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Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.

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Paris, France

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Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.

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Portuguese


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França está mais atrasada que Brasil no debate sobre legalização da maconha, diz Sidarta Ribeiro

2/25/2025
Depois de colocar a legalização e uso medicinal da maconha no centro do debate no Brasil, o neurocientista e biólogo brasileiro Sidarta Ribeiro passa a defender esses temas também na França. O livro dele “As flores do Bem: a ciência e a história da libertação da maconha”, lançado no Brasil em 2023, acaba de ser traduzido e publicado na França pela editora Anacaona. O renomado neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro, especialista em sono, sonhos e memória, é professor titular do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, instituição que ajudou a fundar. “As Flores do Bem” (Fósforo, 2023) é um livro autobiográfico. A obra traz reflexões que abordam desde o cultivo ancestral da cannabis até o debate contemporâneo sobre seu uso medicinal e recreativo, passando pela onda de proibição global da planta no século 20, motivada em grande parte por um “pânico moral”. Em francês, o livro chega às livrarias com o título “Les fleurs du bien, la sicence et l’histoire de la libération du cannabis”. A versão francesa ganhou duas novas partes: uma advertência e um posfácio para contextualizar o debate sobre a legalização e o uso medicinal da maconha no país. Sidarta Ribeiro, que veio a Paris para o lançamento do livro, garante que “a França está ainda mais atrasada do que o Brasil”, nesse debate. “Pânico moral” “A França continua com um grande pânico moral em torno da maconha, da maior parte dos constituintes da maconha. A exceção é feita a uma molécula chamada canabidiol, que já está legalizada aqui”, explica O uso da maconha tem de ser regulamentado e não proibido, defende. “A proibição promove um super encarceramento com viés racial”, salienta. Existem grupos de risco, para os quais o uso é desaconselhado, e, como qualquer produto, o consumo em excesso faz mal. “Todas as substâncias são potencialmente perigosas. Todas as substâncias têm grupos de risco. Nem todo mundo pode consumir álcool, nem todo mundo pode consumir leite. Isso não quer dizer que a gente deva proibir o álcool ou leite”, ressalta. Pesquisas, muitas delas brasileiras, comprovam os benefícios da maconha para combater uma série de doenças, como a epilepsia, aponta a obra. “A cannabis vai representar para a medicina do século 21 o que os antibióticos representaram no século 20”, acredita o neurocientista. Leia ou clique na imagem principal para assistir a entrevista completa de Sidarta Ribeiro. RFI: O Brasil, como você escreve no primeiro capítulo do livro, está muito atrasado em relação a esse debate sobre a legalização e o uso medicinal da maconha, apesar de alguns avanços conquistados. Qual o interesse de lançar esse livro também aqui na França? Sidarta Ribeiro: A França está ainda mais atrasada do que o Brasil. A França continua com um grande pânico moral em torno da maconha, da maior parte dos constituintes da maconha. A exceção é uma molécula chamada canabidiol, que já está legalizada aqui. Existe uma percepção pública na França de que a maconha não é uma planta medicinal, de que ela é uma coisa extremamente perigosa. Isso é perigoso para a sociedade francesa, porque promove superencarceramento com viés racial. E acho que esse livro pode ajudar a oxigenar esse debate. Mas no Brasil ainda não continua essa percepção de que a maconha é potencialmente perigosa? Todas as substâncias são potencialmente perigosas. Todas as substâncias têm grupos de risco. Nem todo mundo pode consumir álcool, nem todo mundo pode consumir leite. Isso não quer dizer que a gente deva proibir o álcool ou leite no Brasil. Houve uma grande transformação na opinião pública nos últimos 10 anos e hoje a maior parte das pessoas, 2/3 da população pelo menos, são a favor do uso medicinal da maconha, e não apenas de uma molécula da maconha. Por outro lado, ainda existe pânico moral e muitas pessoas consideram que é plenamente legítimo utilizar a maconha para curar algum tipo de dor ou doença, mas não é legítimo consumir a maconha para escutar música. No Brasil, a...

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Guerra na Ucrânia deve pausar em 2025 devido às pressões de Trump, prevê especialista

2/24/2025
A guerra na Ucrânia completa três anos nessa segunda-feira (24) em uma nova etapa de grandes incertezas para Kiev, devido à reaproximação dos Estados Unidos com a Rússia. O professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo, Gunther Rudzit, acredita que este ano deve haver um cessar-fogo no conflito e espera que a Europa finalmente estabeleça uma estratégia de segurança comum contra a ameaça russa e sem o apoio dos EUA. Para analisar o primeiro e segundo aniversários da invasão russa à Ucrânia, ocorrida em 2022, a RFI já havia ouvido a opinião de Gunther Rudzit sobre o conflito. Em 2023, a duração da guerra surpreendia. Em 2024, ele falava “em uma guerra em que todos perdem”. Neste terceiro aniversário, o professor da ESPM, especialista em segurança internacional, prevê uma pausa no conflito em 2025 devido às pressões de Trump. “Eu não digo terminar, eu digo parar. Um cessar-fogo deve ser alcançado pela pressão que o presidente Trump vem fazendo sobre a Ucrânia e sobre a Rússia, mas isso não levará a um acordo de paz permanente”, explica. Ele indica que dificilmente os ucranianos aceitariam “perder todo o território ocupado hoje pelas tropas russas e, mesmo que aceitem, a conjuntura não é de que a paz reine não só na Ucrânia, mas em toda a Europa”. “Quem não acredita que o presidente russo possa continuar avançando em outros países, ainda não entendeu o que é esse governo Vladimir Putin”, adverte, ressaltando a necessidade urgente da Europa conseguir superar suas divisões e estabelecer uma estratégia de segurança europeia contra a ameaça russa e sem o apoio dos Estados Unidos. Risco para a democracia Segundo ele, “a Europa hoje se encontra em uma encruzilhada muito séria e importante para o futuro, e eu arrisco dizer, da própria democracia no mundo. Eu torço muito para que esses líderes europeus encontrem um caminho correto”. Gunther Rudzit diz que as recentes farpas trocadas entre os presidentes Donald Trump e Volodymyr Zelensky e a escalada da tensão na relação bilateral se deve “à estratégia do presidente Trump para conseguir um acordo melhor para o acesso aos minerais raros que existem na Ucrânia”. Mesmo o presidente ucraniano tendo rejeitado a primeira oferta americana, ele acredita que “essa negociação vai sair”. No início de fevereiro, o presidente americano Donald Trump anunciou que queria negociar um acordo com a Ucrânia para obter acesso a 50% de seus minerais raros em troca da ajuda miltar americana, essencial para o país resistir à ofensiva russa. Nova Conferência de Ialta Na opinião de Rudzit, o que falta ainda entender efetivamente “é a estratégia do presidente Trump para conter a China”. Ele levanta a hipótese de que a reunião de Riad, em 18 de fevereiro, que representou a primeira negociação de alto nível entre os Estados Unidos e a Rússia desde a invasão da Ucrânia, possa ter sido uma “nova Conferência de Ialta”, quando, no final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos aceitaram uma zona de influência soviética na Europa. “O que parece é que essa conferência em Riad, na Arábia Saudita, é o redesenho das relações europeias em que os americanos estariam dando uma nova zona de influência para a Rússia na Europa. Para quê? Para diminuir essa presença americana na Europa e se concentrar na Ásia para conter a China”, detalha. Essa estratégia levaria ao afastamento da Rússia com a China, hoje principal aliada de Moscou. “O presidente Vladimir Putin não gosta da dependência que hoje ele tem em relação à China. Ele se tornou um parceiro Júnior nessa relação. Pode ser que os assessores do governo Trump estejam tentando fazer essa jogada, oferecer a diminuição das sanções, já esse restabelecimento de relações, para quebrar um pouco essa união tão forte entre Moscou e Pequim”. Brics Sobre o Brics, bloco presidido atualmente pelo Brasil e composto, entre outros, por Rússia e China, ele não vê os países fortemente alinhados. “Lógico que todos vão ter...

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“Cessar-fogo é urgente na Ucrânia”, diz embaixador brasileiro em Kiev

2/22/2025
A invasão russa na Ucrânia completa três anos na segunda-feira, 24 de fevereiro. A estratégia de aproximação do norte-americano, Donald Trump, com o russo Vladimir Putin para negociar o fim do conflito inspira desconfiança entre ucranianos e europeus, que temem condições favoráveis a Moscou. Entretanto, na avaliação do embaixador do Brasil em Kiev, Rafael Vidal, a conclusão de um acordo de cessar-fogo é "urgente", devido à tragédia humanitária para as duas partes envolvidas no conflito. O embaixador Rafael Vidal chegou a Kiev em setembro do ano passado. Desde então, ele presencia diariamente "uma situação muito difícil" enfrentada pela população ucraniana. "A guerra é trágica, sobretudo sob o ponto de vista humano", afirma. Ele descreve ataques russos balísticos e de drones não apenas no leste da Ucrânia, onde ficam as trincheiras e a linha de demarcação dos combates, mas em todo o país, inclusive na capital. "Diariamente, os ataques alcançam zonas civis muito densamente povoadas", relata o diplomata. Por isso, segundo ele, "todos os analistas no terreno, sejam jornalistas ou diplomatas, são os que mais advogam por uma solução diplomática do conflito". O embaixador recorda que o governo brasileiro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm se dedicado a propor uma solução diplomática com o Grupo de Amigos da Paz, que respeita as condições consideradas necessárias pela Ucrânia e pela Rússia, e tem oferecido a credibilidade internacional do Brasil para construir uma ponte de negociação para o fim da guerra. RFI – Embaixador, o que o senhor tem observado nesta etapa inicial de diálogo entre Washington e Moscou? Rafael Vidal – Em primeiro lugar, o que é muito importante que seja dito, e que tem sido a posição do Brasil desde a ampliação da guerra em grande escala a partir de 2022, é que as condições para uma negociação são definidas pela Ucrânia e pela Rússia. Neste momento, todas as expectativas estão nas negociações diretas entre Estados Unidos, Rússia e Ucrânia. Entendemos que a Ucrânia deseja que seus parceiros europeus também estejam envolvidos em algum momento. Tenho sabido que há intenção de designação possível de um enviado especial da Europa. Portanto, esse processo todo é normal. Existe muita precipitação neste momento, eu acho, de algumas lideranças europeias que cobram as partes que estarão sentadas à mesa de negociações, quando, no momento, o mais importante é o fato de que as duas grandes superpotências, que têm envolvimento na guerra da Ucrânia, passaram a sentar e negociar. Nós todos entendemos que essa negociação vai envolver a Ucrânia e muito provavelmente a Europa e outros parceiros, que as partes considerem necessários que se sentem à mesa, seja como negociadores, seja como facilitadores, seja como implementadores das decisões de um acordo de paz. RFI – Os europeus, assim como o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, temem que a balança pese a favor dos interesses de Vladimir Putin, uma vez que Moscou quer distância das forças da Otan de suas fronteiras e do território ucraniano e pelas recentes declarações de Trump. Zelensky não entra nas conversas muito desprotegido? RV – As condições para um acordo de paz estão sendo ventiladas em diferentes frentes, por diferentes autoridades, enfim, através da mídia, mas elas só podem ser definidas pela Ucrânia e pela Rússia. O que pode levar os dois países a finalmente buscar uma solução negociada são três anos de uma tragédia humanitária que se verifica sobretudo na região leste da Ucrânia e também em outras cidades, mas também do lado da Rússia, com baixas enormes calculadas nas Forças Armadas da Rússia. É uma situação que leva à exaustão dos dois países e muito provavelmente com a convicção de que não existe uma solução militar possível para essa guerra. A única solução possível é a solução negociada e, numa solução negociada, as partes precisam fazer concessões. Todo acordo requer concessões de lado a lado. Essas concessões possíveis serão definidas...

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Coalizão entre bloco conservador e partido de Scholz deve governar Alemanha, prevê especialista

2/21/2025
Os alemães vão às urnas neste domingo (23), para eleições antecipadas em um cenário marcado pela consolidação da extrema direita como segunda força política do país. Pesquisas mostram o bloco conservador, liderado pelos cristãos-democratas (CDU/CSU) de Friedrich Merz, na frente com cerca de 30% dos votos, seguido pelo partido de extrema direita Alternativa para Alemanha (AfD), de Alice Weidel. O chanceler Olaf Scholz, da coalização liderada pelo Partido Social-Democrata (SPD), busca se manter à frente do governo, apesar do terceiro lugar nas intenções de voto. O quadro eleitoral já está bem definido, com pouca probabilidade de alterações significativas nas preferências do eleitorado, segundo o sociólogo Sérgio Costa, professor da Universidade Livre de Berlim. "O partido Democrata Cristão, que é um partido hoje mais conservador do que quando era dirigido por Angela Merkel, deverá liderar, seguido pela AfD com cerca de 20% dos votos", explica na entrevista à RFI. A novidade destas eleições, segundo Costa, seria a volta ao Parlamento do partido Die Linke, (A Esquerda), que foi reconstituído e tem 7% das intenções de voto, superando assim a cláusula de barreira de 5% que permite uma legenda ter representantes no legislativo. Motivos da ascensão da extrema direita A ascensão da extrema direita no país, motivo de muitas preocupações para os vizinhos europeus, é resultado de múltiplos fatores, segundo o especialista. "A AfD foi muito eficaz em captar insatisfações de diversas naturezas da população", analisa Costa, citando desde o descontentamento de homens conservadores com as conquistas de gênero das últimas duas décadas até as frustrações econômicas na antiga Alemanha Oriental, que perdeu competitividade desde a Reunificação da Alemanha, em 1991. “Alguns centros industriais que eram importantes da Alemanha Oriental perderam o seu lugar, o seu protagonismo, a sua importância, na medida em que na Alemanha unificada, essas cidades não tiveram mais condição de concorrer com a indústria muito mais avançada da Alemanha ocidental. Isso é claramente um fator que explica o comportamento de eleitores nessas regiões”, explica Sérgio Costa. Segundo o sociólogo, a AfD foi muito eficiente ao canalizar as insatisfações e justificá-las pela presença crescente de estrangeiros no país. A questão de imigração foi um dos principais temas da campanha eleitoral, ocorrida em meio a um aumento de casos de violência e ataques, como o do carro lançado por um requerente de asilo afegão contra uma multidão que manifestava em Munique, onde acontecia a Conferência Internacional sobre Segurança. “Insatisfações difusas foram de alguma maneira canalizadas, catalizadas por esse apelo xenófobo dizendo que a culpa era dos estrangeiros e algo que funcionou super bem. E, infelizmente, a Alemanha hoje é uma sociedade muito mais xenófoba do que era há 20 anos”, afirma. Interferências de Musk e do vice-presidente americano O partido de extrema direita também contou com apoio explícito do empresário Elon Musk e do vice-presidente americano, J.D. Vance, que em discurso em Munique, pediu votos para a legenda liderada por Alice Weidel. A interferência externa, na análise do especialista, pode ter o efeito inverso nos eleitores, particularmente os indecisos. “Essa interferência na eleição alemã é vista de maneira muito crítica pela maior parte da sociedade, ou seja, os votantes da AfD convictos veem nesse apoio, uma confirmação de suas preferências. Mas para aqueles que possivelmente estão em dúvida, esse tipo de apoio acaba funcionando de maneira inversa. Ou seja, ele desencoraja as pessoas a votarem na AfD, na medida em que esse voto é, de alguma maneira, estimulado, sustentado e apoiado por forças de fora da Alemanha. Então isso gera, na verdade, uma desconfiança em eleitores que estão nesse momento ainda em dúvidas sobre em quem votar”, garante. O sociólogo esclarece que o eleitor da extrema direita sabe que vota em um partido que será oposição, pois que...

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Cineasta de Brasília investiga o luto infantil sob o prisma da invenção e da amizade na Berlinale

2/20/2025
A diretora brasiliense Rafaela Camelo estreou mundialmente no último dia 14 de fevereiro seu primeiro longa-metragem, A Natureza das Coisas Invisíveis, na 75ª edição da Berlinale, em Berlim. O filme abriu a mostra internacional Generation Kplus. A cineasta, que já havia sido selecionada para o festival na capital alemã, em 2023, com o curta Miçangas, compartilhou sua experiência e falou sobre a estreia na direção de um longa abordando o olhar das crianças sobre a morte. Márcia Bechara, enviada especial da RFI a Berlim O filme A Natureza das Coisas Invisíveis abriu a mostra Generation Kplus, dedicada a histórias que exploram o universo infanto-juvenil. "Foi a primeira vez que exibimos o filme para grande parte da equipe, então havia uma ansiedade nossa para ver como seria a recepção do público", contou a diretora Rafaela Camelo. A sessão, que aconteceu na mostra Generation Kplus, onde a obra concorre com filmes internacionais selecionados pelo festival berlinense, foi marcada por um público predominantemente infantil, com cerca de mil crianças. Mesmo com as barreiras culturais e de idioma, a cineasta se disse impressionada com a capacidade das crianças alemãs de reagirem e se envolverem no filme. "Foi interessante ver como elas se emocionaram e fizeram perguntas. Elas conseguiram se conectar com a história", relatou. O olhar das crianças sobre a perda A diretora, natural de Brasília, também falou sobre a inspiração por trás de A Natureza das Coisas Invisíveis. "O filme conta a história de duas garotas de 10 anos que enfrentam a perda e o luto. Elas se conhecem em um hospital e acabam formando uma forte conexão. O filme tem um tom agridoce, falando sobre amizade, luto e perda. Ele também explora como a infância usa a imaginação e a fantasia para dar sentido às experiências da vida", explicou a diretora. A curiosidade infantil sobre o desconhecido molda a trajetória das protagonistas e reflete na estrutura narrativa do filme, que se divide em duas partes: uma ambientada no hospital e outra em um refúgio no interior de Goiás. “É uma metáfora estrutural, como se, naquele ponto, o filme da forma que foi apresentado tivesse que morrer para outro se formar”, contextualiza Camelo. O tema do envelhecimento, da morte e dos cuidados paliativos, abordado pela perspectiva de duas crianças, também faz parte das temáticas do primeiro longa da diretora. "Existem muitos filmes sobre o amadurecimento ou sobre o luto e a morte, muitos ambientados em hospitais. Eu queria trazer algo novo, colocando uma criança nesse meio e explorando sua perspectiva", comentou Camelo. Para a cineasta, a fantasia e a imaginação seriam "ferramentas essenciais" para dar significado a esse tipo de experiências. "Eu queria mostrar que a perspectiva das crianças, ao olhar para a morte, também é válida. Não é um sonho ou delírio, mas uma forma legítima de dar sentido ao que está acontecendo", afirmou. Retomada do cinema brasileiro Sobre o processo de filmagem, a diretora explicou que o longa é uma coprodução entre Brasil e Chile, e vinha sendo desenvolvido desde 2018. A captação de recursos e as filmagens ocorreram na capital federal. "O encontro com a equipe chilena foi fundamental para o financiamento do filme e para estabelecer essa sua marca internacional", revelou. Perguntada sobre a retomada do cinema brasileiro, Rafaela falou sobre a situação atual do setor. "No Brasil, vivemos um ano de cada vez. Em 2025, a Berlinale teve 12 filmes brasileiros na programação oficial, o que é um sinal positivo. As histórias brasileiras têm o poder de alcançar o público internacional", destacou. No entanto, ela também ressaltou que a situação do cinema brasileiro ainda é imprevisível. "Não podemos dar tudo como certo, embora este ano tenha sido mais participativo. Espero que essa presença na Berlinale seja uma tendência, um costume, e não uma exceção", afirmou.

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Brasil concorre a melhor documentário na Berlinale revisitando obra de Lima Barreto com jovens da periferia

2/19/2025
O filme "Hora do Recreio", de Lucia Murat, que concorre ao prêmio de Melhor Documentário e ao Prêmio da Anistia Internacional na Berlinale, também foi selecionado para a mostra Generation 14plus, voltada ao público adolescente e jovem. A produção combina a linguagem documental com elementos de ficção, explorando temas contemporâneos e sociais que dialogam diretamente com as juventudes das periferias brasileiras, problematizando a educação pública no Brasil. Márcia Bechara, enviada especial da RFI a Berlim A obra toma como base o romance póstumo de Lima Barreto, Clara dos Anjos, escrito em 1922. A diretora, conhecida por mesclar linguagens cinematográficas em seus trabalhos, explica o processo de adaptar esse texto para os dias atuais. “Desde o início, pensei em trabalhar com Clara dos Anjos. Apesar de não ser o melhor livro do Lima Barreto, é uma obra ideal para abordar temas como racismo, violência e abuso, que infelizmente seguem atuais. Queria que os jovens pudessem estar no centro, não apenas como vítimas, mas como protagonistas. Afinal, o palco é onde os artistas são aplaudidos, e eles mereciam isso”, explicou Lucia Murat. Porém, trazer a linguagem de Lima Barreto para a contemporaneidade não foi tarefa fácil. “Na primeira leitura do livro com os jovens, percebi que a linguagem antiga, do início do século 20, era uma barreira. Eles ficaram tensos, parecia impossível manter o texto como estava. Mas, no segundo ensaio, algo incrível aconteceu: eles começaram a brincar com o texto, a desconstruí-lo e a usar o humor para trazer aquilo à vida. Foi assim que o livro ganhou um novo vigor, com essa atualização espontânea e cheia de criatividade dos jovens atores”, contextualiza a cineasta, que assina também o roteiro e a produção do longa-metragem. Os jovens atores vêm de comunidades como o Vidigal, o Cantagalo e a Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, onde a diretora trabalhou em parceria com grupos teatrais locais. “Colaborei com o Nós do Morro, do Vidigal, com quem já trabalho há anos; com o grupo Vozes, do Cantagalo; e com o Instituto Arteiros, da Cidade de Deus. Foi um processo intenso e coletivo, em que entrevistávamos jovens, assistíamos às aulas de teatro e selecionávamos os atores. A preparadora de elenco, Luciana Bezerra, foi essencial nesse trabalho”, sublinha Murat. Realidade X Ficção Além de enfrentar dificuldades estruturais, como a falta de autorização para filmar em uma das escolas, a equipe incorporou essas limitações na narrativa. “Quando não conseguimos filmar na escola original, alugamos outra, levamos os professores e os jovens para lá, e transformamos isso numa parte do documentário. Fizemos questão de deixar claro para o público que essa não era a escola deles. Isso nos permitiu questionar no próprio filme: ‘Isso aqui é um documentário ou uma ficção?’ E a resposta deles foi linda: ‘É um documentário, porque reflete a nossa realidade’”, conta a diretora. A cineasta, que desde o seu primeiro filme, Que Bom Te Ver Viva (1989), transita entre documentário e ficção, destaca que romper as barreiras entre os dois gêneros sempre foi uma busca criativa. “Hoje, o limite entre ficção e documentário já é algo amplamente explorado no cinema, mas naquela época era uma novidade. No caso desse projeto, foi interessante porque as dificuldades nos levaram a experimentar ainda mais, integrando os desafios ao filme.” Sobre os jovens protagonistas, Lucia Murat é enfática: “Essa não é uma média de toda a juventude brasileira, mas um recorte muito especial. São jovens articulados, conscientes do racismo e da violência que enfrentam, e que respondem a isso de forma extremamente criativa e resiliente. É inspirador vê-los em cena”, diz. Agora, o documentário se prepara para sua estreia no Brasil. “Temos uma grande distribuidora, a Imovision, e estamos montando a estratégia de lançamento. Acabei de finalizar o filme, e a recepção em Berlim tem sido maravilhosa. Em breve, definiremos se ele chega primeiro aos cinemas ou às...

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Escola de samba da Brasuca Show coloca Yemanjá na rua no Carnaval de Nice na França

2/18/2025
A associação franco-brasileira Brasuca Show foi fundada em Nice há mais de 20 anos. Presidida pela brasileira Solange Barreto, a "miniescola de samba" anima os carnavais de Nice e de Menton, no sul da França, que acontecem neste momento. Neste ano, a folia ganha uma relevância especial para a associação criada com a ajuda de Simone Barreto, brasileira assassinada no ataque terrorista à Basílica de Nice e cujo processo é realizado também neste momento em Paris. Os tradicionais carnavais nas cidades da Côte d’Azur começaram no último sábado (15) e acontecem até 2 de março. O primeiro desfile da Brasuca Show foi no último domingo (16) com o tema “o rei do espaço”, em Menton, cidade onde o Carnaval é conhecido como a “Festa do Limão”. Mas a ligação histórica da Brasuca Show na região é com Nice, onde a associação foi fundada e está sediada. O grupo participa do mais importante Carnaval da França e um dos maiores da Europa há 15 anos. “A gente sai da Bahia, mas a Bahia não sai da gente. Então, nós estamos aqui sempre defendendo a nossa cultura, com capoeira, com dança, com o Carnaval,”, conta Solange Barreto. A associação também realiza há 12 anos uma festa de Yemanjá em Nice, que inclusive já entrou para o calendário oficial cultural da cidade francesa, mas não recebe nenhum apoio do governo brasileiro, critica Solange. “Precisava também de um apoio do governo brasileiro porque não deixa de ser um intercâmbio cultural”, acredita. Contraponto ao “rei dos oceanos” O tema dos desfiles este ano no Carnaval de Nice é “o rei dos oceanos”. Essa edição 2025 é uma espécie de abre alas da celebração do "ano do mar" na cidade que irá sediar em junho a terceira Cúpula Mundial dos Oceanos da ONU. Brasuca Show é apenas um dos vários grupos a desfilar até o próximo dia 2 de março em Nice. Ele entra na folia na quarta-feira (19) com o enredo "Yemanjá, protetora dos mares", fazendo um contraponto ao tema principal. “Como é ‘o rei dos oceanos’, nós não poderíamos deixar de colocar nossa rainha (do mar) que é o que a gente defende aqui, mas voltada também para o Carnaval, com muitas plumas e paetês como o brasileiro sabe fazer”, antecipa. Solange Barreto define o trabalho como uma “miniescola de samba”, formada por cerca de 30 integrantes, majoritariamente brasileiros. “Nós somos uma associação que defende a cultura brasileira. Então, a prioridade é realmente para os brasileiros que estão aqui: músicos, dançarinos. Nós vamos ter uma ala de percussionistas, com 10 músicos, que vai fazer o nosso samba-enredo, nosso axé, samba-reggae”. Além da porta-bandeira e passistas, o cortejo terá como comissão de frente “um barco com quatro meninas vestidas de roupas estilizadas de Yemanjá, mais uma Yemanjá tradicional. Vocês vão ver, está muito bonito”, garante Solange que também é responsável pelos figurinos e adereços do bloco. Despois da estreia no dia 19, Brasuca Show desfila também nas ruas de Nice em 22 e 26 de fevereiro e 1° de março. Irmã morta no atentado contra Basílica de Nice Apesar de toda essa preparação, envolvimento e dedicação, Solange não vai participar do primeiro desfile da associação Brasuca Show no Carnaval de Nice. Ela vai estar em Paris, participando da primeira jornada de depoimentos dos familiares das vítimas do atentado terrorista contra a Basílica Notre-Dame de Nice, que deixou 3 mortos em 2020, entre eles a irmã dela, Simone Barreto. O julgamento do suposto terrorista, o tunisiano Brahim Aouissaoui, de 25 anos, começou em 10 de fevereiro e vai até o dia 26 de fevereiro, coincidindo com o Carnaval de Nice. “Foram quatro anos de espera. Caiu no mês de fevereiro, que é o Carnaval daqui. Mas a gente é uma família grande, nós estamos dividindo os trabalhos, as tarefas, de quem vai segurar o carnaval quando eu não estiver”, diz Solange Barreto, que volta a reclamar da falta de apoio do governo brasileiro nesse processo, espera justiça. “A nossa determinação de ir até Paris é para poder cobrar justiça, porque uma pessoa...

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Dez anos após 'Que horas ela volta?', Anna Muylaert apresenta drama urbano sobre maternidade na Berlinale

2/17/2025
Após o sucesso de "Que Horas Ela Volta?", que conquistou o prêmio do público da Berlinale em 2015, a diretora Anna Muylaert desembarca neste primeiro grande encontro do cinema mundial de 2025 com um novo filme, no qual a trama gira novamente em torno da figura de uma verdadeira "Mãe Coragem". Ela refletiu para a RFI sobre a importância dessa figura feminina, comparando-a com a personagem de Regina Casé no filme anterior, destacando como a maternidade ainda é subestimada na sociedade. Para ela, a mãe é a figura mais importante da sociedade e, ao mesmo tempo, a mais desvalorizada. "Eu acho que a sociedade ainda não entendeu institucionalmente que precisa apoiar a mãe. Por exemplo, se alguém vai casar na igreja, precisa fazer um curso de um mês. Se vai ser enfermeira, faz um curso de dois anos. Se vai ser médica, o curso é de seis anos. Mas a mãe, que é a grande educadora, a menina tem 15, 17, 20 anos, nunca leu um livro, não sabe nem as fases de desenvolvimento da criança. Ela pega a criança no colo e pronto. A sociedade não prepara a mulher para ser mãe, então cada mãe vai puxando sua carroça sozinha", avalia, numa referência à protagonista de seu nome filme, "A melhor mãe do mundo", que atravessa a cidade levando os dois filhos pequenos numa carroça. "O urbanismo da cidade não favorece a mãe, não favorece o espírito comunitário que a criança precisa para viver. Eu volto sempre à mãe, porque existem milhares de mães e tipos de mães, da boa à amada, que faz a benção, e outras, a maldição. Eu acho que precisamos evoluir para uma sociedade que se estruture a partir dessa figura, que é a educadora maior", diz a cineasta brasileira. Muylaert mencionou também a difícil realidade de muitas mães brasileiras que, sem o apoio do pai, se tornam as verdadeiras chefes da família, enfrentando desafios sozinhas. Nesse sentido, a cineasta reflete sobre a importância de se pensar na mãe como parte de uma estrutura coletiva, que vai além da responsabilidade individual: "precisamos começar a pensar a maternidade de forma coletiva", afirmou. Ana fala também sobre a personagem de seu filme, comparando-a com Eunice Paiva, a mãe do filme "Ainda estou aqui", interpretada por Fernanda Torres, de Walter Salles. "A semelhança entre as duas personagens está no fato de enfrentarem sozinhas a violência do mundo, tentando proteger seus filhos e não transparecer as dificuldades que encaram. Eu vejo semelhanças porque a Eunice, da mesma forma, está enfrentando uma barra sozinha. E eu acho que é responsabilidade da mãe não passar a sua dor para o filho, o que é muito difícil. Tem muita mãe que, inclusive, usa o filho como terapeuta ou como melhor amigo. Os problemas da mãe acabam indo parar no filho. Por isso existem essas 'maldições' de geração para geração. Então, a mãe que consegue estancar a violência para a próxima geração, é a melhor mãe do mundo", diz a cineasta. "Sim, eu vejo similaridades". Sobre o filme, a diretora compartilha sua expectativa para a estreia mundial na Berlinale, destacando que o momento de apresentação ao público é o mais importante, pois é nesse instante que o filme realmente ganha vida e é entendido. "Esse é o momento em que o filme realmente 'nasce' e a gente entende o que ele realmente é. Então, eu preparei esse prato, esse bolo, com todo amor do mundo, e amanhã vou saber que cheiro ele tem", brinca. Retorno do cinema brasileiro Muylaert se mostra otimista quanto ao retorno do cinema brasileiro, que passou por uma pausa durante o governo anterior, mas agora, está retomando um fluxo de criação. "O cinema está aos poucos retomando depois de uma pausa com os governos de direita. Eu acho que o governo Lula está ajudando a retomar esse fluxo e as equipes técnicas e artísticas, nós já temos qualidade, uma qualidade que vem sendo desenvolvida desde os anos 1990. Nós temos tudo para fazer grandes filmes", acredita a diretora. Em relação ao Oscar, Anna Muylaert, que é membro da academia, comenta sobre a dificuldade deste ano...

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'Sem justiça fiscal não há democracia': especialista brasileiro defende 'taxação de ricos' em evento no Vaticano

2/13/2025
Nesta quinta-feira (13), a Pontifícia Academia de Ciências Sociais do Vaticano e a Comissão Independente para a Reforma da Tributação Corporativa Internacional promovem o evento de alto nível "Justiça Fiscal e Solidariedade". Entre os participantes está o vice-presidente de Programas da Open Society Foundations, Pedro Abramovay, que coordena o painel "Propostas e Oportunidades para um Sistema Tributário Internacional Justo", que conversou com a RFI sobre o assunto. Criado há um século pelos países ricos, o sistema tributário internacional, concebido em um mundo não globalizado, e vem enfrentando uma imensa pressão, graças à intensificação da competição fiscal, à digitalização, ao sigilo financeiro e aos paraísos fiscais. "Tudo isso se traduz em bilhões de dólares perdidos anualmente devido ao abuso fiscal, especialmente em países em desenvolvimento que necessitam urgentemente de receitas significativas para financiar serviços públicos, adaptação às mudanças climáticas e a transição verde", diz o documento que apresenta o evento de alto nível no Vaticano, que contou com a participação de um vídeo gravado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A democracia vive hoje seu momento mais crítico desde a Segunda Guerra Mundial, a desigualdade entre ricos e pobres aumentou de maneira expressiva", disse Lula na abertura de seu discurso, enfatizando que "os superricos pagam proporcionalmente muito menos imposto do que a classe trabalhadora". Ele enfatizou ainda que "o Brasil tem investido no tema da cooperação internacional para desenvolver padrões mínimos de tributação global, fortalecendo as iniciativas existentes, incluindo os bilionários". "Com a presidência dos Brics, da Cop 30 neste ano, o Brasil quer propor uma nova arquitetura, de financiamento climático", destacou Lula durante o evento no Vaticano. O fator Trump e o sistema tributário global Em meio às rupturas na ordem mundial [impostas por Donald Trump, por exemplo], ainda é possível sonhar com um sistema tributário global mais equitativo? O advogado Pedro Abramovay acredita que "não temos outra opção". "Justamente em momentos como este, em que vemos ataques ao Estado, liderados por figuras como o ex-presidente dos Estados Unidos, é que precisamos reforçar a ideia de que não há como enfrentar problemas globais – pandemias, desigualdade, mudanças climáticas – sem Estados fortes. Especialmente fora do Norte Global, onde a redução de ajuda e cooperação internacional exige que os países desenvolvam capacidade própria de reação. E isso só acontece com o fortalecimento da capacidade fiscal, o que depende de um sistema tributário internacional mais justo", afirma. "Chegamos perto do primeiro trilionário" Sobre as tendências de desigualdade, o vice-presidente de Programas da Open Society Foundations destacou a crescente concentração de renda global, impulsionada pelo aumento do número de bilionários. "Chegamos perto do primeiro trilionário no mundo. É claro que há incentivos econômicos que promovem essa concentração, mas o sistema tributário é um dos maiores culpados. Hoje, bilionários pagam em média apenas 0,5% de imposto de renda, enquanto trabalhadores pagam muito mais. Enquanto mantivermos um sistema tão injusto, a concentração de riqueza continuará. Precisamos de uma reforma tributária global para reduzir desigualdades, aumentar a arrecadação e fortalecer a capacidade dos Estados de proporcionar bem-estar à população", diz Abramovay. Papel "central" do Brasil no cenário global O papel do Brasil foi destacado no evento, especialmente no contexto da presidência do G20. "O Brasil desempenhou um papel fundamental ao liderar o G20, que, pela primeira vez desde a invasão russa na Ucrânia, conseguiu uma declaração assinada por todos os países. Além disso, o Brasil utiliza essa liderança para avançar em pautas progressistas, como justiça tributária e mudanças climáticas. É um dos poucos países com capacidade de dialogar com diversas nações – China, Rússia, Estados Unidos,...

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Livro resgata episódio trágico da morte de um cantor que levou a uma revolta nas Ilhas Maurício

2/12/2025
Memórias afetivas e história se misturam na narrativa criada pelo escritor Nitish Monebhurrun para revisitar um evento dramático para os moradores das Ilhas Maurício: a morte de um cantor popular no país, em circunstâncias até hoje não esclarecidas, segundo o autor. Seu livro “Kaya est mort” (Kaya está morto, em tradução livre do francês revive o episódio no final dos anos 1990 que desencadeou uma onda de violência e expôs as tensões por trás da aparente harmonia entre as diversas comunidades que compõem a sociedade mauriciana. Nitish Monebhurrun recorre às lembranças da adolescência para narrar o episódio histórico da morte de Kaya, nome artístico adotado por Joseph Réginald Topize, criador do gênero musical "seggae" - uma fusão de tradições africanas, reggae e cultura rastafári. Nascido em Port-Louis, capital do país, Kaya era adepto do movimento rastafári e a favor da legalização da maconha em um contexto cultural, já que algumas comunidades do pequeno país do Oceano Índico usam a substância em festividades e rituais religiosos. Preso horas depois de um show no qual exibia um cigarro de cannabis, o cantor foi levado a uma prisão e apareceu morto. “O discurso oficial do Estado era de que ele se suicidou porque estava precisando de maconha, bateu a cabeça na parede e morreu. É óbvio que ele não se suicidou. Ele não morreu, foi morto”, afirma Nitish. Depois do anúncio da morte de Kaya, em 21 de fevereiro de 1999, uma onda de revolta e muita violência atingiu a ex-colônia britânica e francesa no Oceano Índico, formada por uma diversidade étnica de europeus, indianos, chineses e africanos. Segundo o autor, o episódio que por cerca de 10 dias parou o país, quase deu origem a uma guerra civil. “As Ilhas Maurício são conhecidas sobretudo por ser um país tropical do Oceano Índico, com um mar que é quase uma piscina e onde é o reino da paz. Esse episódio mostrou que essa paz existe, mas pode ser apenas superficial, um vulcão adormecido, mas não morto, e que pode ‘acordar’ a qualquer momento”, explicou. No livro, Nitish relata o drama vivido pelo seu olhar de adolescente. Por um lado, celebrava o fechamento das escolas e o tempo livre para se dedicar ao lazer com amigos, e por outro, percebia gradualmente o impacto profundo na sociedade. Para o autor, a publicação do livro é mais do que um registro autobiográfico. “Quando ele morreu, não me tocou tanto, mas depois percebi que Kaya não era tão desconhecido. Comecei a sentir um tipo de mea culpa. Outra razão é que ele deixou um patrimônio musical que talvez muitas pessoas não conheçam e que deve ser preservado. E também quis mostrar que desde 1999, algumas coisas não mudaram, e tenho receio de que esqueçam do que aconteceu”, afirma. Circulação intercultural Professor de Direito no Centro Universitário de Brasília, Nitish Monebhurrun publicou vários livros na área jurídica, mas tem se dedicado também, nos últimos anos, à literatura de ficção, como na obra “O assassinato do presidente do Brasil”, e de memória. Antes de “Kaya est mort”, ele publicou em 2022 também pela editora Vizavi “Face au tableau noir” (Diante do quadro negro, em tradução livre do francês), no qual expõe de maneira crítica o sistema educacional de seu país natal. Com uma trajetória que transita entre as Ilhas Maurício, Brasil e França, o escritor vê a sua experiência multicultural como fundamental para sua literatura. "O fato de conviver em sociedades diferentes contribui para uma certa distância enquanto observador", analisa. "Um autor precisa ser como uma esponja que absorve tudo e depois tenta retratar de maneira bonita em um livro. Essa circulação intercultural contribui para isso", conclui.

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Filme brasileiro 'Jacaré' ganha menção especial em maior festival de curtas do mundo

2/11/2025
Eles acabaram de chegar de Clermont-Ferrand, mais especificamente do maior festival de curtas-metragens do mundo, onde levaram o prêmio de Menção Especial do Júri Internacional. Victor Quintanilha e Helena Dias, respectivamente diretor e roteirista, e produtora e roteirista do curta-metragem "Jacaré" falaram à RFI sobre a história do filme, além de suas inspirações e desafios. Jacaré conta a história de Pedro, um adolescente que mora perto de uma estrada e, durante as férias de verão, trabalha vendendo bebidas para os motoristas presos no trânsito a caminho da praia. "Apesar de estar sempre nesse contexto, ironicamente, ele nunca conheceu o mar. Até que, um dia, decide subir escondido na caçamba de um carro para finalmente ver o oceano. O filme fala sobre esse encontro, mas também tem uma abordagem poética e abstrata", conta o diretor Victor Quintanilha. Inspiração Quintanilha conta que se inspirou em imagens de um lugar que frequenta desde criança, próximo à casa de um parente. "Sempre tive um contato muito próximo com essa região e minhas ideias acabam surgindo do cotidiano ao meu redor. O roteiro nasceu em um momento de ócio, quando eu estava preso no trânsito tentando voltar para casa. Comecei a observar os jovens que trabalhavam ali e pensei: 'Por que não criar uma história sobre isso?' Assim surgiu Jacaré", relata. Essa não é a primeira vez que um curta de Quintanilha ganha menção especial do Júri. Portugal Pequeno, filmado em Niterói, cidade vizinha ao Rio de Janeiro, produzido em 2020 e exibido em Clermont-Ferrand no ano seguinte, também levou o prêmio. "Em 2021, quando aconteceu pela primeira vez, eu não pude estar lá presencialmente por conta da pandemia. Agora, foi muito especial poder vivenciar essa experiência ao vivo", conta. "Jacaré é meu primeiro curta dessa dimensão como produtora, e participar do maior festival de curtas-metragens do mundo abriu muitas portas", diz Helena Dias, roteirista e produtora pela Sapucaia Filmes. "O evento não é apenas uma vitrine para as obras, mas também um ponto de encontro com cineastas de várias nacionalidades. No nosso programa, havia representantes da Irlanda, Irã, Coreia do Sul. Essa troca cultural é riquíssima! Além disso, há oportunidades de networking com distribuidores, festivais e laboratórios de desenvolvimento. Para um produtor, é um ambiente incrível. No momento, Jacaré está sendo avaliado por outros festivais. Depois de Clermont-Ferrand, recebemos convites e estamos analisando onde será exibido em seguida", afirma. "Temos uma estratégia de distribuição estruturada junto à nossa distribuidora, Cajuína. O plano é focar nos festivais internacionais nos primeiros seis meses do ano, especialmente na Europa, América do Norte e Ásia. No segundo semestre, voltamos nossa atenção ao Brasil e América Latina. Ainda não temos uma data exata, pois dependemos dos festivais, mas será no segundo semestre, com certeza", antecipa Dias. Desafios "Produzir um curta tem todas as etapas e desafios de um longa-metragem. A diferença é a duração. A narrativa precisa ser mais concentrada, e cada detalhe importa. Além disso, temos desafios financeiros e de acesso a profissionais, pois muitos preferem trabalhar apenas em longas", lembra Victor Quintanilha. "Existe também uma diferença na recepção do mercado", diz Quintanilha. "O curta nem sempre recebe o mesmo destaque que um longa. Mas eventos como Clermont-Ferrand mostram que existe, sim, um mercado valioso para curtas-metragens. Tivemos sessões com 1.400 espectadores! Isso demonstra que, quando existe uma cultura de formação de público, o curta pode ser rentável e relevante. Essa experiência abriu muito meus olhos para as possibilidades futuras", conclui o diretor.

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Brasileiro Antonio Obá imagina “festim” em sua 1ª exposição individual em Paris

2/7/2025
“Festim da alma” é a primeira exposição individual de Antonio Obá em Paris. Todos os quadros e desenhos que compõem a mostra são inéditos. Em entrevista à RFI, o artista negro brasileiro define a narrativa do conjunto das obras “como uma pequena celebração” sobre os ciclos da vida. Antonio Obá, nasceu em 1983 em Ceilândia, e atualmente mora e trabalha em Brasília. Sua obra tem reconhecimento internacional, já foi exposta em muitas cidades do mundo e vários de seus quadros, que retratam negros, integram a coleção de arte contemporânea do bilionário francês Pinault, uma das mais prestigiosas do planeta. Em Paris, seu trabalho já havia sido exposto em mostras coletivas ou feiras de arte. “Festim da alma”, apresentada na galeria Mendes Wood DM, é a primeira individual na capital francesa. “Essa exposição é muito feliz. São trabalhos inéditos que pontuam um momento muito especial, de pesquisa. E o fato de ser em Paris é para mim uma honra e é muito rico”, diz. Os 21 quadros a óleo e alguns desenhos que compõem a exposição foram feitos em 2024. A mostra propõe uma narrativa sobre os ciclos da vida. Segundo o artista, “a proposta é uma pequena celebração. O conjunto das obras que estão expostas demarcam uma certa ideia de um ciclo que inicia e termina. As imagens, os símbolos usados propõem muito a pontuação de um rito que tem a ver com a nossa existência”. Ele ressalta as imagens de crianças, como no quadro “Alegoria para uma nascida”, ou a tela “Memento Mori: Baile de debutantes”. Para ele, a palavra debutante por si só “designa algo que morre para iniciar num outro estágio. E aí, a gente pode jogar essa construção narrativa para tudo na vida que começa, termina, reinicia. Tudo pontuado por rituais, um festim, uma pequena celebração da alma”, completa. Ancestralidade africana e discriminação racial O trabalho poético de Antonio Obá dialoga com a tradição iconográfica ocidental, resgata a ancestralidade africana e questiona a discriminação racial no Brasil. “Certamente, tem esse caráter de problematizar isso tudo. Por que num dado momento passa a ser tão surpreendente você entrar numa galeria, numa exposição onde a maioria das figuras, ao invés de serem caucasianas, são negras? Qual a surpresa disso eu tendo essa pele?”, questiona, lembrando que seu trabalho é “quase autorreferente”. No entanto, ele salienta que sua obra não se “resume a isso”. Antonio Obá afirma que tem “tido um certo cuidado de não transformar a obra num conteúdo moralizante. Ela não está aqui para dar lição de moral”. “Festim da Alma” fica em cartaz até 27 de março na galeria Mendes Wood DM, na Praça de Vosges, no 4° distrito de Paris. Clique na imagem principal para ouvir a entrevista completa de Antonio Obá.

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Festival de Curtas de Clermont Ferrand exibe 'vivacidade' da produção brasileira em sessão especial

2/5/2025
Cinco filmes paulistas na programação do Mercado do Filme do Festival de Curta-metragem de Clermont Ferrand serão exibidos em uma sessão especial para o público nessa quinta-feira, 6 de fevereiro, no centro da França. O evento francês é o maior do mundo para produções neste formato e reúne, todos os anos, um público fiel e interessado na criação brasileira. A seleção dos curtas apresentados no centro da França foi definida por Anne Fryzsman, programadora internacional do Festival de Curtas de São Paulo – Kinoforum. Ao lado do coordenador Marcio Miranda Perez, Anne dá continuidade ao trabalho iniciado há décadas pela diretora da mostra paulistana, Zita Carvalhosa, que há décadas abriu as portas do mercado global de produtores e distribuidores aos cineastas brasileiros. "A seleção foi feita em cima de filmes paulistanos de 2024 – alguns estavam em fase de finalização –, e de 2025, porque estávamos à procura de filmes recentes. Queríamos mostrar a vivacidade e a diversidade do curta-metragem brasileiro", disse Anne em entrevista à RFI. Duas produções vieram da Rede Afirmativa, da Spcine. Quase Trap, um filme de iniciação, dirigido por Filipe Barbosa, conta a história de um menino da periferia de São Paulo absorto pela questão da virilidade na adolescência. Anastácia, de Lilih Curi, aborda a violência doméstica. Já 2 Brasis, de Carol Aó e Helder Fruteira, é um filme de ação e uma distopia, com uma produção bem trabalhada, enquanto Carlinha e André, de Ricky Mastro, retrata a história de amor de uma senhora transgênero que está esperando a volta do marido para casa, depois dele ter revelado a ela que estava com Aids. Por fim, Migué, de Rodrigo Ribeyro, vencedor do prêmio Revelação no festival de curtas de São Paulo no ano anterior, conta a história de uma garota paulistana trabalhadora que resolveu tirar um dia de folga. "A gente queria mostrar filmes que conversariam internacionalmente e também mostrar um certo panorama de gênero, com diretores mais velhos e outros mais novos", explica Anne Fryzsman. Além dos curtas do programa elaborado pelo Kinoforum, com o apoio da Spcine, do Instituto Guimarães Rosa e da Embaixada do Brasil em Paris, três curtas brasileiros concorrem a prêmios na competição internacional do festival: Amarela, de André Hayato Saito; Jacaré, de Victor Quintanilha; e Eu Sou um Pastor Alemão, de Angelo Defanti. Curtas brasileiros já foram aplaudidos de pé Todos os anos, o festival de curtas francês transforma a vida dos moradores de Clermont Ferrand, ao acolher a nata internacional de diretores, jovens cineastas, produtores e distribuidores. Desde cedo, a Casa da Cultura, um imponente edifício no centro da cidade, oferece uma programação extensa de filmes em grandes auditórios, que lotam rapidamente com um público fiel e impregnado pela cultura do curta-metragem. Mais de dez salas espalhadas pela cidade acolhem as seleções in e off do festival, ao mesmo tempo em que jornalistas do mundo todo acompanham as apresentações e ficam no vaivém entre a Casa da Cultura e o Mercado do Filme, realizado em um edifício adjacente. Os filmes brasileiros costumam gerar expectativa positiva, uma vez que vários deles marcaram o público e profissionais do setor. "Eles lembram que os maiores sucessos de público foram brasileiros. Ilha das Flores [curta de Jorge Furtado, 1989] ganhou o prêmio do público em 1991 e sempre está numa retrospectiva. Quando um produtor recebe uma carta branca, ele vai querer mostrar Ilha das Flores", conta Anne Fryszman. O curta de Jorge Furtado faz uma crítica ácida do capitalismo, ao narrar a trajetória de um tomate, desde o seu plantio até o seu descarte na Ilha das Flores, local que abrigava um lixão de Porto Alegre, onde cerca de 500 toneladas de lixo por dia eram despejadas na época e vasculhadas por pessoas famintas. "Mais recentemente, tivemos um outro filme brasileiro que ganhou o prêmio do público, que era Meu Amigo Nietzsche [Fáuston da Silva, 2012]. No final do filme, na sala onde...

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Ópera Garnier de Paris completa 150 anos “namorando” com o Brasil

2/4/2025
O imponente Palácio Garnier da Ópera de Paris foi inaugurado em janeiro de 1875. O aniversário de 150 anos será celebrado durante todo o ano de 2025 com exposições, conferências, residências de artistas e, integrando a programação da temporada cruzada França-Brasil, concertos com a participação de artistas brasileiros. Vários projetos também serão realizados no Brasil, informa em entrevista à RFI Maria Isabel dos Santos Nivault, que integra o fundo de dotação da Ópera de Paris. “Tudo isso é um namoro”, diz a advogada brasileira. O monumental Palácio Garnier recebe por ano um milhão de visitantes. O prédio, projetado pelo arquiteto francês Charles Garnier, foi inaugurado em 5 de janeiro de 1875. Seu estilo eclético e fachada com esculturas homenageando a harmonia, a música, o canto lírico e a dança, influenciaram a construção de teatros em todo o mundo, como os teatros municipais do Rio de Janeiro e São Paulo. Sua história se confunde com história da Ópera Nacional de Paris, que em 1989 ganhou mais uma sala, a moderna Ópera Bastilha. A prestigiosa instituição cultural francesa, que reúne a Escola de Dança, o Corpo de Baile, o Coral e a Orquestra, além de uma Academia de aperfeiçoamento musical, é um importante espaço da cena internacional contemporânea. A Ópera de Paris perpetua a tradição, apresentando balés e óperas do repertório clássico, mas também abre espaço para criações artísticas de vanguarda. “A Ópera é muito vanguardista. Ela progrediu muito, evoluiu com os anos. O trabalho deles é extraordinário”, garante a advogada brasileira Maria Isabel dos Santos Nivault, espectadora assídua e integrante do fundo de dotação da Ópera de Paris, Arop, associação que reúne os mecenas da instituição. Um belo exemplo desse repertório variado foi o espetáculo de Gala realizado no último dia 25 de janeiro, que iniciou as festividades pelos 150 anos do Palácio Garnier. “O Gala foi uma homenagem ao trabalho da Ópera e a todos os integrantes da Ópera há 150 anos. Foi um espetáculo maravilhoso (que) retomou todos os grandes momentos da ópera, grandes obras produzidas e um balé original”, conta Maria Isabel. Programação e temporada cruzada França-Brasil Além da programação anual de óperas, balés e concertos, a instituição prevê para marcar os 150 anos uma grande exposição, que será inaugurada em 14 de outubro, palestras sobre o “Palácio Garnier, objeto de todos os fantasmas” em novembro, e uma residência de 12 artistas durante todo o ano. Os 150 anos da Ópera Garnier coincidem com a temporada cruzada França-Brasil em 2025 e a instituição “está sendo superativa” nesse evento, informa Maria Isabel dos Santos Nivault. Cantores líricos brasileiros, que já passaram pela Academia da Ópera de Paris, foram selecionados e vão participar de um concerto de melodias brasileiras e francesas, programado para o início de abril na capital francesa. “Em seguida, eles vão se apresentar na Embaixada do Brasil em Paris, e depois vamos levá-los para o Brasil - Rio, São Paulo e talvez Curitiba”, antecipa. Na verdade, vários projetos estão previstos para este ano no Brasil, como um concerto em homenagem ao compositor francês “Georges Bizet”, morto há 150 anos, um concerto conjunto da Orquestra da Ópera e da Orquestra São Paulo, na Sala São Paulo, e masterclass de dança e música para artistas brasileiros. No entanto, a ideia de abrir uma filial da Escola de Dança da Ópera no Brasil não deve sair do papel ainda este ano, mas as prospecções, iniciadas no ano passado com a viagem de uma equipe da instituição francesa ao país, continuam. “Tudo isso é um namoro. É para a ópera conhecer melhor as instituições artísticas brasileiras”, compara. Bolsas de estudos para jovens brasileiros Maria Isabel dos Santos Nivault também integra um grupo de mecenas brasileiras da Ópera de Paris, cujo o “único objetivo é ajudar quem tem talento”. Há alguns anos, o grupo começou a fazer doações específicas para custear bolsas de estudos de jovens brasileiros que passam no...

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Retrospectiva de Tarsila do Amaral em Paris termina com sucesso e segue para Bilbao

2/3/2025
“Tarsila do Amaral: Pintar o Brasil Moderno”, a primeira retrospectiva da artista brasileira em Paris, terminou nesse domingo (2) depois de quatro meses em cartaz no Museu do Luxemburgo. A exposição foi “um sucesso” de púbico, festeja a curadora Cecilia Braschi e ajudou a valorizar a obra da artista na França. A exposição parisiense reuniu cerca de 150 obras de Tarsila do Amaral, sendo 49 quadros, dando um panorama da carreira e produção da artista modernista, dos anos 1920 a 1960. A retrospectiva, aberta ao público em 9 de outubro no Museu do Luxemburgo de Paris, recebeu mais de 123 mil visitantes, com uma média de 1.038 pessoas por dia. “Um sucesso”, resume a curadora Cecilia Braschi. O público era composto majoritariamente por franceses ou residentes na França, mas 19% eram estrangeiros, sendo muitos brasileiros. A curadora informa que o número de visitantes foi crescendo aos poucos e, no último final de semana, mais de 2.000 pessoas por dia visitaram a retrospectiva. “O público que não conhecia a artista descobriu (sua obra) com muito interesse, e muitos brasileiros me disseram ter descoberto coisas novas”, afirma. Segundo comunicado final do Museu do Luxemburgo, 64% dos visitantes “nunca tinham ouvido falar em Tarsila do Amaral” e 8% conheciam a artista “somente de nome”. O nível de satisfação foi de 95%. Dar mais visibilidade e valorizar a obra de Tarsila do Amaral na França, país onde ela iniciou sua carreira internacional há quase 100 anos, era justamente um dos objetivos dessa mostra. A mais famosa pintora brasileira é reconhecida em vários países, mas na França “ainda não tinha este prestígio, era conhecida apenas pelos especialistas”, lembra Braschi. Ela acredita que, depois da exposição parisiense, a modernista passa a ser uma “figura presente na cena artística e conhecida do público local”, contribuindo para o aumento de seu prestígio internacional. “Tomara que isso acabe também mudando a percepção da arte brasileira na França”, torce. Críticas A exposição de Tarsila do Amaral no Museu do Luxemburgo também foi sucesso de crítica. O evento recebeu muitos elogios na mídia francesa. Apenas o jornal Le Monde destoou, ao escrever que “a mostra exaustiva levanta questões contraditórias que provocam até mal-estar”. Cecilia Braschi, antecipando críticas e polêmicas principalmente por causa da presença na retrospectiva do quadro “A Negra”, realizou, em parceria com a USP e o Centro Alemão de História da Arte, duas jornadas de debates sobre raça, identidade e gênero. A curadora diz que ficou decepcionada com a análise negativa da obra de Tarsila feita pelo jornalista do Le Monde, mas contextualiza indicando que hoje “tem um problema com a recepção da obra ‘A Negra’ e a exposição tentou justamente encarar esses problemas, discutir e tentar achar respostas”. Modernismo brasileiro em alta Ao mesmo tempo que a obra de Tarsila do Amaral era exposta em Paris, a exposição “Brasil! Brasil! O nascimento do modernismo" estava em cartaz em Berna, na Suíça, antes de ser levada para Londres. Para Cecilia Braschi, essa grande visibilidade de obras-primas brasileiras na Europa poderia indicar que o modernismo do país “está na moda”, mas ela prefere pensar em “um novo interesse em uma cena artística que é ainda muito pouco conhecida na Europa e merece ser descoberta”. O sucesso de público, tanto na França quanto na Suíça e em Londres, mostra que essas exposições eram necessárias. De Paris, a retrospectiva “Tarsila do Amaral: Pintar o Brasil Moderno” segue para o Museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha, onde ficará exposta de 21 de fevereiro a 1° de junho. Cecília Braschi espera que essa “temporada brasileira na Europa” tenha continuidade com a temporada cruzada França-Brasil que acontece agora em 2025.

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BD do brasileiro Luckas Iohanathan disputa prêmio no prestigioso Festival de Angoulême

1/30/2025
O Festival de Angoulême, o mais importante evento de Histórias em Quadrinhos do mundo, acontece até o próximo domingo (2) na cidade do sudoeste da França. E nesta 52ª edição tem brasileiro na disputa: Luckas Iohanathan, ilustrador e quadrinista natural de Mossoró, no Rio Grande do Norte, está na competição oficial com “Como Pedra” e pode levar o prêmio de melhor BD do ano, o principal do evento. O ano de 2024 foi especial para o jovem quadrinista. “Como Pedra” (Comix Zone) venceu o prêmio Jabuti de 2024 na categoria melhor BD do ano. Logo em seguida, o álbum traduzido e publicado em agosto do ano passado na França pela editora iLatina, com o título “Comme une Pierre”, foi selecionado para o Festival de Angoulême. O reconhecimento do talento de Luckas Iohanathan, hoje com 30 anos, foi muito rápido. Em 2018, ele criou o primeiro quadrinho, “O Mostro Debaixo da Minha Cama”, lançado gratuitamente na internet em 2020 e que recebeu prêmios, antes de ser publicado em 2023. “Não esperava ganhar o Jabuti e muito menos ser indicado a Angoulême. É um sentimento meio estranho, porque é como se não fosse real ainda”, contou Luckas Iohanathan à RFI antes de embarcar para a França. Ele chega a Angoulême nesta quinta-feira (30) para participar do festival que sonhava em conhecer. “Eu sempre tive vontade de conhecer Angoulême como leitor, como público, e ir pela primeira vez como artista, e ainda mais participando da premiação, já está mais do que suficiente”, disse, completando que prefere não esperar uma eventual premiação. “Como Pedra” está na competição oficial que distribui ao todo seis prêmios. Se levar o “Fauve d’Or” de melhor BD do ano, Luckas Iohanathan será o segundo brasileiro a receber a recompensa depois de Marcelo Quintanilha, premiado por “Escuta, Formosa Márcia” em 2022. “Da mesma forma que eu entrei nesse mundo vendo quadrinistas brasileiros sendo reconhecidos, espero que eu também sirva para alguém que quer entrar nos quadrinhos ver que é possível”, torce. Nordeste brasileiro “Como Pedra” narra a vida de uma família nordestina, que tem uma filha com deficiência. A BD de Luckas Iohanathan aborda questões históricas do nordeste brasileiro: a seca, a miséria, as desigualdades, a injustiça, denunciando a ausência de políticas públicas e o fanatismo religioso. O livro dialoga com toda uma tradição da literatura e do cinema brasileiros, como "Vidas Secas", "O Pagador de Promessa", "Morte e Vida Severina", "Os Sertões". O ilustrador conta que seu objetivo inicial não era fazer uma narrativa de denúncia ou militante. Inspirado pelo livro "O Mito de Sísifo", do francês Albert Camus, ele quis fazer um conto filosófico. “Esse livro nasceu de uma dúvida. Eu me perguntando se esse tipo de vida vale a pena, se vale a pena todo esforço, se vale a pena continuar”. No processo de criação, a narrativa evoluiu, influenciada por questões como o aquecimento global, a falta de remédio, a falta de leite e muitos outros elementos da história de vida pessoal do autor no interior do Rio Grande do Norte. A resiliência materna é um tema central da obra. A técnica do desenho de Luckas, que confessa “nunca ter gostado de pintar”, também remete a essa aridez do Nordeste. Ele usa apenas três cores para retratar o sertão brasileiro: o preto, o branco e o amarelo. “Eu queria que a cor tivesse um sentido na história, fosse uma emoção, gritasse também”, explica. Para o quadrinista, o “amarelo representa muito esse calor que está grudado na pele dos personagens o tempo todo”, detalha, lembrando que as paisagens do interior nordestino são dominadas por essa cor. “É como se você visse apenas o Sol, tomando conta do chão”. Lucas acredita que essa história brasileira pode ressoar para leitores de outras culturas, como a francesa. “Eu queria que no quadrinho as coisas externas fizessem com que os personagens estivessem naquelas situações. Que aquilo não era culpa deles. Coisas como o aquecimento global, qualquer região do mundo está sofrendo com isso,...

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"Eu faço mapas emocionais de diferentes culturas", diz artista plástica brasileira ao expor em Paris

1/29/2025
Cristina Barroso vive e trabalha entre São Paulo e Stutgartt, na Alemanha. Com uma carreira internacional consolidada, a artista plástica realiza, pela primeira vez, uma exposição individual na França. A Maison de l'Amérique latine recebe a mostra "O Rio Interior", de 30 de janeiro a 29 de março. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris Com interesse sobre a questão territorial, as obras produzidas do ano 2000 até hoje ilustram a história da artista sobre duas culturas, dois países, num projeto que passa pela geografia e a cartografia. Cristina Barroso é famosa por suas pinturas cartográficas, em que recortes e colagens dão novos contornos ao mundo tal como ela o vê. “Eu fiz esse trabalho pensando especificamente no Brasil visto pelos europeus. São momentos simbólicos de fluidez da vida, do tempo. São esses elementos que me interessam”, explica em entrevista à RFI Brasil. Cristina Barroso explora materiais diversos, texturas opacas e brilhantes, uma grande quantidade de imagens de onde emergem representações de rios e povos da floresta. Há belas imagens de digitais, de rostos que se fundem com troncos de árvores, em obras que retratam relações de harmonia com a natureza. “Eu saí do Brasil muito cedo e essa maneira de olhar o mundo por cima, de ficar viajando, me levou a usar mapas”, afirma. “Mas não mapas no sentido em que você os vê e se orienta, mas um mapa mais ou menos emocional, das diferentes culturas”, completa. A artista conta que deixou o Brasil aos 17 anos. E quanto mais o tempo passa, mais ela se aproxima do tema das raízes. “Eu sou de São Paulo, mas eu acho que vendo o Brasil de fora, eu me concentrei mais em certos símbolos como o rio, que é uma imagem metafórica para a vida”, observa. Antropofagia O trabalho de Cristina faz referências e citações diretas ao Movimento Antropofágico, corrente artística derivada do modernismo brasileiro a partir de 1920. “O Movimento Antropofágico fala exatamente da minha posição de devorar as outras culturas e juntar tudo para um modo de expressão original”, analisa. A série “Tristes Trópicos” é uma referência direta ao antropólogo francês Claude Lévi-Strauss que, conforme lembra a artista, “falou que todos nós somos canibais de maneira geral pela cultura”. Na série "Tristes Trópicos", mapas do território brasileiro são colocados em um conjunto de pastas de plástico que, por sua vez, são classificadas por divisórias translúcidas coloridas, sobre as quais a artista interveio com uma profusão de motivos indígenas e outros desenhos que narram a história colonial do país. “Eu fui para o Amazonas só três ou quatro vezes. Eu sempre morei em cidade grande. Então, eu gosto de misturar coisas da metrópole e dos povos que vivem na natureza”, diz. “Eu arquivei essas imagens dentro de plásticos e usei também elementos da sociedade de consumo, junto com elementos da natureza”, completa. Em outra série de obras, intitulada "Nativos", organizada de maneira diferente, Cristina recompõe as identidades visuais com superposições de imagens. Uma gravura antiga com o rosto de um indígena aparece estampada com uma bolsinha infantil de feltro decorada com um elefante. Sociedade de consumo O contraste entre os nativos da floresta amazônica e a sociedade urbana destaca o consumo excessivo e o desperdício da sociedade atual em contraste com a interconexão dos nativos para com a natureza e o cosmos. Imagens que, ela espera, possam incitar a imaginação e provocar reflexão sobre a realidade atual. “Em alguns trabalhos, lógico que eu penso sobre isso, mas eu não sou ativista, sabe? Não sou especialista em geografia, nada disso. São elementos que eu uso com a liberdade artística, só para expressar exatamente esse momento que estamos vivendo. Eu espero que as pessoas possam refletir mais sobre a existência humana”, diz a artista. Recentemente, cientistas brasileiros desenvolveram o conceito de “rios voadores” e mostraram a estreita relação de troca entre os rios e a floresta. Os...

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João Selva, 'embaixador da música brasileira na França', lança novo CD inspirado no Brasil

1/28/2025
O músico brasileiro João Selva, carioca radicado na França desde 2010, acaba de lançar neste início de 2025 seu quarto CD “Onda”, pelo selo francês Underdog Records. O novo trabalho do “trovador de Ipanema” ou “um dos melhores embaixadores da música brasileira”, como define a imprensa francesa, continua a surfar em vários estilos musicais do “Atlântico negro”. Como sugerem o título “Onda” e a capa do CD, que reproduz o desenho do calçadão de Copacabana, o Brasil inspirou a maioria das dez músicas do disco, cheias de swing e com muito ritmo. “Onda” é vibrante e ensolarado como boa parte da obra de João Selva. As composições são fruto do “reencantamento” do músico com o país natal que ele pode voltar a visitar depois do lockdown imposto pela pandemia de Covid. As músicas e letras, em parceria com Bruno Patchworks Hovart, foram feitas durante uma viagem no início de 2024, no período de pré-carnaval, pelo litoral do Nordeste brasileiro. “Para mim, foi estranho ficar tanto tempo sem ir ao Brasil e o fato de voltar e me reencantar, olhar assim com olhos de criança de novo para o nosso país, as suas belezas, seus contrastes, foi realmente um momento que eu pude apreciar a alegria do povo brasileiro, essa coisa descontraída, esse humor que a gente tem e essa maneira também de viver o afeto de uma maneira diferente”, lembra. Uma única faixa, “Banho de Mar” foi escrita na França, na ilha du Levant, no Mediterrâneo, e duas são “baladas”, mais calmas, sendo uma delas, “Rainbow Love”, um duo com a cantora francesa Gabi Hartmann. João Selva revela que escreve “muita música calma, mas não as compartilha muito". Nos shows, “eu gosto muito de botar o povo para dançar. Acho que é um pouco a minha herança da cultura tradicional. Eu venho da capoeira, do samba, do forró, e tem essa coisa da música ser uma maneira da gente extravasar, botar para fora, e a dança permite isso. Por isso, eu sempre boto um pouco de lado essas músicas mais calminhas que eu faço”, conta. Atlântico negro “Onda” é o quarto CD solo do músico brasileiro, depois de “Natureza” em 2017, “Navegar” em 2021, e Passarinho em 2023. Todos contaram com a parceria e produção de Bruno Patchworks. “Eu tenho essa sorte de poder ter esse alter ego. Na música pop é uma coisa que está sempre voltando. A gente pode pensar em Paul McCartney e John Lennon, e tantos outros que se completavam e se estimulam mutualmente para criar”, compara O trabalho do brasileiro, que nasceu em Ipanema e é filho de um pastor de uma comunidade alternativa cristã, tem sucesso de público e de crítica. Na França, João Selva é chamado de "um dos melhores embaixadores da música brasileira” na França e de “trovador de Ipanema”. Ele se sente “muito honrado” de estar representando esse universo tão rico e diverso da música brasileira. No entanto, o conceito que mais define o trabalho de João Selva é o de “Atlântico negro”, desenvolvido pelo sociólogo inglês Paul Gilroy. “A gente pensa o Atlântico só como uma coisa que está separando a gente, mas é ao contrário. Ele introduz a ideia de que o Atlântico aproxima, na verdade, a África do Brasil, do Caribe, da Península Ibérica. Ele propõe um outro olhar do que esse olhar histórico do comércio triangular, dessas tensões, um olhar positivo pensado como trocas culturais. A gente no Brasil sabe muito bem disso”, salienta. No dia 25 de março, João Selva faz o show de lançamento de “Onda” na casa de espetáculos New Morning e convida a todos para esse “banho de mar” em Paris.

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A memória do Holocausto também diz respeito ao Brasil, relembra historiadora

1/27/2025
O dia 27 de janeiro marca os 80 anos de libertação do campo de concentração de Auschwitz, símbolo da exterminação dos judeus pelos nazistas. Desde 2005, a data, por decisão da ONU, é lembrada como o Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto. A historiadora e professora da USP, Maria Luiza Tucci Carneiro, uma das maiores especialistas de Holocausto no Brasil, diz que a rememoração este ano ganha maior relevância e ressalta que a memória do Holocausto “diz respeito também ao Brasil”. O campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, foi libertado em 27 de janeiro de 1945 pelas tropas soviéticas. Mais de um milhão de pessoas, a maioria esmagadora de judeus, foram exterminadas no local. A cerimônia este ano em Auschwitz reunirá as poucas dezenas de sobreviventes, todos com mais de 90 anos, que serão os únicos a pronunciar discursos. A historiadora e professora Maria Luiza Tucci Carneiro é uma das maiores especialistas de Holocausto e antissemitismo no Brasil. Ela é coordenadora do Leer, Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação junto ao Departamento de História da USP, onde desenvolve o projeto Arqshoah - vozes do Holocausto e antissemitismo no Brasil. Para ela, o Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto ganha uma nova relevância devido ao ataque do Hamas de 7 de outubro contra Israel, do aumento recente do antissemitismo no mundo e das comparações entre a ofensiva de Israel em Gaza e o Holocausto. Após o 7 de outubro, diz, houve "uma mudança de paradigma em relação ao conceito de genocídio, que é um conceito distinto dos crimes contra a humanidade e crimes de guerra”. O Holocausto “foi um genocídio singular (...) planejado e executado pela Alemanha nazista e países que colaboraram com um objetivo bem claro de exterminar judeus, ciganos, deficientes físicos, mentais e dissidentes políticos, entre os quais os Testemunhos de Jeová”, explica. Racismo e antissemitismo de raiz O antissemitismo não surgiu depois do 7 de outubro e nem na Segunda Guerra Mundial. “Nós temos que lembrar que o Holocausto resultou da persistência de uma mentalidade racista secular. Daí o conceito que eu tenho usado nos meus livros, é um racismo de raiz, é um antissemitismo de raiz”, define. Tucci Carneiro salienta a importância do dia 27 de janeiro. “Não podemos permitir o apagamento dessa memória que não é só prestar homenagens aos mortos e aos sobreviventes. No conjunto, eu vejo como uma importante estratégia de prevenção de genocídios futuros e também alertando para o que acontece hoje em Gaza”. Relembrar é “uma forma de investir contra os negacionistas que insistem na tese de que Holocausto não aconteceu ou que a atual guerra em Gaza é um genocídio praticado por Israel”, enfatiza. Centro e vinte judeus brasileiros foram entregues pela França à Alemanha nazista e o governo brasileiro manteve circulares secretas de 1933 a 1949 barrando a entrada de judeus europeus no país. Por isso, a historiadora ressalta que a memória do Holocausto “diz respeito também ao Brasil”. Ela considera “uma forma também de colaboracionismo com Alemanha nazista o governo brasileiro não ter acolhido refugiados em função das circulares secretas”. Leia a entrevista completa ou clique na imagem principal para ouvi-la: RFI: Depois do 7 de outubro, do aumento recente do antissemitismo e comparações entre a ofensiva de Israel em Gaza e o Holocausto, essa comemoração dos 80 anos de libertação do campo de concentração de Auschwitz ganha uma nova relevância? Maria Luiza Tucci Carneiro: O 7 de outubro de 2023 realmente interferiu e deu uma nova relevância à data do 27 de janeiro, que é um dia importante de rememoração em memória das vítimas do Holocausto. Quando nós falamos de uma nova relevância, eu ressalto que essa nova relevância pode ser vislumbrada sobre alguns aspectos. Primeiro, porque o 7 de outubro acarretou uma proliferação do antissemitismo no mundo. Após esse ataque, nós também percebemos que houve uma mudança de...

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Matheus Donato inova com cavaquinho de seis cordas em formato trio jazz

1/22/2025
Músico brasileiro radicado em Paris lança álbum Matheus Donato Trio, que explora novas possibilidades do instrumento tradicional, mesclando elementos do choro com jazz. Em janeiro de 2025, o músico Matheus Donato apresenta seu novo projeto, que traz uma abordagem inovadora para o cavaquinho de seis cordas em formato trio jazz. Acompanhado pelo baixista Darcy Gomes e o baterista Marcelo Maurício Melo, o álbum apresenta oito composições inéditas, incluindo uma parceria com músicos de Brasília, além de uma releitura do clássico "Mas que nada" de Jorge Ben Jor. O formato escolhido para o projeto foi inspirado nos trios de jazz, substituindo a guitarra pelo cavaquinho. "Eu encontrei uma alegria gigante ao fazer um repertório que eu curtisse, preenchendo espaços melódicos e harmônicos com recursos do cavaquinho. E esses parceiros incríveis que são o Darcy e o Maurício levaram o trabalho para um lugar totalmente diferente do que eu tinha imaginado”, afirma. “O trio é uma formação que me fascina e o cavaquinho é um instrumento que me fascina. Juntando esses dois fascínios nasceu o disco”, acrescenta. O álbum “Matheus Donato Trio” também traz homenagens a dois grandes nomes da música: Django Reinhardt, violinista francês nascido na Bélgica da etnia "rom", e o brasileiro Dominguinhos. “O choro do Dominguinhos é um dos mais bonitos que já vi, com uma harmonia muito interessante e uma melodia super difícil de tocar. Misturando vários choros dele com ideias melódicas, fiz uma música em sua homenagem”, afirma. A referência a Django Reinhardt está relacionada à experiência de sua chegada na França e a descoberta do violão manouche, muito usada pelo músico cigano, e que influenciou o jazz francês. As faixas em homenagem aos dois músicos que o inspiraram, contam com participações especiais do saxofonista francês Baptiste Herbin e do violinista venezuelano Alex Cárdenas, trazendo elementos adicionais ao projeto. Sobre seu papel como parte de uma nova geração de músicos brasileiros, Donato, brasiliense de 25 anos, reflete: "A música brasileira, a música em geral, está precisando de gente apaixonada, está precisando de gente sensível. E está precisando de gente que faz o trabalho musical pensando no trabalho musical, sem abrir mão das suas convicções artísticas. E continuar com a cabeça e os ouvidos sensíveis para todos os estímulos possíveis”, afirma.

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