regeneração”, afirma Vanessa Zechin, que foi professora das duas outras coautoras do projeto no curso de “biopaisagismo”, que ministra no Rio Grande do Sul.
O “Jardim dos Poderes Mágios” tem uma cerca de bambu, um lago com espelhos, e muitas plantas, mas nenhuma delas foi trazida do Brasil. “A gente utilizou como referência a vegetação do vulcão italiano Etna, aqui da Europa, para representar essa evolução da vegetação depois da destruição. A gente não trouxe em espécie (plantas tropicais), mas trouxe em conceito”, explica, Natana.
Por isso, entre os personagens do folclore brasileiro escolhidos estão o “Saci e o Curupira, que são os protetores da floresta”, detalha Nichele.
Destruição das florestas e mudanças climáticas
Vanessa Zechin diz que ao abordar o tema da regeneração elas também “queriam trazer a questão da destruição da floresta que acontece no Brasil. Mas a gente trabalhou um exemplo de regeneração na Europa. A gente acredita também muito nisso de criar paisagens autóctones, que tem a ver com o lugar. Se o jardim fosse no Brasil, a gente ia fazer com plantas nativas de lá, provavelmente”.
As consequências desastrosas das mudanças climáticas para a natureza, como as enchentes do ano passado no Rio Grande do Sul, inspiraram a criação desse jardim dos poderes mágicos das três arquitetas gaúchas.
O “Jardim dos Poderes Mágicos” não é o primeiro do Brasil a ser selecionado em Chaumont. Vanessa Zechin participa do evento pela segunda vez. Em 2014 ela foi selecionada com o projeto o “Purgatório das Tentações”, desenvolvido com dois colegas italianos. Em 2020, o arquiteto mineiro Carlos Teixeira representou o Brasil com um jardim que denunciava a destruição do cerrado.
As três paisagistas brasileiras receberam uma ajuda de custo para criar o “Jardim dos Poderes Mágicos” em Chaumont. Elas foram selecionadas juntamente com 24 outros projetos de vários países.
O Festival Internacional de Jardins francês é uma importante vitrine e participar do evento “já é um prêmio em si” garantem. Mas durante esta edição 2025, que fica em cartaz até 2 de novembro, prêmios em cinco categorias serão distribuídos.
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Especialista em Vaticano acha difícil sucessor de Francisco ser latino-americano
4/21/2025
O papa Francisco morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, um mês depois de receber alta do hospital por uma dupla pneumonia. O primeiro sumo pontífice jesuíta e sul-americano da história, eleito em 2013 após a renúncia de Bento XVI, ficou à frente da Igreja Católica por 12 anos. Filipe Domingues, especialista em Vaticano e doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, acha difícil que o sucessor de Jorge Bergoglio seja novamente um religioso latino-americano.
O jornalista Filipe Domingues foi recebido e conheceu pessoalmente o papa Francisco. Para ele, o fato de o pontífice ter morrido no dia seguinte ao Domingo de Páscoa e em um ano de Jubileu é símbolo forte.
“A Páscoa é justamente a celebração da ressurreição, e o Jubileu de 2025 celebra os 2025 anos do nascimento de Cristo. Ele morreu nesse ano de Jubileu e logo depois do Domingo de Páscoa. Ele queria estar com o povo até o final”, diz.
O especialista acredita que o principal legado de Francisco é ter “deixado uma Igreja mais aberta e acolhedora”. No entanto, Domingues não considera o pontífice um “progressista”. Ele lembra que a única mudança doutrinal feita durante seu pontificado foi sobre a pena de morte.
Por outro lado, o jornalista salienta que o papa argentino “estabeleceu diálogos e construiu pontes”. Domingues também lembra que Francisco foi eleito para fazer reformas e deu os primeiros passos para a modernização da Igreja. “Ele iniciou o processo e deixa as bases para o sucessor dar continuidade”, acredita.
Continuidade na diferença
Francisco deve ser enterrado em uma semana e o conclave para escolher seu sucessor deve acontecer em três semanas. Somente os cardeais com menos de 80 anos podem votar. Cerca de 140 religiosos devem participar da escolha no Vaticano, sendo sete brasileiros.
Filipe Domingues considera pequena a chance de um religioso vindo do mesmo continente de Jorge Bergoglio ser eleito novamente para o mais alto posto da Igreja Católica. “Eu acho difícil porque o papa Francisco deixou uma marca muito forte da Igreja da América Latina, trazendo essa visão latino-americana para o centro da Igreja em Roma”.
Na opinião do jornalista, há chances de o novo papa voltar a ser um europeu. Ele acredita que haverá uma mudança de estilo, mas sem ruptura. “Provavelmente vai ser uma pessoa de continuidade, mas talvez com um estilo diferente, uma personalidade diferente”, prevê.
De acordo com o jornalista, historicamente na Igreja Católica “há uma continuidade na diferença. Haverá uma mudança de ênfase. Talvez volte a ser um papa europeu”, pontua.
No entanto, Domingues não descarta a possibilidade de que um religioso de outra região, como a asiática, por exemplo, seja o eleito.
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Cantora brasileira Gabriella Lima, radicada na França, lança segundo CD com apoio da RFI Talent
4/18/2025
"Sabor Solaire" (Sabor Solar) é o segundo disco de Gabriella Lima, cantora e compositora brasileira radicada na França. O CD é lançado pela Biella, selo independente da artista, em parceria com a RFI Talent, que promove músicos de todos os horizontes e continentes.
Gabriella Lima é a primeira cantora e compositora brasileira a ser apoiada pela RFI Talent. A artista, que começou a carreira na França, cantando em bares, considera essa parceria um ponto de virada.
“A RFI foi a primeira a me dizer sim. É como se uma instituição validasse o meu trabalho de artista independente. Até então estava sozinha. A RFI como parceira principal, como um padrinho, deu um peso maior ao meu trabalho. É um cartão de visita”, festeja.
O título do novo CD, “Sabor Solaire”, com uma palavra em cada língua, é uma boa síntese da carreira de Gabriella Lima. Natural de São Paulo, ela vive na França desde 2014 e como diz a letra de uma das músicas a cantora e compositora “é daqui e de lá”.
“Esse título conceitua todo o álbum. Eu falo que esse álbum conta a minha história entre a França e o Brasil, que se movimenta entre dois continentes. Uma história que já tem 10 anos”, resume.
Músicas em português e francês
Como o título, quase todas as letras do CD são cantadas nos dois idiomas e falam muito dessa experiência de viver entre os dois países. Esse duplo pertencimento ainda não era tão marcante no primeiro disco de Gabriella Lima, “Balsamo” lançado durante a pandemia, e que falava de “um outro momento”, mais introspectivo.
“Eu sou uma outra pessoa, outra artista em um outro momento. Hoje eu estou celebrando mais a vida. Estou nesse momento mais alegre, mais certa de mim, do caminho que eu quero seguir”, conta.
O resultado é um disco realmente solar, com muito ritmo, que dá vontade de dançar. O estilo de Gabriella Lima é uma fusão de ritmos bem brasileiros, que revelam suas influências musicais. Ela diz que traz “uma história em cada uma das músicas. (...) tem muito essa riqueza de tudo que eu ouço. Eu sempre ouvi muita música brasileira, muito MPB. Isso está estampado nas músicas”.
Inspiração francesa
Tem também inspiração francesa. Uma certa “poesia”, “doçura” e “elegância” que influenciaram, segundo Gabriella, as letras e o estilo do disco. Entre as dez faixas está “Se me chamar eu vou”, adaptação em português da música “Suivre le Soleil”, da francesa Vanille, um sucesso nas plataformas, que já foi baixada mais de 30 milhões de vezes.
Vanille, que tem um estilo bossa nova e já gravou um CD no Brasil, com músicos brasileiros, canta na faixa “Se chamar eu vou”, junto com Gabriella Lima. “A Vanille tem esse pezinho no Brasil. Tudo o que ela conta e canta me tocava particularmente. Eu propus para ela uma versão em português dessa música. Ela adorou. Eu a convidei para cantar comigo, ela aceitou e eu fiquei super feliz”, lembra a compositora.
No dia 27 de maio, Gabriella Lima faz o show de lançamento do CD “Sabor Solaire” na sala parisiense Ermitage, prometendo, como diz a letra de uma de suas músicas, levar o público a “dançar sob as estrelas”. No Brasil, Gabriella Lima também tenta desenvolver sua carreira e é conhecida principalmente nas redes sociais.
Clique na foto principal para assistir a entrevista completa e ouvir uma das músicas de Gabriella LIma.
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“Elementos brasileiros” marcam obra de autor franco-brasileiro de HQ, nunca publicado no Brasil
4/17/2025
Nicolaï Pinheiro nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, filho de pai brasileiro e mãe francesa. Ele se mudou para a França aos 18 anos e iniciou uma carreira, hoje consolidada, como autor e ilustrador de Histórias em Quadrinhos. O desenhista franco-brasileiros tem várias HQs publicadas em francês, mas nenhum de seus livros foi até agora lançado no Brasil. Nicolaï Pinheiro, cuja obra traz “elementos profundamente brasileiros”, tem "esperança" de um dia ser publicado em português.
Nicolaï Pinheiro sonhava em ser autor de histórias em quadrinhos desde criança, mas foi na França que pôde concretizar essa ideia “um pouco estranha, um pouco maluca”, lembra. No início dos anos 2000, ele deixou o Rio de Janeiro para estudar Belas Artes em Montpellier, no sul da França.
Os primeiros trabalhos profissionais e as primeiras histórias autorais não abordavam temas brasileiros. “Naquele momento, acho que eu queria ganhar alguma legitimidade, como autor, antes de ser visto, talvez um dia, como um autor brasileiro”, lembra. Dessa primeira fase, se destacam a trilogia “Venise” ou “La drôle de vie de Bibow Bradley" (A vida engraçada de Bibow Bradlley).
Os temas ainda não era brasileiros, mas o traço, o estilo, as cores e as formas tinham "elementos profundamente brasileiros", ressalta Nicolaï. “Eu acho que a minha relação tanto com o traço, quanto com as cores, vem da minha infância, da minha cultura, das primeiras coisas que me marcaram, que me emocionaram e que me deram vontade de continuar desenhando. E isso tudo ocorreu no Brasil”, destaca.
Virada brasileira
A virada 100% brasileira aconteceu em 2018, quando publicou “Lapa la nuit” (Lapa à noite), pela editora Sarbacane. O romance gráfico se passa no Brasil, mais precisamente no bairro boêmio carioca da Lapa.
“Tudo começou com uma ideia, uma vontade. de desenhar o bairro da Lapa, com uma mistura de pessoas diferentes, aquela arquitetura, aquelas luzes, aquele movimento. Para mim era importante mostrar outra coisa do Brasil ou do Rio, digamos, que não fosse o eterno clichê praia, Carnaval, futebol”, conta.
Adaptação do romance do pai
Com o livro “Ivo a mis les voiles” (em português Ivo içou as velas, no sentido de pegar a estrada), de 2023, o autor e ilustrador mergulhou ainda mais nas raízes brasileiras. A história é um “road movie” pelo nordeste do Brasil, na virada dos anos 1990, e reflete sobre temas como memória e família. “Ivo” é uma adaptação do romance "Cemitério dos navios", de Mauro Pinheiro, pai de Nicolaï.
“Foi talvez o meu projeto mais peculiar, mais emocionante e mais bonito também. Adaptar uma obra já é um exercício complexo. Adaptar uma obra do meu pai foi algo que surgiu assim quase como uma revelação”, relembra. Ele acha a história boa, mas confessa que “tinha alguma dúvida, não quanto ao projeto em si, mas quanto ao fato que ele pudesse interessar muita gente na França”. Mas os leitores gostaram dessa “dimensão pessoal” e de ver “um outro Brasil, que não é o Brasil que sempre se mostra aqui na França”, informa.
Apesar da carreira consolidada na França, o ilustrador decorou inclusive uma estação de metrô da região metropolitana de Paris, nenhum livro de Nicolaï Pinheiro foi até agora publicado no Brasil. O ilustrador franco-brasileiro assume que isso “é uma frustração, mas é algo que infelizmente não faz parte das coisas que cabem a mim decidir”. Ele continua tendo “esperança” e espera que um dia seus livros sejam traduzidos para o português.
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Brasil: primeiro Dia Nacional da Lembrança do Holocausto homenageia diplomata que salvou judeus
4/16/2025
O Brasil celebra nesta quarta-feira (16) o primeiro Dia Nacional da Lembrança do Holocausto. A data comemorativa, instituída no ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após aprovação do Congresso, foi escolhida em homenagem ao embaixador brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas, que salvou centenas de pessoas do nazismo.
O historiador Fabio Koifman, biógrafo do diplomata, considera a celebração essencial, especialmente nesse momento de aumento da intolerância, para que as pessoas tenham como referência alguém que foi um "anteparo contra a violação dos direitos humanos perpetrada por um Estado".
Luiz Martins de Souza Dantas (1876–1954) foi embaixador do Brasil na França durante a Segunda Guerra Mundial. Contrariando a política do governo brasileiro da época, liderado por Getúlio Vargas, ele concedeu vistos e salvou centenas de pessoas ameaçadas pelos nazistas, principalmente judeus. Por isso, é reconhecido hoje como "Justo entre as Nações", título atribuído pelo Memorial do Holocausto (Yad Vashem), em Israel. A atuação heroica e extraordinária de Souza Dantas na França permaneceu esquecida até os anos 1980.
O trabalho de pesquisa do historiador Fabio Koifman, que publicou em 2002 a biografia "Um Quixote nas trevas", foi fundamental para o resgate da memória do embaixador. O pesquisador reuniu mais de 7.500 documentos e diz que mais de 500 pessoas foram salvas por Souza Dantas.
O diplomata não foi o único brasileiro reconhecido como "Justo entre as Nações". Aracy de Carvalho, companheira de Guimarães Rosa, que ajudou pessoas perseguidas pelo nazismo no Consulado-Geral do Brasil em Hamburgo, também recebeu o título do Memorial do Holocausto. Contudo, a homenagem a Souza Dantas destaca-se por sua ação mais ampla e decisiva.
"Intolerância generalizada"
O professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) atuou para a escolha de 16 de abril, data da morte do embaixador, para marcar o Dia Nacional da Lembrança do Holocausto. As vítimas do regime nazista já são lembradas em todo o mundo, anualmente, em 27 de janeiro. Mas para Fabio Koifman, esse dia nacional também era realmente necessário, principalmente nesse momento de “intolerância generalizada” e aumento do “racismo”.
“Uma série de valores, que a gente imaginou que já estavam sedimentados, parece que estão se esvaindo, como uma questão de empatia em relação aos que sofrem, aos refugiados, aos dramas, aos grupos que são vítimas de violação dos direitos humanos”, ressalta o historiador.
Segundo ele, a data é “importante, especialmente para o Brasil ter como referência alguém que atuou em sentido contrário, para se dizer que existiram pessoas que foram solidárias e empáticas, que agiram contrariando os próprios interesses colocando em risco, e foram anteparo para a violação dos direitos humanos perpetrado por um Estado, por uma organização”.
Aproximar os brasileiros da história do Holocausto
A lembrança da atuação de um "personagem brasileiro" aproxima a população dessa temática, acredita o historiador. Ele destaca que o antissemitismo cresceu significativamente no mundo nos últimos anos, especialmente após o conflito na Faixa de Gaza, e o Brasil também sente esse impacto.
"Não é apenas o antissemitismo, mas também o racismo e a homofobia. Todo esse conjunto de intolerâncias parece estar relacionado com a forma como a internet e os grupos sociais atuam. As pessoas, principalmente os mais jovens, acabam se radicalizando, e uma intolerância generalizada emerge ou se desenvolve", avalia Koifman.
O historiador destaca que "é importante educar, mas que só a educação não é suficiente; é necessário haver penalização criminal para aqueles que se manifestam de forma racista". Ele considera a legislação brasileira contra discriminação, racismo e crimes de ódio eficaz, mas acredita que ela pode ser aprimorada. "Esperamos que o mundo digital, da internet e das redes sociais, embora mais complexo, também seja alvo de punições. Esta é a forma de...
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