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Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.
Location:
Paris, France
Networks:
RFI
Description:
Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.
Language:
Portuguese
Episodes
“Elementos brasileiros” marcam obra de autor franco-brasileiro de HQ, nunca publicado no Brasil
4/17/2025
Nicolaï Pinheiro nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, filho de pai brasileiro e mãe francesa. Ele se mudou para a França aos 18 anos e iniciou uma carreira, hoje consolidada, como autor e ilustrador de Histórias em Quadrinhos. O desenhista franco-brasileiros tem várias HQs publicadas em francês, mas nenhum de seus livros foi até agora lançado no Brasil. Nicolaï Pinheiro, cuja obra traz “elementos profundamente brasileiros”, tem "esperança" de um dia ser publicado em português.
Nicolaï Pinheiro sonhava em ser autor de histórias em quadrinhos desde criança, mas foi na França que pôde concretizar essa ideia “um pouco estranha, um pouco maluca”, lembra. No início dos anos 2000, ele deixou o Rio de Janeiro para estudar Belas Artes em Montpellier, no sul da França.
Os primeiros trabalhos profissionais e as primeiras histórias autorais não abordavam temas brasileiros. “Naquele momento, acho que eu queria ganhar alguma legitimidade, como autor, antes de ser visto, talvez um dia, como um autor brasileiro”, lembra. Dessa primeira fase, se destacam a trilogia “Venise” ou “La drôle de vie de Bibow Bradley" (A vida engraçada de Bibow Bradlley).
Os temas ainda não era brasileiros, mas o traço, o estilo, as cores e as formas tinham "elementos profundamente brasileiros", ressalta Nicolaï. “Eu acho que a minha relação tanto com o traço, quanto com as cores, vem da minha infância, da minha cultura, das primeiras coisas que me marcaram, que me emocionaram e que me deram vontade de continuar desenhando. E isso tudo ocorreu no Brasil”, destaca.
Virada brasileira
A virada 100% brasileira aconteceu em 2018, quando publicou “Lapa la nuit” (Lapa à noite), pela editora Sarbacane. O romance gráfico se passa no Brasil, mais precisamente no bairro boêmio carioca da Lapa.
“Tudo começou com uma ideia, uma vontade. de desenhar o bairro da Lapa, com uma mistura de pessoas diferentes, aquela arquitetura, aquelas luzes, aquele movimento. Para mim era importante mostrar outra coisa do Brasil ou do Rio, digamos, que não fosse o eterno clichê praia, Carnaval, futebol”, conta.
Adaptação do romance do pai
Com o livro “Ivo a mis les voiles” (em português Ivo içou as velas, no sentido de pegar a estrada), de 2023, o autor e ilustrador mergulhou ainda mais nas raízes brasileiras. A história é um “road movie” pelo nordeste do Brasil, na virada dos anos 1990, e reflete sobre temas como memória e família. “Ivo” é uma adaptação do romance "Cemitério dos navios", de Mauro Pinheiro, pai de Nicolaï.
“Foi talvez o meu projeto mais peculiar, mais emocionante e mais bonito também. Adaptar uma obra já é um exercício complexo. Adaptar uma obra do meu pai foi algo que surgiu assim quase como uma revelação”, relembra. Ele acha a história boa, mas confessa que “tinha alguma dúvida, não quanto ao projeto em si, mas quanto ao fato que ele pudesse interessar muita gente na França”. Mas os leitores gostaram dessa “dimensão pessoal” e de ver “um outro Brasil, que não é o Brasil que sempre se mostra aqui na França”, informa.
Apesar da carreira consolidada na França, o ilustrador decorou inclusive uma estação de metrô da região metropolitana de Paris, nenhum livro de Nicolaï Pinheiro foi até agora publicado no Brasil. O ilustrador franco-brasileiro assume que isso “é uma frustração, mas é algo que infelizmente não faz parte das coisas que cabem a mim decidir”. Ele continua tendo “esperança” e espera que um dia seus livros sejam traduzidos para o português.
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Brasil: primeiro Dia Nacional da Lembrança do Holocausto homenageia diplomata que salvou judeus
4/16/2025
O Brasil celebra nesta quarta-feira (16) o primeiro Dia Nacional da Lembrança do Holocausto. A data comemorativa, instituída no ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após aprovação do Congresso, foi escolhida em homenagem ao embaixador brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas, que salvou centenas de pessoas do nazismo.
O historiador Fabio Koifman, biógrafo do diplomata, considera a celebração essencial, especialmente nesse momento de aumento da intolerância, para que as pessoas tenham como referência alguém que foi um "anteparo contra a violação dos direitos humanos perpetrada por um Estado".
Luiz Martins de Souza Dantas (1876–1954) foi embaixador do Brasil na França durante a Segunda Guerra Mundial. Contrariando a política do governo brasileiro da época, liderado por Getúlio Vargas, ele concedeu vistos e salvou centenas de pessoas ameaçadas pelos nazistas, principalmente judeus. Por isso, é reconhecido hoje como "Justo entre as Nações", título atribuído pelo Memorial do Holocausto (Yad Vashem), em Israel. A atuação heroica e extraordinária de Souza Dantas na França permaneceu esquecida até os anos 1980.
O trabalho de pesquisa do historiador Fabio Koifman, que publicou em 2002 a biografia "Um Quixote nas trevas", foi fundamental para o resgate da memória do embaixador. O pesquisador reuniu mais de 7.500 documentos e diz que mais de 500 pessoas foram salvas por Souza Dantas.
O diplomata não foi o único brasileiro reconhecido como "Justo entre as Nações". Aracy de Carvalho, companheira de Guimarães Rosa, que ajudou pessoas perseguidas pelo nazismo no Consulado-Geral do Brasil em Hamburgo, também recebeu o título do Memorial do Holocausto. Contudo, a homenagem a Souza Dantas destaca-se por sua ação mais ampla e decisiva.
"Intolerância generalizada"
O professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) atuou para a escolha de 16 de abril, data da morte do embaixador, para marcar o Dia Nacional da Lembrança do Holocausto. As vítimas do regime nazista já são lembradas em todo o mundo, anualmente, em 27 de janeiro. Mas para Fabio Koifman, esse dia nacional também era realmente necessário, principalmente nesse momento de “intolerância generalizada” e aumento do “racismo”.
“Uma série de valores, que a gente imaginou que já estavam sedimentados, parece que estão se esvaindo, como uma questão de empatia em relação aos que sofrem, aos refugiados, aos dramas, aos grupos que são vítimas de violação dos direitos humanos”, ressalta o historiador.
Segundo ele, a data é “importante, especialmente para o Brasil ter como referência alguém que atuou em sentido contrário, para se dizer que existiram pessoas que foram solidárias e empáticas, que agiram contrariando os próprios interesses colocando em risco, e foram anteparo para a violação dos direitos humanos perpetrado por um Estado, por uma organização”.
Aproximar os brasileiros da história do Holocausto
A lembrança da atuação de um "personagem brasileiro" aproxima a população dessa temática, acredita o historiador. Ele destaca que o antissemitismo cresceu significativamente no mundo nos últimos anos, especialmente após o conflito na Faixa de Gaza, e o Brasil também sente esse impacto.
"Não é apenas o antissemitismo, mas também o racismo e a homofobia. Todo esse conjunto de intolerâncias parece estar relacionado com a forma como a internet e os grupos sociais atuam. As pessoas, principalmente os mais jovens, acabam se radicalizando, e uma intolerância generalizada emerge ou se desenvolve", avalia Koifman.
O historiador destaca que "é importante educar, mas que só a educação não é suficiente; é necessário haver penalização criminal para aqueles que se manifestam de forma racista". Ele considera a legislação brasileira contra discriminação, racismo e crimes de ódio eficaz, mas acredita que ela pode ser aprimorada. "Esperamos que o mundo digital, da internet e das redes sociais, embora mais complexo, também seja alvo de punições. Esta é a forma de...
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Cristiano Nascimento lança projetos musicais e dirige 2° Festival de Choro no sul da França
4/15/2025
O músico e compositor brasileiro Cristiano Nascimento, radicado na França, lança em abril dois projetos: o álbum "Portraits", em parceria com Will Welker, e o livro-disco "C’est l’heure du boeuf”, concebido com a francesa Claire Luzi. Os lançamentos acontecem paralelamente à 2ª edição do Festival Internacional de Choro de Aix-en-Provence, do qual é fundador e diretor artístico.
Cristiano Nascimento é um músico brasileiro que tem o violão como instrumento principal, mas se considera antes de tudo um compositor e arranjador. "Antes de ser violonista, eu me considero compositor e arranjador. Se o violonista faz alguma coisa, é graças ao compositor", destaca ao falar de seu álbum “Portraits”, realizado em parceria com o músico Will Welker.
A colaboração é resultado de mais de uma década de amizade e trabalho conjunto. "A gente já se conhece e toca junto há mais de 12 anos. E para mim é muito importante ter uma relação humana com a pessoa que eu vou dividir o palco, ensaiar, trabalhar, tocar, criar. Tem que ter muita afinidade além da música, só música não basta", explica Cristiano sobre o trabalho lançado em plataformas digitais.
O álbum explora a variedade de timbres e estilos musicais, utilizando diferentes instrumentos como violão de sete cordas de aço e de nylon, viola nordestina e guitarra elétrica.
"Eu não gosto de ficar ouvindo o mesmo timbre o tempo todo... E isso faz parte da minha música, porque é o que tem dentro de mim. E a ideia era explorar timbres e linguagens de coisas que vivi como músico de bailes e com os mestres com quem convivi", justifica Cristiano Nascimento ao falar da diversidade sonora.
O segundo projeto é o livro-disco "C’est l’heure du boeuf", desenvolvido com sua esposa Claire Luzi, por meio da companhia La Roda. A obra surgiu de um espetáculo criado em 2019, inicialmente chamado "Bum Boum mon Boeuf", que faz um jogo de palavras entre o "Bumba meu boi" do folclore brasileiro e a expressão francesa "faire le boeuf" (fazer um som de forma informal). "A gente conta essa história verdadeira que tem uma relação muito grande com o compositor Pixinguinha e o Brasil", relata Nascimento.
O livro foi escrito por Dominique Dreyfus, pesquisadora da música brasileira e biógrafa de Baden Powell e Luiz Gonzaga, e ilustrado por Sylvain Barret, um francês que mora em São Paulo. "A gente adorou a história que ela escreveu", comenta o músico sobre o trabalho de Dreyfus.
Festival Internacional de Choro
Além desses projetos, Cristiano é fundador e diretor artístico do Festival Internacional de Choro de Aix-en-Provence, que chega à sua segunda edição em 2025, fazendo parte da programação da temporada cruzada Brasil-França.
O festival enfrentou desafios financeiros, mas conseguiu se manter graças ao apoio de voluntários e parcerias. "A gente quase anulou... Mas graças a essas pessoas maravilhosas que trabalham na equipe, a gente continuou, levantou a cabeça. E viabilizou com uma ajuda muito grande da temporada do Brasil na França, do consulado do Brasil em Marselha", revela.
A programação do festival é diversificada, incluindo exposições de fotografias, oficinas e apresentações musicais. Um dos destaques é a exposição "Choromaton" de Olivier Lob, fotógrafo que documenta chorões de todo o Brasil. "Ele percebeu que não tinha tanto assim. A gente tinha algumas imagens dos grandes ícones. É pouco documentado de uma forma geral, e ele começou a trabalar não só os conhecidos, mas também os anônimos", explica Cristiano.
O festival também conta com oficinas que já atraíram mais de 40 músicos inscritos de toda a Europa, além de rodas de choro diárias. Sobre a receptividade do público francês, Cristiano comenta que desde a primeira edição o festival superou as expectativas, o que motivou a companhia La Roda e apostar nesta segunda edição. "A gente fez com medo, com cara e coragem... E foi um sucesso. Estava casa cheia, todos os eventos. A gente teve que deixar gente de fora," lembra.
Ponte Cultural Brasil-França
Desde...
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Retrospectiva de jovem artista Rafael Carneiro em Paris dissemina tintas com pigmentos do Brasil
4/14/2025
A exposição “De la Fabrique à l’Atelier” (Da Fábrica ao Ateliê), em cartaz no Espaço Molière, é a primeira retrospectiva da carreira do jovem artista plástico brasileiro Rafael Carneiro. A mostra reúne os trabalhos realizados nos últimos 20 anos e destaca o impacto do uso de tintas com pigmentos brasileiros, inventadas e fabricadas pelo próprio artista, em suas obras.
Rafael Carneiro começou a pintar muito cedo e teve seu trabalho reconhecido desde o fim da Escola de Belas Artes na USP, no início dos anos 2000. Da abstração passou a reproduzir nas telas fotografias e imagens de vídeo, antes de iniciar uma fase de superposição de várias imagens, como uma espécie de colagem.
“Eu tive trabalhos figurativos, trabalhos que tinham essa ligação com uma imagem anterior. Por muito tempo, eu me interessei por essa espécie de tradução de imagens de outras linguagens para a pintura”, explica à RFI.
Depois dessas séries hiper-realistas, Rafael Carneiro iniciou recentemente uma nova etapa de seu trabalho “produzindo mais pinturas abstratas, que também têm alguma relação com a figuração, mas têm uma ênfase muito grande na materialidade por causa do início da fábrica”.
Cores e pigmentos brasileiros
A fábrica citada, que dá nome à exposição parisiense, é a Joules & Joules fundada por Rafael Carneiro em 2020, em São Paulo, em parceria com o também artista Bruno Dunley. A empresa começou a fabricar tintas a óleo nacionais de qualidade, com preços mais acessíveis. Muitas cores são criadas com pigmentos brasileiros, propiciando uma paleta muito mais variada e viva.
“A gente não entendia como o Brasil tinha uma falta de materiais, como isso era um problema tão grave”, lembra. Historicamente, os artistas brasileiros são dependentes das ofertas de tintas importadas, muito caras. Para contornar o preço, usavam tinta estudante, mais barata, mas de menor qualidade.
“Mesmo sendo ainda um pouco caro, é infinitamente mais acessível do que era possível se comprar importado no passado. Também, a gente se esforça muito para divulgar e explicar a importância de um material profissional, porque essas ferramentas podem ampliar as possibilidades poéticas”, acredita.
A oferta de tintas nacionais teve um grande impacto na obra de Rafael Carneiro. Os quadros do pintor ganharam uma explosão de cores, com tons como “Terra de Rio Acima, “Sombra, Poços de Caldas” ou “Turmalina Negra”. Também ganharam outras espessuras e materialidade. “Numa tinta estudante você não consegue nem perceber qual a diferença material entre um pigmento e outro. Eu tinha uma relação com o material mais instrumental, e hoje me interessa muito a própria materialidade deles, de tentar na pintura explorar essas características”, explica.
História da arte
A pesquisa com os novos pigmentos e materiais também ajudou Rafael Carneiro a refletir sobre a história da arte. “Estudando a história dos pigmentos, das tintas, a gente vai compreendendo melhor como o acesso aos materiais impactou na história da arte, no tipo de pintura que foi desenvolvido ao longo do tempo. Isso é uma reflexão que mudou a relação com a minha pintura, mas também com a própria história da arte”, diz.
Segundo ele, essa maior acessibilidade a tintas de qualidade também influenciou o trabalho de outros artistas plásticos contemporâneos brasileiros. “A gente tem ficado muito contente com o impacto que tem gerado no trabalho de outros pintores”, celebra.
Todas as etapas do trabalho de Rafael Carneiro estão expostas no Espaço Molière de Paris até 10 de maio. Além dos quadros, há vídeos e amostras sobre o desenvolvimento e fabricação das tintas brasileiras. A curadoria é de Leonel Kaz. “De la Fabrique à l’Atelier” integra a programação da temporada cruzada França-Brasil.
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“O Saci”, de Monteiro Lobato, é publicado pela primeira vez na França
4/10/2025
O Brasil marca presença no Festival do Livro de Paris, o importante salão anual do mercado editorial francês, realizado a partir desta sexta-feira (11) no Grand Palais. Durante três dias, o pavilhão brasileiro propõe uma programação variada que integra a temporada cultural cruzada França-Brasil. Vários livros em português e francês serão lançados no salão, entre eles “O Saci,” de Monteiro Lobato, publicado pela editora Chandeigne-Lima.
“O Saci” é o primeiro livro de Monteiro Lobato traduzido e publicado na França. A tradução é assinada por Mathieu Dosse. A história do principal personagem do folclore brasileiro chega às livrarias francesas mais de cem anos após sua primeira publicação em português, em 1921.
O tradutor não sabe explicar por que um dos autores infanto-juvenis mais famosos do Brasil, cuja obra narrando as aventuras de Pedrinho e Narizinho no Sítio do Picapau encanta há mais de cem anos as crianças brasileiras, não interessou antes editoras francesas.
“O que eu sei é que esse livro é um livro que eu lia, em português, para a minha filha quando ela era criança. Não vou apresentar aqui o Sítio do Picapau Amarelo, o Monteiro Lobato. Todo mundo conhece, mas na França ninguém conhecia. A Anne Lima da Editora Chandeigne-Lima gostou do livro em português e falou: ‘vamos fazer?’”
A tradução francesa de “O Saci” é ilustrada pela francesa Herbéra. A contracapa descreve em uma frase a personalidade desse mito simbolizado por um menino negro, de uma perna só, de gorro vermelho e cachimbo na boca: “O saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça.” “As ilustrações são lindas. Acho que é uma das edições mais bonitas do "Saci" feitas até hoje”, afirma Mathieu Dosse.
Racismo em Lobato
Franco-brasileiro, Mathieu Dosse é um tradutor experiente, já traduziu clássicos da literatura brasileira, como Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, e foi premiado duas vezes na França por sua tradução de “Estas Estórias”. Ele diz que apesar de centenário, esse texto “genial” do Monteiro Lobato está muito atual e foi um prazer traduzi-lo. Para isso, contou com a ajuda da filha.
“Eu acho que foi o único livro que eu traduzi que eu li depois duas vezes em voz alta, incluindo uma vez com a minha filha. Ela, de vez em quando, falava: ‘mas espera aí, isso aí está um pouco estranho. Ela me ajudou”, conta, orgulhoso. Segundo Mathieu, esse trabalho de leitura oral foi necessário “porque as crianças podem ler (sozinhas) a partir de uma certa idade, mas não é uma linguagem feita só para um público infantil. É uma linguagem que é bonita para os adultos também. Então, é muito interessante quando os adultos leem o livro para a criança e mostram as ilustrações”, completa.
Recentemente a obra de Monteiro Lobato, está envolvida em grande polêmica devido a expressões e elementos que reforçam estereótipos raciais no Brasil. O racismo na obra de Lobato foi até parar no Supremo Tribunal Federal. Alguns tradutores optam por suprimir as passagens polêmicas, outros por fazer notas de pé de página contextualizando os trechos.
Mathieu Dosse defende que em “O Saci”, ao contrário de outros livros do autor, não tem frases que “podem chocar” ou que sejam “estranhas para nosso olhar de hoje em dia”. Ele garante que, ao traduzir, não precisou suprimir nenhuma frase, apenas mudou um pouquinho algumas palavras. “Quando ele (Lobato) lembra, sempre falando da tia Anastácia, a negra, por exemplo, você não precisa falar em francês 'la noire'. Não é necessário, e não é uma questão de censurar o autor. É simplesmente que em francês não se fala assim. Quando ele bota a negra fez isso, eu posso falar a velha senhora ou voltar a usar tia Anastácia", argumenta.
No final do livro, Dosse contextualizou em um posfácio para um público francês, o universo do Monteiro Lobato, de uma família branca, com dois servidores negros. “A gente que é brasileiro sabe que tem uma questão forte do Brasil (racismo), ainda importante, mas esse livro do Saci não contém nada que...
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Fotógrafa brasileira publica livro com fotografias feitas por imigrantes em Paris
4/8/2025
O livro Les Sources (As fontes em português) é o resultado da segunda etapa do projeto Parcours (Percursos) da fotógrafa e antropóloga brasileira radicada na França, Andrea Eichenberger. A obra reúne relatos e fotografias feitas pelos moradores de uma habitação social do 11° Distrito de Paris, principalmente imigrante, que fazem uma radiografia em imagens de onde moram e de si.
“A Rua de Godefroy Cavaignac”, publicado no início de 2024, foi o primeiro livro da série Percursos. A obra foi resultado de um ateliê de fotografia realizado por Andrea Eichenberger, em parceria com a socióloga e urbanista brasileira Camila Gui Rosatti, como moradores do 11° distrito de Paris. Eles receberam uma máquina fotográfica compacta analógica na mão e foram convidados a fazer um retrato de uma das ruas do bairro, a rua Godefroy Cavaignac.
“A ideia é olhar a cidade pelos olhos dos seus moradores e, a partir das fotos que eram realizadas, a gente colhia histórias”, conta a fotógrafa à RFI.
Andrea Eichenberger, que mora na França há mais de 20 anos, se inspirou no escritor francês, ou melhor, parisiense, Georges Perec, para desenvolver esse projeto.
“A gente se inspira no que Georges Perec chamava de ‘l’Infra-ordinaire’, aquelas coisas da vida cotidiana que a gente não olha”, resumindo, as coisas banais que não prestamos mais atenção. Seguindo o exemplo do Perec, que parava em um ponto da cidade e o descrevia à exaustão, Andrea Eichenberger propõe fazer essa descrição com a fotografia. “Também é ocasião de desenvolver um trabalho de aprendizado da fotografia, porque as pessoas vão fotografar, a gente vai analisar junto essas imagens, vai ver o que funcionou, o que não funcionou”, conta.
Percursos de imigrantes africanos
No segundo volume da série “Percursos”, publicado no final do ano, Andreia Eichenberger foca em um único endereço do 11° Distrito de Paris: a habitação social “Les Sources”, que acolhe principalmente imigrantes.
O livro revela o percurso de 10 residentes do local, todos vindos de países africanos. O dispositivo é quase o mesmo da primeira etapa. Os participantes do Les Sources receberam uma câmera compacta analógica e foram convidados a fotografar cenas de sua vida cotidiana, mas receberam uma formação quase individual.
O alojamento social é um local provisório, onde as pessoas têm o direito de ficar no máximo três anos. “Nesses 3 anos, elas têm que tirar documentos, encontrar uma moradia, um trabalho fixo. Elas têm preocupações existenciais que são muito mais importantes do que um ateliê de fotografia e acabei fazendo esse projeto individualmente, encontrando as pessoas uma por uma nas casas delas”, lembra. Ela acha que isso, e o fato de ser também imigrante, acabou criando uma maior proximidade com os participantes do projeto.
Os moradores do Les Sources fotografaram muito o alojamento onde moram, parentes e amigos, mas também a rua, os locais de trabalho. Várias imagens têm efeitos ou elementos amadores, como o dedo na frente da câmera. Tem também fotos super estéticas, algumas tiradas por crianças. Para a fotógrafa, “o importante é que as pessoas se sintam representadas nesse conjunto de imagens”.
Dispositivo facilitador do diálogo
Cada série de imagens coloridas é acompanhada de relatos, ou melhor, de diálogos entre Andrea Eichenberger e os fotógrafos moradores que descobrem pela primeira vez as fotos que fizeram. Os textos complementam as fotos e ajudam a descrever a personalidade e a vivência de cada imigrante.
“As fotografias acabam sendo um pretexto para que as pessoas contem histórias. A partir do momento em que as pessoas vão fotografar os lugares que elas frequentam na cidade, elas vão contar suas histórias”, acredita.
Retratos em preto e branco feitos pela fotógrafa brasileira completam o percurso de cada morador. Andrea Eichenberger observou que as pessoas se sentem “valorizadas” com essas “fotografias em preto e branco, que saem da imagem que a gente está acostumado a ver, que é essa imagem de telefone...
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Grupo cearense Murmurando e Adelson Viana lançam álbum no Festival de Choro de Paris
4/4/2025
“De Cá Pra Lá" é o novo do novo trabalho do grupo Murmurando realizado em parceria com o maestro e acordeonista Adelson Viana. Os artistas cearenses lançam o álbum durante a participação no Festival de Choro de Paris, neste final de semana. O evento integra a programação do Ano do Brasil na França.
“Esse álbum é uma grande celebração. Em 2025, a gente celebra 20 anos do grupo e o maestro Adelson Viana faz parte da nossa história”, comemora Samuel Rocha, fundador do Murmurando. Ele lembra que o acordeonista foi o diretor musical do primeiro CD lançado pelo grupo, Assovio do Tiê. “A proposta foi unir as gerações e levar a música instrumental cearense para o mundo”, acrescenta.
As dez faixas do novo disco propõem um passeio musical por estilos diversos como o choro, baião, forró, entre outras influências de ritmos e compositores nordestinos como Dominguinhos e Hermeto Pascoal.
“Conheci esse grupo quando eram ainda muito jovens, mas já tocando uma música de muita qualidade. Percebi, maravilhado, tudo que esse grupo conquistou e resolvemos fazer essa conexão”, diz Adelson Viana, que assina a maioria das composições. No entanto, o maestro destaca o trabalho coletivo feito nos arranjos das músicas. “O resultado ficou muito bacana, estou feliz de lançar esse trabalho aqui na Europa”, afirma.
Além do lançamento do disco “De Cá Pra Lá”, durante as apresentações na programação do Festival de Choro de Paris, que acontece de 4 a 6 de abril, o grupo Murmurando e Adelson Viana também vão continuar a turnê com apresentações previstas em Lille, norte da França, e em Londres.
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Multi-instrumentista e compositora mineira é um dos destaques do Festival de Choro de Paris
4/4/2025
Raíssa Anastasia, flautista e compositora mineira, é uma das atrações do Festival de Choro de Paris, que acontece entre os dias 04 e 06 de abril. Conhecida por sua versatilidade musical e seu trabalho de pesquisa sobre mulheres compositoras, Raíssa se destaca não apenas como instrumentista, mas também como uma verdadeira “embaixadora do choro brasileiro”.
Raíssa Anastasia escolheu um repertório totalmente dedicado às mulheres compositoras para sua primeira apresentação na França, na 21ª edição do Festival de Choro de Paris. "Eu estou com um repertório só de mulheres compositoras de choro, que faz parte de uma pesquisa que eu venho desenvolvendo há um tempo. É importante promover esse repertório para que as pessoas conheçam e toquem mais músicas criadas por mulheres", afirmou na entrevista à RFI.
A pesquisa desenvolvida como acadêmica na Universidade Estadual de Minas Gerais surgiu da constatação de que as referências musicais do choro eram predominantemente de homens. “Conhecia Chiquinha Gonzaga, Luciana Rabello e, espera aí, só tem essas duas? Não, não é possível. Eu não sabia nomear outras mulheres e isso me deixou muito intrigada”, contou.
Durante sua investigação, a multi-instrumentista identificou mais de 100 composições de choro feita por mulheres, no Brasil e no exterior. Estimulada por um professor de música, ela participou de um curso voltado para estimular compositoras de choro e passou a criar seu próprio repertório. “Hoje, já tenho uns 30 choros”, comenta.
Raíssa também é diretora musical do grupo “Abra Roda Mulheres no Choro”, formado exclusivamente por mulheres em Belo Horizonte, para cobrir uma lacuna na cena musical da cidade. “Há uma ausência de mulheres na roda de choro, quando aparecia, era geralmente só solista. Então, há uma ausência de mulheres tocando violão, ausência de mulheres tocando cavaquinho, muito poucas tocando pandeiro. A tentativa é de unir essas forças para construir um trabalho de fortalecimento mesmo entre nós”, afirma. O trabalho do grupo também visa valorizar as criações de compositoras. “Esse trabalho é essencial para dar mais visibilidade às mulheres na música instrumental”, argumenta.
Projetos e disco
Além de seu trabalho com o grupo, Raíssa tem dois projetos próprios: "Raíssa Anastasia e Regional", focado em composições de choro, e "Raíssa Anastasia Quarteto", que explora uma linguagem mais livre da música brasileira. "Sempre fui coadjuvante em projetos de outros músicos, mas tomei coragem para criar meus próprios trabalhos. Quero ser livre para transitar entre diferentes estilos musicais", disse Raíssa. “Sempre me incomodou quererem me inserir numa caixinha. Eu quero poder ser livre para hoje tocar forró, amanhã jazz ou música de meditação, eu quero poder estar livre”, diz.
Raíssa Anastasia se prepara para lançar ainda este ano seu primeiro álbum, "Nascimento", com 12 faixas autorais, e planeja uma turnê pela Europa no próximo ano. "Quero mostrar o papel da mulher instrumentista na música brasileira e inspirar futuras gerações", concluiu.
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Brasileiro Rodrigo Ribeyro é selecionado para residência artística do Festival de Cannes na França
4/2/2025
O brasileiro Rodrigo Ribeyro faz parte dos cineastas escolhidos este ano para participar de uma residência artística organizada pelo Festival de Cannes. O paulista já iniciou sua estadia em Paris, onde vai se concentrar durante os próximos meses na fase de desenvolvimento de seu primeiro longa-metragem.
A cada ano, o Festival de Cannes escolhe doze jovens cineastas para uma residência artística realizada durante quatro meses e meio em Paris. Durante esse período, os diretores, que têm viagem e estadia paga pelos organizadores, podem se concentrar na elaboração de seus roteiros e no desenvolvimento de seu primeiro ou segundo longa-metragem.
“Estou muito entusiasmado. Espero que renda muito e que eu saia daqui com o projeto muito mais maduro”, disse Rodrigo Ribeyro em entrevista à RFI.
O paulista está na capital francesa junto com outros cinco diretores. “É um luxo, incrível. Cada um tem sua privacidade preservada para conseguir se conectar com sua inspiração, suas questões e desenvolver o projeto", conta. "Além disso, eles dão um apoio [financeiro] mensal para que a gente possa focar no projeto. São quatro meses e meio durante os quais eles cuidam integralmente da gente. É uma residência incrível, uma oportunidade única de vida”, celebra.
O cineasta ressalta que esse tipo de apoio é “fundamental”, principalmente no início do processo de criação. “Se essa fase não é apoiada, a gente nunca chega em projetos de qualidade”, aponta.
Durante sua estadia, Ribeyro vai trabalhar no desenvolvimento de seu primeiro longa, ‘Muganga’, que, como em seus projetos anteriores, se interessa pela relação entre o homem e a natureza. “Será uma pura ficção, que se passa na Serra da Cantareira, onde eu cresci”, conta.
Em 2021, o paulista já tinha ficado em terceiro lugar na premiação de curtas da Cinéfondation, programa também ligado ao Festival de Cinema de Cannes, com o curta “Cantareira”, que seguia a mesma temática. O projeto era seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) da Academia Internacional de Cinema, em São Paulo. “Esse apoio [que recebi] desde a participação do meu curta já foi essencial para que muitas coisas começassem a acontecer”, relembra.
Grandes nomes passaram pela residência
Além do brasileiro, foram acolhidos nesta fase da residência a húngara Flóra Anna Buda, o italiano Andrea Gatopoulos, a chinesa Xiwen Cong, o austríaco Simon Maria Kubiena e a norte-americana Constance Tsang. Eles participam do programa entre 15 de março e 31 de julho. Um segundo grupo, também de seis cineastas, se beneficia do mesmo programa na sequência.
O projeto La Résidence du Festival de Cannes já está em sua 49ª edição. Durante esses anos, o programa recebeu mais de 250 cineastas, oriundos de 60 países. Entre os participantes da residência, muitos fizeram carreira internacional de sucesso, como a argentina Lucrecia Martel, selecionada duas vezes para o Festival de Cannes (2004 e 2008), o belga Lukas Dhont, premiado em Cannes em 2018 e 2022, ou ainda o brasileiro Karim Aïnouz, laureado em Cannes e na Berlinale, entre outros.
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De Capão Redondo para o mundo: Lincoln Péricles leva “quebrada” brasileira a Paris e conecta periferias
3/31/2025
A obra do cineasta brasileiro Lincoln Péricles LK espelha o vigor e a criatividade da produção cinematográfica brasileira contemporânea. O diretor, roteirista e montador que retrata em seus filmes o bairro do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, está fazendo uma residência artística em Saint-Denis, na região parisiense, depois de ter sido um dos convidados de honra do Festival Regards Satellites. Ele conecta na França seu projeto de “Cinemateca da Quebrada” com a “Cinémathèque idéale des banlieues du monde” (A Cinemateca ideal das periferias do mundo).
Lincoln Péricles LK começou a filmar muito jovem, usando o telefone celular presenteado pelo patrão de sua mãe. Em 15 anos de carreira, produziu filmes, longas e curtas-metragens, que mostram a quebrada onde nasceu e mora, seus moradores e histórias. A obra de LK integra o território periférico do Capão Redondo à produção cinematográfica nacional.
O diretor já passou por vários festivais de cinema, venceu prêmios no Brasil e agora, pela primeira vez, exibe seu trabalho em Paris. O 3° Festival Regards Satellites, ou Olhares Satélites, de Saint-Denis, periferia de Paris, realizado no início de fevereiro, incluiu em sua programação vários filmes de LK, como “O Cinema Acabou”, “Mutirão: o Filme”, “Cohab” ou “Filme de Aborto”.
LK participou das sessões ao lado de outro cineasta brasileiro, Adirley Queirós, natural de Ceilândia, cidade satélite de Brasília. Os dois “estão na linha de frente de reformulação dos desafios políticos e estéticos da criação cinematográfica do Brasil” escreve Claire Allouche, programadora do festival.
Saudando calorosamente cada parceiro que cita, LK diz que essa experiência em Paris está sendo incrível. “O meu corpo sendo o território que eu habito antes do território físico, eu sempre acho muito incrível poder (me) conectar com pessoas de outras quebradas, de outros lugares do mundo”, indica.
Embaixador das quebradas
O paulista ressalta que ele e todos os moradores das quebradas sempre têm que “desfazer a imagem de Brasil que as pessoas têm” pelo mundo. Segundo LK, o Brasil em que ele vive “é um outro Brasil, a nossa classe é uma outra classe. Então, a gente se conecta com as pessoas que também são parecidas com nós (sic) e aqui tá sendo a mesma fita”.
O cineasta, que já esteve em outros países, como Quênia e Uganda, desenvolvendo projetos, concorda que exerce uma função informal de embaixador dessa produção cinematográfica periférica e contemporânea brasileira. No entanto, para internacionalizar sua carreira, conseguiu superar barreiras - de língua e de acesso a ações afirmativas - e destaca que representa um coletivo.
“Eu sou só mais um dessa grande quebrada que é o Capão Redondo. Só que se eu posso, de alguma forma, trazer mais dos meus junto comigo. De certa forma, eu me vejo como uma pessoa que está apresentando um outro Brasil, um outro painel de vozes, de poéticas que normalmente não têm acesso ou recurso para atingir outros países”, pondera.
Depois do Festival Regards Satellites, Lincoln Péricles iniciou uma residência artística em Saint-Denis. Ele realiza na periferia parisiense um filme com a mesma estética, entre ficção e documentário, que caracteriza sua produção. “Como eu disse, o meu corpo é o meu território. Cada lugar que eu acessar, vou conseguir produzir a poesia que eu produzo no quintal de casa ou em qualquer outro lugar do mundo”, afirma o cineasta.
LK salienta a necessidade de registrar, documentar as quebradas, e defende o cinema periférico como contraprova do processo de colonização, apagamento e violência do Estado contra o povo. Citando um amigo, ele também define sua estética como “magia”.
Os primeiros planos do filme realizado com os moradores e artistas locais serão exibidos na segunda etapa do festival Regards Satellite de Saint Denis, que acontece de 3 a 6 de abril, em parceria com a Mostra de Tiradentes.
Cinemateca ideal das periferias do mundo
A partir de maio, Lincoln Péricles deve finalizar o...
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"Sob o bolsonarismo, ‘Ainda Estou Aqui’ jamais teria sido produzido", diz Marcelo Rubens Paiva
3/28/2025
O roteirista, escritor, dramaturgo e gaitista Marcelo Rubens Paiva está em Paris para participar de um encontro na universidade Sorbonne Nouvelle nesta sexta-feira (28). Em entrevista à RFI, ele falou sobre seus novos projetos, após o sucesso mundial de "Ainda Estou Aqui", e comentou a decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que tornou réus, na quarta-feira (26), o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete aliados por tentativa de golpe de Estado.
Daniella Franco, da RFI em Paris
"Esse julgamento é, para mim, a trajetória do óbvio, é o que estava escrito", diz Marcelo Rubens Paiva. Para o autor de "Ainda Estou Aqui", obra em que foi baseado o filme homônimo de Walter Salles, não há dúvidas de que houve uma tentativa de golpe de Estado após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.
"Todo mundo que é bem informado, que não se informa apenas pelas fake news e mentiras das redes sociais, as pessoas que leem e que sabem o que está escrito nas entrelinhas, as pessoas que viram as imagens do que estava acontecendo em Brasília [em 8 de janeiro de 2023], viram que era evidente que aquilo iria acontecer", ressalta.
No entanto, o escritor não acredita que haja espaço para um novo regime autoritário no Brasil hoje, a exemplo do período militar que viveu e retrata no livro "Ainda Estou Aqui", quando seu pai, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva, foi preso e morto nas dependências de um quartel do Rio de Janeiro, em 1971.
"Há um esgotamento do ideal autoritário no Brasil. Não é mais uma tese popular. Uma pequena porcentagem de pessoas acreditava que a solução seria um golpe de Estado, e não fazia o menor sentido aquilo", diz, referindo-se ao projeto de Bolsonaro e aliados.
No entanto, Marcelo reconhece que a situação "assusta" e lembra que o golpe de 1964 ocorreu de forma similar ao planejado pela atual extrema direita brasileira, "sob iniciativa de uma minoria que acabou convencendo uma maioria". "Se nós estivéssemos hoje vivendo sob o bolsonarismo, certamente muitas desgraças estariam acontecendo. O 'Ainda Estou Aqui' jamais teria sido produzido e talvez eu estivesse preso ou exilado", ressalta.
Presença requisitada na Sorbonne Nouvelle
Marcelo Rubens Paiva está em Paris para participar de um encontro na universidade Sorbonne Nouvelle nesta sexta-feira, dentro do ciclo "Primavera Brasileira". Os ingressos para o evento estão esgotados há semanas. Segundo o co-diretor e idealizador do ciclo, o professor Leonardo Tônus, a vinda do autor de "Ainda Estou Aqui" foi um pedido dos próprios universitários.
"Para a minha vida literária, é algo inédito", comenta Marcelo. Segundo ele, a solicitação ocorre por dois motivos: o imenso sucesso do filme de Walter Salles na França, onde o longa-metragem registrou a maior bilheteria na Europa, e o interesse de jovens acadêmicos pelas consequências de regimes autoritários no mundo.
"Os estudantes estão muito preocupados e muito interessados nesses temas recorrentes atualmente em relação a regimes autoritários, à luta democrática, ao passado, à memória, à abertura de arquivos", afirma. "Esse tipo de assunto está despertando na juventude do mundo todo, inclusive do Brasil, muito interesse para ser debatido", reitera.
Além disso, para Marcelo, a curiosidade do público francês pelo filme, que segue em cartaz no país quase três meses após a estreia, se deve à universalidade da trama, que classifica de feminina e feminista. "É sobre uma mulher, com cinco filhos, injustamente viúva, e que tem que lutar para se reconstruir, educar seus filhos e recuperar sua dignidade", resume. "Se você olha hoje o que acontece com as pessoas na Hungria, em Gaza, em Israel, agora, nesse momento nos Estados Unidos, onde há gente sendo pega na rua para ser expulsa, na Argentina, no Irã, e em muitos outros países autoritários, você vê que o tema do filme não morre", completa.
Já sobre a polêmica matéria do jornal Le Monde, onde a atuação de Fernanda Torres foi classificada de "monocórdica" por um...
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Filme sobre a correspondência de Marcia Tiburi e Jean Willys no exílio é lançado em festival francês
3/27/2025
O longa-metragem "Hoje longe, muitas léguas", do diretor carioca Dado Amaral, estreou nesta semana no Festival do Filme Documentário de Paris, conhecido entre os franceses como Le Cinéma du Réel (o cinema da realidade, em tradução livre). Com o título em francês "Chansons d'exil", Amaral leva às telas a correspondência entre a filósofa e escritora gaúcha Marcia Tiburi e ex-deputado federal baiano Jean Wyllys, obrigados a se exilar na Europa devido às perseguições da extrema direita no Brasil.
Marcia Tiburi e Jean Wyllys leem as cartas que trocaram durante os quatro anos e meio em que se viram desterrados do Brasil, após a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018. Eles só retornaram ao Brasil em meados de 2023.
O périplo da ex-candidata do Partido dos Trabalhadores ao governo do Rio de Janeiro, para escapar das campanhas de ódio e das ameaças de morte de extremistas de direita, começou nos Estados Unidos, depois houve a mudança para Paris e ainda um período em Berlim. Jean Wyllys, deputado pelo PSOL, que já vivia sob escolta policial desde o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018, mudou-se para Barcelona.
Apesar da distância entre as duas cidades, os dois amigos se apoiaram nos momentos dolorosos do desenraizamento e questionaram o revisionismo que impregnou boa parte da sociedade brasileira, trinta anos depois do fim ditadura de 1964-85.
Em entrevista à RFI, o diretor Dado Amaral conta que conheceu Marcia Tiburi em uma reunião na capital francesa, apresentados por um amigo em comum. Na época, Dado sabia que Jean Willys tinha sido obrigado a renunciar ao seu terceiro mandato de deputado federal, devido aos ataques homofóbicos e à perseguição de bolsonaristas. Mas foi apenas na convivência com a escritora e filósofa que o cineasta se deu conta da gravidade da onda fascista na qual o Brasil foi arrastado.
O projeto do documentário nasceu antes da publicação do livro epistolar "O que não se pode dizer", de Marcia e Jean, lançado pela editora Civilização Brasileira. O filme tem a sabedoria de omitir nomes de generais golpistas, de líderes de movimentos fascistas e de fazer referências à família Bolsonaro. Concentra-se em levar à tela a torrente de emoções e revolta que marcaram os anos de exílio dos dois protagonistas.
Relato sóbrio
Com 1'17 minutos de duração, o público internacional tem a possibilidade de saber mais sobre esse período de retrocesso histórico do Brasil. Com sobriedade, Marcia e Jean descrevem os efeitos do fascismo em suas vidas. Falam de assédio moral, medo, vidas ameaçadas, trabalho e relações pessoais sacrificados, dificuldades financeiras, exílio, depressão e da imensa solidão no estrangeiro.
"Fiquei muito orgulhoso de estar nesse festival, que está em sua 47ª edição", destaca o cineasta. "Chansons d'exil" foi apresentado na sessão especial dedicada a produções de temática política contemporânea.
O longa começa com uma bela imagem externa de um cedro do Líbano plantado no Jardim Botânico de Paris (Jardin des Plantes), perto de um dos apartamentos onde Marcia Tiburi morou na capital francesa. A árvore, trazida de seu país de origem, foi plantada no jardim parisiense em 1734. Na terra nova, o cedro libanês criou raízes fortes: resistiu à queda da Bastilha (1789), à Primeira Guerra Mundial (1914-18), à ocupação nazista na Segunda Guerra (1938-45) e segue firme desafiando ameaças. Um símbolo de esperança.
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"Rezbotanik": curta-metragem de diretor mineiro tem estreia mundial em Paris
3/26/2025
O curta-metragem "Rezbotanik", com roteiro e direção do cineasta mineiro Pedro Gonçalves Ribeiro, teve sua estreia mundial nesta semana na 47ª edição do Festival do Filme Documentário de Paris, conhecido entre os franceses como Le Cinéma du Réel (o cinema da realidade, em tradução livre). O filme nasceu para contar a história de uma planta imigrante no Jardim Botânico de Lisboa, mas acabou revelando a potência da artista transgênero Rezmorah, de dupla nacionalidade brasileira e portuguesa.
A ideia inicial de Pedro Gonçalves Ribeiro era falar sobre uma árvore amazônica trazida pelos colonizadores portugueses de presente para o imperador. Porém, plantada no Jardim Botânico de Lisboa, a guapeba nunca deu flores.
Em entrevista à RFI, o cineasta mineiro conta ter conhecido a performer Rezmorah logo que chegou em Lisboa. Pedro foi "fisgado" por ela, fascinado pela intensidade com que Rezmorah encara a vida e sua transgeneridade. O cineasta e a artista trans têm em comum um forte laço com a natureza, com a liberdade, e compartilham a incompreensão de um país que destruiu o pau-brasil, que avança sem parar sobre os seus biomas, a ponto de promover uma poda constante, agressiva culturalmente, castrante, que impede os seus indivíduos de dar frutos.
"O filme e o roteiro são meus, mas tudo foi muito construído em conjunto com ela", afirma o diretor mineiro. A câmera segue os passos de Rezmorah pelo jardim, às vezes em movimentos frenéticos, enquanto a artista reflete sobre a vida. A protagonista vê o sexo como o oposto da morte. O parque é um refúgio "para um descarrego" no fim de longas noites em que se deixou consumir pelo fogo, até se esvaziar. Em meio às árvores e aos passarinhos, que a reconhecem, tudo coexiste. Há um equilíbrio no pluralismo da floresta e também em Rezmorah.
O curta experimental foi filmado em película com uma câmera Super 8 e aborda uma dualidade de Rezmorah. "Ela é ao mesmo tempo colonizadora e colonizada, e eu acho que a própria condição dela como pessoa queer, transgênero, trinária, como ela se define, tudo isso tem um reflexo também na natureza", explica o diretor e roteirista. "É um filme que fala de um jardim em Lisboa do ponto de vista brasileiro", conclui.
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“Manas”, de Marianna Brennand: ficção que traz à tona histórias reais de incesto e pedofilia na ilha de Marajó
3/23/2025
O choque e o horror do incesto e da pedofilia por meio da sutileza. Em “Manas”, primeiro longa-metragem de ficção de Marianna Brennand, a cineasta aborda a temática das agressões sexuais de crianças sem mostrá-las de forma explícita. A obra, que estreia nesta quarta-feira (26) na França, foi uma das escolhidas para abrir a 37ª edição do festival Cinélatino, em Toulouse.
Daniella Franco, enviada especial da RFI ao Cinélatino
Marcielli é uma garota de 12 anos que leva uma vida pacata e feliz junto aos pais, dois irmãos e irmãs em uma palafita na ilha de Marajó, no Pará. Entre a imensidão da floresta e das águas do rio Tajapuru, ela vê seu cotidiano de aventuras vir mundo abaixo a partir de sua primeira menstruação. A passagem da infância à adolescência a leva a ser intimada a dividir a cama com o pai, que também a obriga a participar de repentinas sessões de caça junto a ele, onde as agressões têm início.
Marcielli terá o mesmo destino da irmã mais velha, que depois de ser vítima de violências sexuais, deixou o lar por meio de um casamento para nunca mais voltar. Mas a protagonista de "Manas" vai lutar para que sua história não seja perpetuada. Nessa batalha pelo fim do seu martírio, também é explorada sexualmente fora do ambiente familiar, onde o silêncio da mãe, grávida, e o do irmão mais velho, é inabalável.
Em entrevista à RFI, Marianna Brennand revela que a história de Marcielli, apesar de ser ficção, é baseada em relatos que colheu ao longo de dez anos de produção de “Manas”. A ideia do longa teve origem em um encontro com a cantora Fafá de Belém, natural do Pará, que a apresentou a uma crueldade que jamais imaginou que pudesse existir. No início, a intenção era realizar um documentário, mas a cineasta teve de repensar seu objetivo.
“O filme aconteceu como ficção porque logo no início da pesquisa eu entendi que seria impossível para mim contar essa história de uma maneira documental”, diz a cineasta. “Isso significaria colocar mulheres e crianças que foram vítimas de traumas e de violências muito grandes na frente da câmera para recontar essas histórias. Isso faria com que elas vivessem esses abusos”, reitera.
Sem cenas de violência sexual
Outra escolha que Marianna classifica de “balizadora” neste trabalho foi jamais exibir qualquer cena de agressão sexual. “Como mostrar o que ninguém quer ver e o que não deveria acontecer?”, questiona. “A partir do momento em que eu mostro essa violência eu estou quase autorizando ela acontecer”, justifica.
A cineasta salienta que sua intenção não era “falar da violência gerando mais violência, mas a subtraindo”. Por isso, a escolha de Marianna foi abordar a cruel realidade vivida pela personagem Marcielli por meio de elementos cinematográficos que não tornassem as agressões sexuais visualmente explícitas.
Para a diretora, era essencial que a história fosse contada priorizando a dignidade das mulheres e seus corpos. “O ‘Manas’ mostra que é possível tocar na mais terrível das realidades com delicadeza e com ética, respeitando a nossa existência”, ressalta.
Um filme real e universal
A cineasta conta à RFI que quando deu início a seu trabalho, acreditava que os dramas vividos por meninas e mulheres na ilha de Marajó eram um problema local e que sensibilizariam um público limitado, essencialmente brasileiro. Mas, aos poucos, sua própria visão mudou.
“Através de uma história que é muito específica, dentro de um contexto geográfico e socioeconômico particular, a gente fala a todas as mulheres”, diz. “Infelizmente é raro você encontrar uma mulher que não tenha sofrido algum tipo de violência ao longo da vida. Então me interessava muito que através da Marcielli, do despertar e busca de liberdade para sair dessa situação, a gente pudesse também falar com outras mulheres”, complementa.
Além de uma narrativa e um roteiro impactantes, a cineasta também contou com um elenco brilhante, capaz de trazer ainda mais veracidade ao drama. Por isso Marianna fez questão que os atores mirins...
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“O cinema é uma arma que muda corações e mentes”, diz Karim Aïnouz, convidado de honra do Cinélatino, em Toulouse
3/22/2025
O cineasta cearense Karim Aïnouz é o convidado de honra da 37ª edição do festival Cinélatino, em Toulouse, no sudoeste da França. O evento realiza uma retrospectiva de sua filmografia e exibe grande parte de seus longas, com sessões seguidas de debates.
Daniella Franco, enviada especial da RFI a Toulouse
“Você diz que tem origem da Cabília, mas você não parece ser argelino, parece bem brasileiro”, observa a espectadora após a projeção de “Marinheiro das Montanhas”, em Toulouse, primeiro filme da retrospectiva de Karim Aïnouz a ser exibido nesta edição do festival Cinélatino.
Em plena manhã de sábado, a sala de cinema está quase lotada, e o público se recusa a ir embora depois do encerramento do filme. Os espectadores querem interagir com o cineasta brasileiro, muitos deles sobre a temática do filme e a busca das origens de Aïnouz no norte da África, outros sobre o sentimento de culpa da França décadas após a guerra da Argélia. Mas diante do tom acolhedor do cineasta, a conversa toma um rumo descontraído.
“Eu encontrei com você uma vez em Cuba, você me disse que estava indo para uma festa e nem me convidou”, lança outra participante do debate, levando a sala às gargalhadas.
Com o mesmo tom descontraído, Aïnouz conversou com a RFI, confessando estar cansado após ter acordado às 4h da manhã em Berlim e ter feito uma conexão em Bruxelas para chegar a tempo do primeiro debate em Toulouse, mas destaca estar muito feliz de voltar ao festival que acolheu seu trabalho desde o início de sua carreira. Foi aqui, na capital da região sudoeste da França, que o diretor cearense recebeu o principal prêmio do Cinélatino em 2010, junto com Marcelo Gomes, por "Viajo porque preciso, volto porque te amo".
Quinze anos e quase dez longas-metragens depois – muitos deles premiados nos maiores festivais mundo afora – Karim Aïnouz retorna a Toulouse e encontra espectadores animados a debater sobre a obra um tanto autobiográfica, diário de sua primeira viagem à Argélia em 2019. Coincidentemente, sua última vez no Cinélatino ocorreu por ocasião do lançamento de “Marinheiro das Montanhas”, em 2022.
“Toulouse é uma cidade muito acolheradora, tem um público muito curioso sobre o cinema latino-americano. É bonito estar em lugar onde as pessoas de fato conhecem o trabalho da gente. O festival criou uma cultura importante, de apreciação do cinema latino-americano, então é um prazer e uma honra estar aqui”, diz.
Contar histórias de impacto
“Tem outro lado que você se sente um pouco velho”, ri, ao falar sobre a retrospectiva de sua carreira realizada no Cinélatino. Aos 59 anos, Karim Aïnouz esbanja energia e criatividade, planejando “de forma mais livre” o futuro de sua trajetória na Sétima Arte.
“Eu fico muito feliz de olhar para trás e ver que foram muitos anos, mas foram muitos filmes. Então, tem a sensação de você estar no mundo e estar ativo, no sentido de estar contando histórias que têm impacto e que de fato fazem diferença”, diz.
Em Toulouse é visível o efeito de seu trabalho, tanto pela emoção do público diante de suas obras quanto pela influência que Aïnouz exerce sobre as jovens gerações de cineastas que participam do festival e não poupam elogios ao diretor cearense.
Para Aïnouz, essa é a força do cinema, uma arte que define como “uma arma que muda corações e mentes”. “Não é uma arma de destruição, mas de transformação”, reitera, lembrando o período difícil que o setor cultural brasileiro viveu com o governo Bolsonaro, mas superou.
Para os próximos anos de uma carreira em que Aïnouz pretende dobrar a quantidade de filmes que dirigiu até agora, os planos não são poucos. O cineasta revela que pretende abrir “um espaço de celebração” em Berlim, cidade onde está radicado. Além disso, por meio de sua produtora, a Cinema Inflamável, também quer colaborar com cineastas jovens e investir mais em cinema de gênero.
Segundo ele, essa liberdade permite projetar o futuro de sua carreira "de forma não-linear e mais irreverente”. Por isso, Aïnouz se...
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“Primavera Brasileira” na Sorbonne Nouvelle visa “reformular imagem” do Brasil na França, diz organizador
3/21/2025
A primavera chega à França e com ela um convite para uma imersão cultural, social e artística no Brasil contemporâneo. O evento a Primavera Brasileira da Universidade Sorbonne Nouvelle de Paris acontece até junho de 2025 e integra a temporada cruzada França-Brasil, celebrada este ano. A codireção e a organização é do professor de Literatura Brasileira da Sorbonne Nouvelle, Leonardo Tonus, para quem o evento visa “reformular a imagem do Brasil”, que ficou um pouco desgastada nos últimos anos.
A “Primavera Brasileira” é um evento “completamente novo”, sem ligação com a "Primavera Literária Brasileira", que Leonardo Tonus organizou em outra instituição universitária francesa de 2014 até a pandemia. “A Primavera Literária Brasileira era um evento itinerante, este não. Ele é sobretudo focado dentro da universidade, feito para os estudantes”, compara.
O público em geral também poderá assistir à vasta programação que “não abarca somente a literatura, mas outros eventos culturais”, como espetáculos de dança e música, aula de gastronomia, exibições de filmes, conferências e encontros com artistas e escritores brasileiros. Basta reservar um lugar no site do evento.
A Primavera Brasileira começou no início de março, com encontros com os escritores Godofredo de Oliveira Neto, da Academia Brasileira de Letras, e Rita Carelli. Até junho, “grandes nomes da cultura brasileira” vão passar pela Sorbonne Nouvelle.
Marcelo Rubens Paiva
Um dos destaques da programação será a presença de Marcelo Rubens Paiva, cujo livro foi o guia do roteiro do oscarizado “Ainda Estou Aqui”. Os ingressos para o encontro com o escritor, em 28 de março, já estão esgotados
A participação de Marcelo Rubens Paiva foi um pedido dos alunos de Leonardo Tonus. “Este ano estou trabalhando com os estudantes sobre a relação entre artes e ditadura e (esse) pedido surgiu em sala de aula”, conta o professor da cátedra de Literatura Brasileira da Sorbonne Nouvelle.
Outra colaboração importante dos estudantes foi o cartaz do “Printemps Brésilien”, idealizado pela estudante Melissa Giola, vencedora de um concurso realizado em toda a região metropolitana de Paris que contou com a participação de mais de 50 propostas. “Eu acho importante sempre pensar um projeto não como um festival clássico, como nós já temos vários aqui na França ou no Brasil, mas sobretudo como um projeto pedagógico”, ressalta Tonus.
Temporada cruzada
A “Primavera Brasileira” integra a programação da temporada cruzada França-Brasil, celebrada este ano dos dois lados do Atlântico. O organizador lembra que inicialmente “a ideia surgiu dentro da universidade”, e que só depois entrou em contato com os organizadores da temporada cruzada, de quem recebeu “todo o apoio institucional”. Mas “o apoio financeiro foi obtido de outras maneiras”, afirma.
Radicado na França há quase 40 anos, Leonardo Tonus ensina literatura brasileira nas universidades do país há 25 anos. Desde então, já participou de vários eventos que celebraram a cultura brasileira, como o primeiro ano do Brasil na França em 2005 ou as homenagens ao Brasil no Salão do Livro de Paris em 1998 e 2015.
Ele acredita que, de lá para cá, o olhar francês sobre o Brasil mudou. “Houve uma mudança, eu diria, radical no sentido de que deixamos de ser um pouco um país exótico, para ser um país, vamos dizer, mais para a contemporaneidade”, analisa.
Para Tonus, que foi um dos curadores do Salão do Livro de Paris em 2015, esses eventos de divulgação da cultura brasileira na França e da francesa no Brasil continuam pertinentes.
Fazendo um paralelo com um grande evento realizado na França no final dos anos 1980, logo após o fim da Ditadura Militar, ele diz que a atual temporada cruzada, decidida pelos presidentes Emmanuel Macron e Luis Inácio Lula da Silva, visa “reformular essa imagem do Brasil”. Segundo o professor, “como no período ditatorial, nos últimos anos, nós sofremos um pouco o desgaste da nossa imagem de marca”, fazendo referência ao governo...
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‘Baby’, de Marcelo Caetano: 'uma história que só poderia se passar em SP, mas que pode ser entendida no mundo todo'
3/18/2025
O segundo longa de Marcelo Caetano, “Baby”, estreia nesta quarta-feira (19) no circuito comercial da França. O premiado trabalho já conquista elogios da crítica e alavanca ainda mais a fase triunfal que vive o cinema brasileiro ao levar para as telonas o drama da rejeição e do abandono vividos por pessoas LGBTQIA+.
“O que você está fazendo na rua a essa hora? Fugiu de casa?”, pergunta o personagem Ronaldo (interpretado por Ricardo Teodoro) a Wellington (João Pedro Mariano), vulgo Baby. “Eles que fugiram de mim”, responde o protagonista da trama, um jovem de 18 anos, abandonado pelos pais enquanto cumpria pena em um centro de detenção juvenil em São Paulo.
A história fictícia do adolescente paulistano é “muito brasileira”. “É uma história que só poderia se passar em São Paulo, mas ela é contada de uma forma que pode ser entendida no mundo todo”, avalia Marcelo Caetano, que já viajou por boa parte do planeta com o filme.
No centro da trama, está a relação de Wellington com Ronaldo, profissional do sexo na faixa dos 40 anos que, na ausência do pai e da mãe do adolescente, vai ser tornar seu companheiro, guru e encarnar a figura paterna ausente. “Deixa de ser baby, vai”, recomenda Ronaldo em determinado momento do filme, sem saber que o apelido será incorporado pelo adolescente junto a homens mais velhos com quem se prostitui.
Como traduzir uma história tão comum ao público brasileiro a espectadores internacionais foi um desafio para Caetano, que lembra que o filme é uma coprodução francesa e holandesa. “Eu acho que o que eu aprendi um pouco no ‘Baby’ e que talvez no primeiro filme [Corpo Elétrico, de 2017] eu não soubesse muito como fazer, é que a gente tem que traduzir essas características da identidade nacional brasileira em linguagem cinematográfica”, diz. “A linguagem cinematográfica é universal e tem uma capacidade de alcance muito forte. A gente não precisa fazer concessões à cultura brasileira” para que o público estrangeiro compreenda a obra, resume.
Na França, onde “Baby” será exibido em 25 cidades, e onde João Pedro Mariano levou o prêmio de melhor ator na Semana da Crítica do Festival de Cannes, as pré-estreias foram marcadas pela surpresa do público pela escolha do clássico “Laissez-moi danser”, de Dalida para a trilha sonora. “Em todas as cidades onde eu estou indo apresentar o filme, me perguntam: ‘as pessoas escutam Dalida no Brasil?’”, ri.
“Os franceses não conseguem imaginar o alcance que a Dalida teve especificamente nessa geração gay com mais de 60 anos”, explica, referindo-se à sequência em que Wellington dança ao som desta icônica canção em um clube no centro de São Paulo, frequentado por homossexuais mais velhos. “Eu adoro como os franceses reagem, porque eles pensam que a escolha foi feita por causa da co-produção com a França. Mas foi justamente porque tinha um comentário importante sobre a diferença de idade entre o Baby e o personagem que ele conhece nessa noite”, diz.
Expandir o conceito de família
Rejeição, exclusão e abandono da própria família são situações comuns da comunidade LGBTQIA+ em todo o mundo. Mas, ao mesmo tempo, Caetano também explora em “Baby” a criação de laços e vínculos que mostram que “a solidão não é uma opção”.
“Eu acho que a gente está vivendo no Brasil uma disputa muito forte em relação ao conceito de família. Existem grupos conservadores, que eu posso até chamar de extrema direita, que estão tentando cristalizar a família numa só possibilidade: a família biológica, sanguínea, pai, mãe e filhos heterossexuais cis”, ressalta.
Por isso, para o cineasta, é preciso que o Brasil torne mais amplo o conceito de família. “Tem as famílias monoparentais, das mães que criam os filhos sozinhas, as famílias homoafetivas, de duas mulheres, de dois homens ou de duas pessoas trans, e você tem famílias de amigos, como a família de ‘voguing’ do Baby. Esse tipo de criação de família vai responder a muitas demandas de trabalho, econômicas, afetivas”, reitera.
Caetano também salienta a...
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Pesquisador publica livro na França revelando as raízes do “federalismo tropical” brasileiro
3/18/2025
O livro "Municípios e províncias no Brasil no tempo das monarquias: as origens de um federalismo tropical", de Daniel Magalhães Costa, recebeu o prêmio científico da editora Harmattan, que acaba de editá-lo na França. A obra, publicada por enquanto apenas em francês, é fruto de uma tese de doutorado em Ciência Política defendida na Universidade Paris Panthéon-Assas. O “federalismo tropical” seria um legado do conceito de “monarquia federativa” desenvolvido pelo autor.
O mineiro Daniel Magalhães da Costa é radicado na França e trabalha na Universidade Paris Panthéon-Assas, onde concluiu a tese de doutorado em 2022. A obra apresenta uma análise detalhada da administração territorial brasileira antes de 1889, isto é, antes da Proclamação da República e da adoção do sistema federativo brasileiro, mas também faz ponderações sobre o regime atual.
Desconstruir uma representação que entrou para o imaginário coletivo foi o ponto de partida do trabalho. Daniel Magalhães da Costa questionou a ideia de que o Império do Brasil, fundado após a independência de Portugal em 1822, era um estado unitário e centralizado como dita a historiografia clássica, com o imperador e o Parlamento dominando todas as províncias.
Ele pondera que se hoje, em 2025, a estrutura administrativa existente “ainda não consegue atingir a integralidade do território brasileiro, me parecia um pouco estranho que se pretendesse que isso fosse possível já no século 19”.
Ao propor uma nova leitura sobre a formação do Estado brasileiro, o autor mostra um país que, desde o século 19, tinha elementos de descentralização e autonomia local. “Eu tentei colocar em valor a ideia de que, sim, existia um estado central, existia uma administração central, mas isso não implicava a inexistência de outros poderes legislativos, seja a nível local ou provincial”, argumenta.
Lembrando a imensidão do território, na época pouco povoado, ele partiu da premissa de que o Brasil “é um país continental, impossível de ser governado a partir de um único ponto, e que é necessário que haja um certo espaço de liberdade de ação nos territórios mais próximos das populações, nos municípios ou nas províncias”, que os teóricos chamam de "autonomia", aponta o autor.
Monarquia federativa
O conceito de "monarquia federativa" surge como um elemento fundamental da tese. Costa explica que “durante essa pesquisa insistiu nas continuidades históricas”, e isso desde o Brasil Colônia, apresentado como um período bastante fragmentado. “As conclusões que cheguei foram que, na verdade, existem muito mais continuidades do que rupturas nessa história institucional brasileira e que a forma como o Brasil se constituiu em 1889, quando foi proclamada a República e quando foi adotada oficialmente a forma federal de estado, não foi uma completa inovação em relação ao que se praticava antes.”
Outro aspecto central de sua pesquisa é a continuidade territorial ao longo da história brasileira. Os mapas apresentados no livro revelam que os estados atuais correspondem, em grande parte, “às antigas províncias imperiais que, por sua vez, correspondem às capitanias do período colonial”.
A permanência, ou a continuidade sem ruptura, também é perceptível em relação às elites que comandavam o país. “As elites regionais entenderam, na virada do século 18 para o século 19, que juntas tinham interesses comuns e que juntas seriam mais fortes”, indica.
Legado
Para Daniel Magalhães Costa, o legado do regime imperial para o federalismo brasileiro é inegável. O Brasil, embora não fosse formalmente um Estado federal no século 19, já operava com uma estrutura que concedia o mesmo estatuto jurídico às províncias, independentemente de seu tamanho ou importância econômica. Essa caracterização permaneceu na transição para a República, moldando a organização política do país.
“O Brasil era e continua sendo composto hoje por estados, antes por províncias, bastante desiguais. Apesar dessas desigualdades, que já existiam e continuam existindo...
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Escritor e imortal da ABL, Godofredo de Oliveira Neto fala sobre a democratização da literatura
3/17/2025
O escritor, professor e imortal da Academia Brasileira de Letras, Godofredo de Oliveira Neto, esteve em Paris para uma série de eventos acadêmicos e conversou com a RFI sobre literatura brasileira, novos projetos, cultura e mudanças na ABL.
Godofredo de Oliveira Neto participou, na capital francesa, de eventos universitários do Ano do Brasil na França e falou sobre a popularização da cultura brasileira pelo mundo, especialmente por conta de “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, que ganhou o Oscar de melhor filme em língua estrangeira. O autor, que publicou em 2011 “Amores Exilados”, que trata da mesma temática, disse que viu o interesse pelo livro crescer por conta da popularidade da obra protagonizada por Fernanda Torres.
“Graças ao filme, toda uma época do Brasil, dos anos 70, veio de novo para a cena iluminada. (...) O livro estava numa segunda edição. Há uma proposta agora para uma terceira edição, mas o interesse é muito grande. Eu tenho recebido muitos convites para falar sobre o livro. (...) Acho que é um momento para se começar do zero e entender o que aconteceu, com as críticas internas, externas, com as avaliações das estratégias políticas, e ver também as dores e os sofrimentos”, disse.
Perguntado sobre o processo de criação de livros que potencialmente serão traduzidos e lançados em outros países, o escritor contou que, quando escreve, direciona o foco para o público brasileiro, mesmo que a obra acabe sendo lançada em outros idiomas, como é o caso também de “O desenho extraviado de Hieronymus Bosch”, que foi publicado na França antes de ser lançado no Brasil, mas que por aqui ganhou o nome de “Esquisse”.
“Penso sempre no Umberto Eco e no prefácio de ‘O nome da rosa’, em que ele diz uma coisa interessante: o escritor escreve sempre pensando no leitor ideal. E analisando essa frase, eu acredito que no meu caso eu escrevo pensando nos brasileiros”.
Oliveira Neto comentou ainda sobre seu último livro lançado, que fala da mitologia indígena. “Ana e a margem do rio” é narrado por uma menina que tenta passar para o papel, de forma escrita, os mitos que ouvia da avó indígena. A obra é voltada para o público infanto-juvenil.
Godofredo, que também é autor da fábula "Oleg e os clones", diz que é preciso “sair de si", principalmente quando se escreve para jovens ou crianças. "Esse é um conselho que eu dou para os jovens escritores e escritoras, que é se deixar levar e criar um narrador ou uma narradora que não é você, senão todos os interditos da vida vão te impedir de escrever”, aponta.
Vida de imortal
Em 2022, Godofredo de Oliveira Neto foi eleito para ocupar a cadeira de número 35 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele conta com orgulho como tem sido a vida de imortal.
“Foi uma grata surpresa, estou encantado. Acho que a ABL está em um momento muito bom de diálogo com a sociedade brasileira, uma abertura imensa. Não que não tenha havido antes, mas agora isso se potencializou. A participação de mulheres está aumentando, a programação cultural é intensa, com muitos convidados. (...) Não é uma eleição minha para mim. Eu tento fazer jus aos leitores e leitoras da minha obra”, disse ele, que prepara um novo livro.
O autor conta que desde “O desenho extraviado de Hieronymus Bosch”, fez uma mudança de forma na arquitetura do romance com relação aos anteriores, que se aplica a esse novo projeto. “Comecei uma mudança, digamos, estilística, da forma, e esse que estou escrevendo vai nessa mesma linhagem, quanto à sua formatação e sua arquitetura”, explicou.
Literatura inclusiva
Por fim, o autor opinou ainda sobre as mudanças positivas que vem observando na literatura brasileira que, para ele, está evoluindo de forma mais inclusiva.
“A literatura brasileira deu um salto muito grande, abriram-se novas editoras, produzindo mais. É uma fase muito rica e mais representativa da nação brasileira, fugindo um pouco do eixo Rio – São Paulo. A temática de trazer para frente, no protagonismo, franjas imensas da sociedade...
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Rita Carelli recebe prêmio na França pela versão francesa do romance “Terrapreta”
3/14/2025
“Terrapreta” foi traduzido por Marine Duval e publicado em 2024 na França pela editora Métailié. A obra foi recompensada pelo Prix Caméléon 2025 (Prêmio Camaleão) da Universidade Jean Moulin Lyon 3. Rita Carelli veio à França para receber a recompensa e para participar de uma série de eventos que integram a programação da temporada cruzada Brasil-França.
O Prêmio Camaleão recompensa anualmente, desde 2014, um romance estrangeiro traduzido para o francês. A escolha é feita por um júri composto por estudantes da Universidade de Lyon 3. “Terrapreta” (Terre Noire em francês), traduzido por Marine Duval, concorria com dois outros livros brasileiros: “Torto Arado”, de Itamar Vieria Junior, e “Preto e Branco”, de Fernando Molica.
A entrega da premiação aconteceu na última terça-feira (11), durante o Encontro Internacional da Francofonia, que este ano homenageou o Brasil e a língua portuguesa.
“Terrapreta”, que acaba de ganhar na França uma versão em livro de bolso, é um romance de formação que se passa entre São Paulo, o Alto Xingu e Paris. O livro conta a história de uma adolescente que viu a sua vida alterada subitamente depois da morte inesperada da mãe e vai morar com o pai antropólogo na Amazônia. Em contato com a cosmovisão dos indígenas, a jovem se transforma.
Rita Carelli acredita que todas essas camadas do livro atraíram os estudantes que leram e recompensaram “Terrapreta”. “O fato de ser uma personagem jovem, passando por um processo de luto, fazendo a sua passagem da adolescência para a vida adulta, tudo isso talvez tenha contribuído. Mas acredito que a novidade deles entrarem em contato com esse mundo indígena do Alto Xingu, tudo isso trouxe para eles uma novidade muito grande que os deixou muito interessados, muito surpresos”, conta.
Projeto político
Os estudantes de Lyon não foram os únicos que ficaram impressionados com o romance de Rita Carelli. A obra concorre a um outro prêmio estudantil, o Fronteiras da Universidade de Lorraine, cujo vencedor será anunciado em 5 de abril.
“Ter essa apreciação dos estudantes me deixa muito feliz porque esse livro é um projeto também político, posso dizer assim, sobre esse desejo meu de talvez diminuir minimamente o tamanho da ignorância que a gente ainda conserva sobre as populações autóctones no Brasil, suas tradições, o seu jeito de viver e de estar presente no planeta”, pondera.
A autora indica que também aborda essa “ignorância” com o público francês. “Eu brinco com os estudantes, com o público francês, que se eles acham que esse mundo é muito exótico, que eles saibam que para os brasileiros também é.” Ela ressalta a “herança de um projeto político de apagamento dessas culturas” no Brasil, mas acredita que “o interesse está crescendo sobre esses temas, sobre essa presença indígena tão forte no Brasil, tão poderosa”.
Carelli, que coescreve livros com Ailton Krenak, colabora com essa tendência. Mas, segundo ela, essa onda é gerada especialmente com “a produção de autores, estudantes, artistas, cineastas, doutorandos e mestrandos indígenas que estão produzindo seus conteúdos e fazendo essas pontes entre esses dois mundos”.
Ponte França-Brasil
Parte da família Rita Carelli é francesa e ela tem uma relação forte com o país, onde morou durante um tempo para estudar mímica. O tio da autora, Mario Carelli, foi professor da Sorbonne e é autor de um livro seminal “Culturas Cruzadas”, sobre a história das trocas culturais entre a França e o Brasil. “Além de tudo, tem uma ancestralidade aí que estudava justamente essa relação tão próxima e profícua entre a França e o Brasil”.
Neste ano de 2025, os dois países voltam a celebrar essa relação histórica. Rita Carelli também está na França para participar de uma série de eventos da temporada cruzada Brasil-França. Depois de Lyon, participa de uma mesa redonda nesta sexta-feira (14) na Universidade Sorbonne Nouvelle-Paris 3, e no sábado (15) estará no Salão do Livro Africano, que este ano homenageia a literatura brasileira.
Rita...
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